Smartphone é o principal instrumento de acesso à web do brasileiro
Pesquisa da Millward
Brown patrocinada pela Zenvia mostra que o Facebook impera entre os
conteúdos mais acessados, com os entrevistados entrando na rede social
até quatro vezes por dia.
O
Brasil é o maior mercado de Internet móvel da América Latina, o
smartphone tem a preferência de 90% dos usuários de dispositivos móveis,
e 58% dos entrevistados continuam utilizando planos pré-pagos. As
conclusões são da pesquisa “MMA Mobile Report 2015”, patrocinada pela Zenvia,
líder brasileira em serviços de mobilidade, e desenvolvida pela
Millward Brown em parceria com a Mobile Marketing Association (MMA).
O objetivo do levantamento foi compreender o perfil, o comportamento e
as preferências dos usuários de Internet móvel no Brasil. Participaram
do estudo 1,2 mil pessoas com acesso à Internet, com idades entre 14 e
55 anos, das classes A, B e C, em nove cidades brasileiras. Os
entrevistados foram divididos em quatro categorias: millenials (de 14 a
24 anos), gen Y (de 25 a 34 anos), gen X (de 35 a 44 anos) e boomers (de
45 a 55 anos).
Entre os usuários de dispositivos móveis, o smartphone é o aparelho
mais comum (90%). O sistema operacional mais usado é o Android (78%) e o
fabricante mais popular é a Samsung (34%). O estudo revela que mais da
metade dos usuários têm plano pré-pago (58%), gastam de R$ 10,00 a R$ 70
com créditos mensalmente, e 60% possuem planos de dados.
De acordo com a pesquisa, 93% dos entrevistados passam mais tempo
conectados em suas residências, onde a conexão é melhor. No entanto,
mais da metade das conexões (58%) já é feita pelo plano de dados. A
categoria millenials é a mais conectada, fica em média quatro horas e
meia por dia navegando na Internet via celular e, consequentemente, ela
também é a mais exposta à publicidade em dispositivos móveis (57%).
Um dos destaques da pesquisa é o relacionamento dos usuários com os
seus dispositivos. Nenhuma das categorias afirma que vive sem Internet, e
a rede é indispensável para todas as gerações. Os brasileiros possuem
em média 20 aplicativos instalados, mas os sete principais são
utilizados para conversar e socializar. A rede social mais acessada
entre todos é o Facebook, com um mínimo de três a quatro acessos diários
em todas as idades, e também é por ele que as marcas conseguem se
relacionar mais com seus públicos na Internet.
Os mais jovens utilizam o celular para comprar roupas, calçados e
acessórios, e são os principais consumidores de entretenimento
(ingressos, filmes, séries e música). Já os mais experientes compram
vestuário, mas também gostam de adquirir itens de tecnologia e passagens
aéreas. (Com assessoria de imprensa)
segunda-feira, 18 de janeiro de 2016
A balcanização da internet pode começar no Brasil
Tentativas de cercear os direitos digitais dos brasileiros contrastam com a fama do país de bastião da liberdade na rede
Brasileiros levam mídias sociais a sério. O país tem uma das
percentagens de presença na internet que mais cresce no mundo.
Ferramentas como Facebook, Twitter e o próprio WhatsApp
não são usadas apenas para expressar opiniões - os aplicativos são um
meio de comunicação alternativo acessível, face aos preços exorbitantes
cobrados pelas empresas de telecomunicação do país por serviços de
mensagem similares, o que garante sua popularidade. Prova disto, um
estudo recente levantou que o WhatsApp é utilizado por 93% dos brasileiros com acesso à Internet.
A explicação oficial dada pela juíza para suspender o WhatsApp é o fato
de o Facebook, empresa dona do aplicativo, ter se recusado a cumprir uma
ordem judicial para fornecer informações pessoais e registros de
conversas ao Ministério Público para uma investigação criminal. O juiz que reverteu a decisão sugeriu que, no lugar do bloqueio, fosse aplicada uma multa à empresa.
