sábado, 30 de janeiro de 2016

Os celulares e a sociabilidade

Smartphone é o principal instrumento de acesso à web do brasileiro

Pesquisa da Millward Brown patrocinada pela Zenvia mostra que o Facebook impera entre os conteúdos mais acessados, com os entrevistados entrando na rede social até quatro vezes por dia.


ilustra pesquisa zenvia millwardbrownO Brasil é o maior mercado de Internet móvel da América Latina, o smartphone tem a preferência de 90% dos usuários de dispositivos móveis, e 58% dos entrevistados continuam utilizando planos pré-pagos. As conclusões são da pesquisa “MMA Mobile Report 2015”, patrocinada pela Zenvia, líder brasileira em serviços de mobilidade, e desenvolvida pela Millward Brown em parceria com a Mobile Marketing Association (MMA).

O objetivo do levantamento foi compreender o perfil, o comportamento e as preferências dos usuários de Internet móvel no Brasil. Participaram do estudo 1,2 mil pessoas com acesso à Internet, com idades entre 14 e 55 anos, das classes A, B e C, em nove cidades brasileiras. Os entrevistados foram divididos em quatro categorias: millenials (de 14 a 24 anos), gen Y (de 25 a 34 anos), gen X (de 35 a 44 anos) e boomers (de 45 a 55 anos).

Entre os usuários de dispositivos móveis, o smartphone é o aparelho mais comum (90%). O sistema operacional mais usado é o Android (78%) e o fabricante mais popular é a Samsung (34%). O estudo revela que mais da metade dos usuários têm plano pré-pago (58%), gastam de R$ 10,00 a R$ 70 com créditos mensalmente, e 60% possuem planos de dados.

De acordo com a pesquisa, 93% dos entrevistados passam mais tempo conectados em suas residências, onde a conexão é melhor. No entanto, mais da metade das conexões (58%) já é feita pelo plano de dados. A categoria millenials é a mais conectada, fica em média quatro horas e meia por dia navegando na Internet via celular e, consequentemente, ela também é a mais exposta à publicidade em dispositivos móveis (57%).

Um dos destaques da pesquisa é o relacionamento dos usuários com os seus dispositivos. Nenhuma das categorias afirma que vive sem Internet, e a rede é indispensável para todas as gerações. Os brasileiros possuem em média 20 aplicativos instalados, mas os sete principais são utilizados para conversar e socializar. A rede social mais acessada entre todos é o Facebook, com um mínimo de três a quatro acessos diários em todas as idades, e também é por ele que as marcas conseguem se relacionar mais com seus públicos na Internet.

Os mais jovens utilizam o celular para comprar roupas, calçados e acessórios, e são os principais consumidores de entretenimento (ingressos, filmes, séries e música). Já os mais experientes compram vestuário, mas também gostam de adquirir itens de tecnologia e passagens aéreas. (Com assessoria de imprensa)

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

A balcanização da internet pode começar no Brasil

Tentativas de cercear os direitos digitais dos brasileiros contrastam com a fama do país de bastião da liberdade na rede


Duas pessoas usam seus celulares em frente ao logo do WhatsApp em Londres.
Bloomberg
Uma juíza de São Paulo chocou o Brasil em dezembro ao exigir que todas as operadoras de telefonia do país bloqueassem por 48 horas o acesso à plataforma de mensagens instantâneas WhatsApp. A decisão causou espanto, mesmo em um país já acostumado com constantes escândalos. Aproximadamente doze horas depois do início do bloqueio, outro juíz reverteu a situação. Mas, independente disso, milhões de brasileiros ficaram compreensivelmente frustrados e defensores de liberdades civis do mundo inteiro demonstraram sua preocupação.

Brasileiros levam mídias sociais a sério. O país tem uma das percentagens de presença na internet que mais cresce no mundo. Ferramentas como Facebook, Twitter e o próprio WhatsApp não são usadas apenas para expressar opiniões - os aplicativos são um meio de comunicação alternativo acessível, face aos preços exorbitantes cobrados pelas empresas de telecomunicação do país por serviços de mensagem similares, o que garante sua popularidade. Prova disto, um estudo recente levantou que o WhatsApp é utilizado por 93% dos brasileiros com acesso à Internet.

A explicação oficial dada pela juíza para suspender o WhatsApp é o fato de o Facebook, empresa dona do aplicativo, ter se recusado a cumprir uma ordem judicial para fornecer informações pessoais e registros de conversas ao Ministério Público para uma investigação criminal. O juiz que reverteu a decisão sugeriu que, no lugar do bloqueio, fosse aplicada uma multa à empresa. Independente da gravidade dos crimes investigados - que envolvem investigações sobre homicídios e tráfico de drogas - a juíza foi imprudente em sua decisão e ameaça liberdades básicas dos brasileiros.


O ato era, em certa medida, previsível e juízes estão longe de ser a única ameaça ao mundo virtual brasileiro. Tramita no Congresso Nacional um novo projeto de lei (PL 215/15) que, se aprovado, vai reverter importantes disposições do Marco Civil da Internet, aprovado em 2014. Aliado a outra legislação sobre segurança de dados, esperava-se que o Marco Civil garantisse direitos básicos. Mas, desde o início, vários procuradores e policiais civis foram contra, argumentando ser uma provisão inconstitucional. Indo na sua linha, o PL 215/15 tornaria mais fácil o acesso a informações pessoais de cidadãos sem a necessidade de uma ordem judicial.

O PL parece ter sido tirado de um livro de George Orwell. Chamado de "PL Espião" por quem o critica, o projeto exigiria que os brasileiros registrassem seus dados pessoais (como endereço de casa, número de telefone e CPF) para acessar páginas na internet. Seus apoiadores defendem que isto está em total conformidade com o artigo quinto do primeiro capítulo da Constituição Brasileira, que veda o direito ao anonimato na livre manifestação de opinião. Além disso, sujeitaria as pessoas a acusações de difamação por qualquer comentário feito nas mídias sociais. Também impactaria a livre expressão de oposição política - oportunidade de silenciamento que seria bem recebida por alguns dos políticos menos populares.

Um dos articuladores-chave do PL Espião é Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, também um dos principais oponentes do Marco Civil. À época de sua votação, Cunha uniu-se à bancada evangélica do Congresso para tentar derrubá-lo. Para complicar a situação, Eduardo Cunha está sendo investigado pela Polícia Federal por corrupção e recebimento de propina, acusações a que nega veementemente. Independentemente das ações de Cunha, grupos como o Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS) e o Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getúlio Vargas (CTS-FGV) argumentam que a nova lei seria provavelmente considerada inconstitucional
Essas tentativas de cercear os direitos digitais dos brasileiros contrastam com a fama do país de bastião da liberdade na internet. Ao aprovar o Marco Civil, o Governo sinalizava ao mundo inteiro que leva a sério a neutralidade da rede e a soberania digital, iniciativa aplaudida por vários, incluindo Tim Berners-Lee, fundador da World Wide Web. Basicamente, o país declarou que os princípios democráticos da liberdade, privacidade e direitos humanos se aplicavam da mesma maneira no mundo físico e no ciberespaço.

A presidente Dilma Rousseff também projetou a agenda da liberdade digital para a arena global. Sua popularidade cresceu depois do escândalo de espionagem da National Security Agency (NSA), agência americana que estava espiando seus emails e telefonemas em 2013. O tema foi também central em seu discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas no mesmo ano. Em 2014, o Brasil organizou o NETmundial, uma conferência sobre governança da Internet. E em novembro, o Brasil foi palco do Fórum sobre Governança na Internet, apresentando sua "abordagem de múltiplas partes interessadas" como um modelo a ser replicado e adotado em outros países.

Apesar do Whatsapp já ter voltado ao ar, o estrago já está feito. O cerceamento de liberdades fundamentais pelas autoridades brasileiras revela um choque de prioridades contraditórias. O Brasil parece ser um país que aspira ao mesmo tempo às liberdades digitais e à expansão do estado de vigilância. O país se orgulha de sua internet livre e aberta, mas sua polícia reprime ativistas virtuais com uma regularidade alarmante.