Independente da gravidade dos crimes investigados - que envolvem
investigações sobre homicídios e tráfico de drogas - a juíza foi
imprudente em sua decisão e ameaça liberdades básicas dos brasileiros.
O ato era, em certa medida, previsível e juízes estão longe de ser a única ameaça ao mundo virtual brasileiro. Tramita no Congresso Nacional um novo projeto de lei (PL 215/15) que, se aprovado, vai reverter importantes disposições do Marco Civil da Internet, aprovado em 2014. Aliado a outra legislação sobre segurança de dados, esperava-se que o Marco Civil garantisse direitos básicos.
Mas, desde o início, vários procuradores e policiais civis foram
contra, argumentando ser uma provisão inconstitucional. Indo na sua
linha, o PL 215/15 tornaria mais fácil o acesso a informações pessoais
de cidadãos sem a necessidade de uma ordem judicial.
O PL parece ter sido tirado de um livro de George Orwell. Chamado de "PL Espião" por quem o critica,
o projeto exigiria que os brasileiros registrassem seus dados pessoais
(como endereço de casa, número de telefone e CPF) para acessar páginas
na internet. Seus apoiadores defendem que isto está em total
conformidade com o artigo quinto do primeiro capítulo da Constituição
Brasileira, que veda o direito ao anonimato na livre manifestação de
opinião. Além disso, sujeitaria as pessoas a acusações de difamação
por qualquer comentário feito nas mídias sociais. Também impactaria a
livre expressão de oposição política - oportunidade de silenciamento que
seria bem recebida por alguns dos políticos menos populares.
Um dos articuladores-chave do PL Espião é Eduardo Cunha,
presidente da Câmara dos Deputados, também um dos principais oponentes
do Marco Civil. À época de sua votação, Cunha uniu-se à bancada
evangélica do Congresso para tentar derrubá-lo. Para complicar a
situação, Eduardo Cunha está sendo investigado pela Polícia Federal por
corrupção e recebimento de propina, acusações a que nega veementemente.
Independentemente das ações de Cunha, grupos como o Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS) e o Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getúlio Vargas (CTS-FGV) argumentam que a nova lei seria provavelmente considerada inconstitucional.
Essas tentativas de cercear os direitos digitais dos brasileiros
contrastam com a fama do país de bastião da liberdade na internet. Ao
aprovar o Marco Civil, o Governo sinalizava ao mundo inteiro que leva a
sério a neutralidade da rede e a soberania digital, iniciativa aplaudida
por vários, incluindo Tim Berners-Lee, fundador da World Wide Web.
Basicamente, o país declarou que os princípios democráticos da
liberdade, privacidade e direitos humanos se aplicavam da mesma maneira
no mundo físico e no ciberespaço.
A presidente Dilma Rousseff também projetou a agenda da liberdade
digital para a arena global. Sua popularidade cresceu depois do
escândalo de espionagem da National Security Agency (NSA), agência
americana que estava espiando seus emails e telefonemas em 2013. O tema
foi também central em seu discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas
no mesmo ano. Em 2014, o Brasil organizou o NETmundial, uma conferência sobre governança da Internet. E em novembro, o Brasil foi palco do Fórum sobre Governança na Internet, apresentando sua "abordagem de múltiplas partes interessadas" como um modelo a ser replicado e adotado em outros países.
Apesar do Whatsapp já ter voltado ao ar, o estrago já está feito. O
cerceamento de liberdades fundamentais pelas autoridades brasileiras
revela um choque de prioridades contraditórias. O Brasil parece ser um
país que aspira ao mesmo tempo às liberdades digitais e à expansão do
estado de vigilância. O país se orgulha de sua internet livre e aberta,
mas sua polícia reprime ativistas virtuais com uma regularidade
alarmante.
Enquanto isso, o país tem progressivamente militarizado sua infraestrutura de cibersegurança e ciberdefesa.