Enquanto isso, o país tem progressivamente militarizado sua infraestrutura de cibersegurança e ciberdefesa. Consideremos, por exemplo, as formas por meio das quais o Brasil respondeu aos grandes protestos de 2013. A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e o Comando de Segurança Cibernética do Exército (CDCiber) vigiavam manifestantes civis e políticos. Além disso, o Governo brasileiro constantemente entra em conflito com empresas de tecnologia como o Google pelo acesso a informações pessoais de usuários. Todo Governo tem de lidar com tensões semelhantes, mas as políticas públicas devem se esforçar para encontrar um equilíbrio entre a proteção das liberdades civis, de um lado, e o uso excessivo do aparato de segurança, de outro.

O Governo brasileiro também vive uma relação complicada com empresas de internet sobre acesso a dados pessoais de usuários. Em 2012, a polícia prendeu o diretor do escritório do Google no Brasil por ter se recusado a tirar do Youtube um vídeo onde um político era xingado. Em 2014, um juiz também ordenou a suspensão de aplicativos da Apple, Google e da Microsoft que estariam envolvidos em casos de ciberbullying. Apesar da Sinditelebrasil, associação que une empresas do setor, não ter iniciado nenhum movimento de confrontação aberta, pelo menos uma companhia declarou publicamente que considerou a decisão desproporcional.

Com sua democracia recente, o brasileiro é especialmente sensível a cerceamentos de suas liberdades fundamentais, mesmo as digitais. O Ato Institucional no. 5 (AI-5), decreto que suspendeu o habeas corpus após o golpe militar de 1964, é um bom exemplo, do qual não devemos esquecer. Políticos e juízes brasileiros conhecem melhor que ninguém o perigo de se cercear direitos fundamentais. A liminar judicial do mês passado, junto com propostas retrógradas como o PL 215/15, estabelecem um precedente perigoso, tanto interna quanto internacionalmente. Ninguém esperava que a balcanização da internet fosse começar no Brasil. Todos esperam que esse tipo de decisão se confirme como exceção e não como regra no país.

Robert Muggah é o Diretor de Pesquisa do Instituto Igarapé no Rio de Janeiro, Diretor de Pesquisa e Políticas da Fundação SecDev e membro do Conselho da Agenda Global sobre Fragilidade, Conflito e Violência do Fórum Econômico Mundial. Nathan B. Thompson é pesquisador do Instituto Igarapé.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Revolução, juventude e mudança

Cinco anos após dar início à Primavera Árabe, ativismo jovem segue em ebulição na Tunísia




Revolução que depôs então presidente Ben Ali deu 'margem de liberdade' para que população continue lutando por seus direitos, dizem ativistas
Cinco anos após a derrubada do presidente Ben Ali, que havia passado os últimos 23 anos no poder na Tunísia, o país vive hoje uma ebulição de iniciativas cidadãs que estavam antes silenciadas pelo antigo regime.

“A noção de medo foi revisada pelos tunisianos. Saímos às ruas e viramos agentes sociais. A revolução foi a minha inspiração. Depois dos protestos de 2011, fiquei com mais coragem para lutar pelos meus direitos”, conta Asma Mansour, 31, fundadora do Centro Tunisiano para Empreendedorismo Social (CTES, na sigla em francês).

Asma começou os projetos do CTES no mesmo ano da revolução. Ela trabalhava em uma rádio na internet quando começaram os primeiros protestos. “Um dia, eu vi um post no Facebook que falava sobre empreendedorismo social. Foi o meu primeiro contato real com alguém dessa área”. A postagem era de Hatem Mahbouli, um tunisiano que estava fazendo um estágio em um fundo de investimento social nos EUA. Logo depois, conheceu Sarah Toumi, franco-tunisiana que também já trabalhava na área de empreendedorismo social.

Sandro Fernandes / Opera Mundi

Com mais dois amigos, Asma Mansour fundou um centro de empreendedorismo para jovens tunisianos


Os três jovens fundaram o CTES – nenhum deles tinha 30 anos na época.

A jovem relata um pouco a sua paixão pelo trabalho associativo. “Tenho interesse em tudo que tenha um impacto social. Algo que toque as pessoas e que faça a diferença. Eu sinto muita felicidade quando vejo que o meu trabalho contribui para a felicidade de outras pessoas. Não é caridade, como muita gente acha. Eu me sinto feliz também com este tipo de atividade”.

Asma teve uma educação conservadora. Sua família acreditava que as jovens meninas deveriam sair da escola e ir direto para suas casas e as mulheres adultas deveriam apenas cuidar da casa.
Na universidade, ela começou a trabalhar como voluntária, mas sem perspectivas de que este tipo de trabalho poderia ser seu principal labor.

“Antes da revolução, eu não achava que seria possível fazer isso (trabalho associativo) o tempo todo, como uma profissão. Eu achei que trabalharia em uma empresa. Mas com a revolução e a movimentação social que surgiu, eu vi que seria possível trabalhar em algo que contribuísse para toda a sociedade.” O trabalho do CTES é de criar serviços e possibilidades para ajudar o empreendedorismo social. “A ideia é apoiar os jovens. Os jovens geralmente não têm este espaço aqui na Tunísia. A gente permite que as pessoas recomecem depois de seus erros. E é possível fazer com que esta cadeia cresça e cause mais e mais impacto”.

O centro oferece treinamento, orientação e ajuda com a captação de recursos, fazendo o papel de intermediário entre os empreendedores sociais e empresas que querem expandir a sua responsabilidade social.

O centro também coloca os empreendedores sociais da Tunísia em contato com financiadores internacionais.

Durante a elaboração da nova Constituição do país, mais de 6 mil cidadãos e 300 organizações da sociedade civil se reuniram para debater o documento. O caloroso debate envolvendo a população acabou atrasando a conclusão da Carta. Em vez de ficar pronto em um ano, conforme anunciado, só entrou em vigor três anos depois da criação da Assembleia Constituinte. A nova Constituição prevê a igualdade de gênero, a proteção aos recursos naturais e o combate à corrupção.

"Se não fossemos nós, como sociedade, na rua, teriam feito qualquer Constituição. Seria mais uma revolução fracassada, como tantas outras, como as dos nossos vizinhos", conclui Asma.


Ativismo LGBT
A revolução árabe também abriu espaço para ativismos em esferas consideradas tabus na sociedade tunisiana. Ali Bousselmi, 27, é o fundador do grupo LGBT Mawjoudin ("Nós existimos", em árabe) e explica as mudanças sociais que a revolução possibilitou. “Até 2010, praticamente apenas os blogueiros faziam pressão contra o regime (de Ben Ali). Os protestos deram um gás ao ativismo social, em todas as áreas”, diz Ali. "Se a revolução não tivesse acontecido, provavelmente não teríamos esta associação ou não estaríamos aqui falando sobre direitos humanos. A revolução facilitou muitas coisas. Temos que protegê-la a todo o custo.”

Sandro Fernandes / Opera Mundi

Ali Bousselmi fundou grupo LGBT Mawjoudin ("Nós existimos", em árabe)


Ali diz que não é nem pessimista nem otimista. “Sou realista. É um pouco frustrante quando a gente vê o governo, em nome da segurança, te privar dos seus direitos. E estes atentados contra a intimidade me deixam muito triste. Estas coisas cotidianas foram mudanças negativas. Mas há pessoas que resistem e isso nos dá vontade de trabalhar, de continuar lutando.” A presença dos jovens no ativismo social também é um destaque pós-revolução para Ali. “Eu não estava muito motivado a ficar no ativismo porque não havia muitos jovens. Havia uma visão muito arcaica. Depois da revolução, houve uma explosão de associações, muitas pessoas engajadas. E eu decidi participar".
Ali completa: "O que a gente ganhou com a revolução é que, apesar de todos os problemas, temos uma margem de liberdade. O ativismo não está proibido, nem mesmo o ativismo LGBT, tema que ainda representa um tabu”.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Feliz ano novo!

Merendeiras da periferia de SP vão ao Senegal dividir experiências sobre alimentação escolar




Elas ganharam concurso da Prefeitura de São Paulo com um 'arroz colorido' e foram a Dacar mostrar o que fazem para a comunidade escolar local

Merendeiras Maria Aparecida e Claudia de Jesus Silva durante atividade em Dacar

Ainda é São Paulo capital, mas Parelheiros — a cerca de 40 quilômetros da praça da Sé — assemelha-se a uma cidade do interior. Em vez de prédios, congestionamento e poluição, o bairro tem vegetação nativa, nascentes e uma importante produção familiar de alimentos. Distante do centro e com poucas opções de transporte público, é também uma das regiões mais pobres da cidade, onde o rendimento médio mensal é de R$ 888,32 por pessoa, segundo dados do IBGE.


No coração de Parelheiros, no final da rua Cinco, sem saída, está a escola de onde saíram as vencedoras do concurso “Educação Além do Prato”, realizado pela Prefeitura de São Paulo, que premiou as melhores receitas apresentadas pelas escolas da rede municipal. Juntas, a merendeira Maria Aparecida Gomes Martins e a professora Sonia Maruso Ribeiro cruzaram o Atlântico para apresentar, a convite da ONU, a receita vencedora de arroz colorido (veja a receita no fina da reportagem) em Dacar, capital do Senegal, durante o Encontro Regional da África Ocidental sobre Segurança Alimentar.

A ideia do concurso surgiu no DAE (Departamento de Alimentação Escolar) como uma tentativa de aproximar a comunidade escolar do debate em torno da necessidade de uma alimentação saudável. No total, 292 escolas — desde creches até EJAs (Educação de Jovens e Adultos) e escolas indígenas — participaram da disputa e foram oferecidos três níveis de premiação: viagem ao Senegal (1º lugar), viagem a Brasília (2º lugar) e jantar em um renomado restaurante de comida brasileira (3º lugar).

Prêmio outorgado às escolas vencedoras| Foto: Vanessa Martina Silva
Prêmio outorgado às escolas vencedoras
Foto: Vanessa Martina Silva


Além de Maria Aparecida e Sonia da Emei (Escola Municipal de Educação Infantil) Recanto Campo Belo - Professora Dirce Zillesg Borges, as vencedoras do CEI (Centro de Educação Infantil) Penha Bom Jesus — a merendeira Claudia de Jesus Silva e a pedagoga pós-graduada em educação infantil e cultura Vivian Brandão Polli — também participaram da viagem a Dacar.

No que se refere à alimentação escolar, o Brasil é uma referência mundial, sobretudo no continente africano, que está buscando implementar modelos para melhorar a oferta de alimentos. Por essa razão, a ONU convidou as vencedoras do programa para expor suas experiências para ministros de Educação de 27 países da África Ocidental reunidos em Dacar entre 8 e 12 de junho.

Sobre a apresentação, Maria Aparecida lembra que foi uma experiência "muito boa". "Ouvimos muita coisa e a nossa apresentação… alguns choraram quando falamos que aqui as crianças fazem três refeições por dia. Lá eles comem uma ou duas vezes só."

Já Sonia ressalta que “alguns países já têm políticas públicas formuladas e estão implantando a alimentação escolar. Outros ainda dão um voucher para que as famílias comprem alimentos. Com nossa experiência, procuramos dar esperança e eles já começaram a se organizar em rede. Isso é importante”.


Reprodução/Youtube

Crianças participaram de oficinas culinárias, confecção de jogos e conscientização para evitar desperdício de alimentos


Após o evento, em 12 de junho, 21 países aprovaram a criação de uma Rede Africana de Alimentação Escolar, cujo objetivo é estimular e aprimorar as políticas de alimentação escolar e o aumento do orçamento dos países destinados a esse fim.

Senegal
Participar do projeto foi fácil. Difícil foi convencer Maria Aparecida, que trabalha há 12 anos na Emei Recanto Campo Belo, a receber o prêmio. "Eu não queria ir. Era longe e eu estava morrendo de medo, nunca tinha andado de avião”, conta. Mas, o incentivo das outras merendeiras, das professoras e direção da escola a fez mudar de ideia.


WFP/Mariana Rocha

Em Senegal, mães se revezam durante a semana para preparar a alimentação das crianças



Para a pedagoga, especialista em educação infantil e pós-graduada em docência superior Sonia, a questão não era o avião, nem o medo da viagem, mas o ceticismo. “Só caiu a ficha que eu iria no dia que eu estava no aeroporto. Até então era algo que eu não conseguia sentir”, disse.





WFP/Mariana Rocha

Delegação brasileira conheceu a escola primária de Oudiour, localizada a cerca de 160 km de Dacar, no Departamento de Gossas



Questionada sobre o que mais chamou sua atenção na viagem, Sonia diz que foi a aridez do ambiente e a falta de natureza. “Eu vi somente uma flor, a primavera, na ilha de Gorée, e apenas uma árvore verde. Dentro da escola tinha uma imensa árvore e as conversas aconteceram embaixo dela”.

O bate-papo ficou na memória, conta. A experiência da escola de Parelheiros, que há anos mantém, com o auxílio de professores e alunos, uma horta nas dependências do prédio, inspirou a comunidade local. Mas, as dificuldades que enfrentam são muitas, afirma Sonia. “O prefeito de Oudiour disse: ‘eu tenho uma escola; tenho um espaço de três hectares; tenho um poço; tenho uma bomba que vai a 20 metros e tenho água, que está a 100 metros. Eu não quero dinheiro, quero uma bomba’. Até hoje a gente se comunica por WhatsApp [com as outras colegas que também viajaram] e se pergunta: ‘e a bomba?’”, conta.


Vanessa Martina Silva

Morango, alface e couve são algumas das produções da horta da Emei Recanto Belo



Esperança
“Foi uma experiência que marcou a minha vida. Entrou uma Sonia no avião e saiu outra”, avalia a professora. “Tem questões que vieram comigo para o Brasil, que me tiram o sono. Temos uma riqueza muito grande que não aproveitamos e até desperdiçamos. Então se eu colocar lado a lado Brasil e Senegal e olhar o desperdício, ele soa como uma afronta”.

Depois de tudo o que viu e viveu, Sonia não considera que tenha recebido do programa uma premiação. “Eu não vejo como um prêmio, vejo como uma missão. Não sei se eu vou voltar para Senegal, mas eu gostaria de voltar e ver a horta da escola verdinha…”.

A mesma percepção é compartilhada por Maria Aparecida: “Não me arrependo. Se for para ir de novo, eu vou. Eu volto pra África”. E conclui, observando que “a gente reclama muito, mas no fundo somos ricos perto do que vimos lá. Na nossa escola às vezes falta uma salsinha e eu reclamo, mas lá o tempero é só pimenta. Aqui as crianças têm três refeições por dia, lá uma ou duas apenas”.



Receita Arroz Colorido

Maria Aparecida e o arroz colorido| Foto: WFP/Mariana Rocha
Maria Aparecida e o arroz colorido| 
Foto: WFP/Mariana Rocha

Ingredientes:
- 20 quilos de arroz cozido com óleo, temperado com alho, cebola e sal;
- 20 unidades de cenouras grandes cozidas na água e sal;
- 15 unidades de beterrabas médias cozidas na água e sal;
- 8 maços de couve ou espinafre aferventados na água e sal;
Para decorar:
- 2 quilos de tomate picado;
- 1 maço de salsinha picada para decorar;
Opcional:
- 10 unidades de ovos cozidos fatiados
Modo de preparo:
Dividir o arroz em três partes iguais. Passar separadamente as cenouras, as beterrabas e o espinafre cozidos na peneira ou no liquidificador. Após misturar a cenoura no arroz, reserve e faça este procedimento com os outros ingredientes. Depois monte em uma assadeira cada parte do arroz em camadas sobrepostas ou coloque-os em camadas conforme as cores, lado a lado. Decorar com tomate e salsinha picados e levar ao forno para gratinar. Se desejar, coloque fatias de ovos cozidos sobre a preparação final, para decorar.