Consideremos, por exemplo, as formas por meio das quais o Brasil
respondeu aos grandes protestos de 2013. A Agência Brasileira de
Inteligência (Abin) e o Comando de Segurança Cibernética do Exército
(CDCiber) vigiavam manifestantes civis e políticos. Além disso, o
Governo brasileiro constantemente entra em conflito com empresas de
tecnologia como o Google pelo acesso a informações pessoais de usuários.
Todo Governo tem de lidar com tensões semelhantes, mas as políticas
públicas devem se esforçar para encontrar um equilíbrio entre a proteção
das liberdades civis, de um lado, e o uso excessivo do aparato de
segurança, de outro.
O Governo brasileiro também vive uma relação complicada com empresas de
internet sobre acesso a dados pessoais de usuários. Em 2012, a polícia
prendeu o diretor do escritório do Google no Brasil por ter se recusado a
tirar do Youtube um vídeo onde um político era xingado. Em 2014, um
juiz também ordenou a suspensão de aplicativos da Apple, Google e da
Microsoft que estariam envolvidos em casos de ciberbullying. Apesar da
Sinditelebrasil, associação que une empresas do setor, não ter iniciado
nenhum movimento de confrontação aberta, pelo menos uma companhia
declarou publicamente que considerou a decisão desproporcional.
Com sua democracia recente, o brasileiro é especialmente sensível a
cerceamentos de suas liberdades fundamentais, mesmo as digitais. O Ato Institucional no. 5 (AI-5),
decreto que suspendeu o habeas corpus após o golpe militar de 1964, é
um bom exemplo, do qual não devemos esquecer. Políticos e juízes
brasileiros conhecem melhor que ninguém o perigo de se cercear direitos
fundamentais. A liminar judicial do mês passado, junto com propostas
retrógradas como o PL 215/15, estabelecem um precedente perigoso, tanto
interna quanto internacionalmente. Ninguém esperava que a balcanização
da internet fosse começar no Brasil. Todos esperam que esse tipo de
decisão se confirme como exceção e não como regra no país.
Cinco anos após dar início à Primavera Árabe, ativismo jovem segue em ebulição na Tunísia
Revolução que depôs então presidente Ben Ali
deu 'margem de liberdade' para que população continue lutando por seus
direitos, dizem ativistas
Cinco anos após a derrubada do presidente Ben Ali, que havia passado os
últimos 23 anos no poder na Tunísia, o país vive hoje uma ebulição de
iniciativas cidadãs que estavam antes silenciadas pelo antigo regime.
“A noção de medo foi revisada pelos tunisianos. Saímos às ruas e
viramos agentes sociais. A revolução foi a minha inspiração. Depois dos
protestos de 2011, fiquei com mais coragem para lutar pelos meus
direitos”, conta Asma Mansour, 31, fundadora do Centro Tunisiano para
Empreendedorismo Social (CTES, na sigla em francês).
Asma começou os projetos do CTES no mesmo ano da revolução. Ela
trabalhava em uma rádio na internet quando começaram os primeiros
protestos. “Um dia, eu vi um post no Facebook que falava sobre
empreendedorismo social. Foi o meu primeiro contato real com alguém
dessa área”. A postagem era de Hatem Mahbouli, um tunisiano que estava
fazendo um estágio em um fundo de investimento social nos EUA. Logo
depois, conheceu Sarah Toumi, franco-tunisiana que também já trabalhava
na área de empreendedorismo social.
Sandro Fernandes / Opera Mundi
Com mais dois amigos, Asma Mansour fundou um centro de empreendedorismo para jovens tunisianos
Os três jovens fundaram o CTES – nenhum deles tinha 30 anos na época.
A jovem relata um pouco a sua paixão pelo trabalho associativo. “Tenho
interesse em tudo que tenha um impacto social. Algo que toque as pessoas
e que faça a diferença. Eu sinto muita felicidade quando vejo que o meu
trabalho contribui para a felicidade de outras pessoas. Não é caridade,
como muita gente acha. Eu me sinto feliz também com este tipo de
atividade”.
Asma teve uma educação conservadora. Sua família acreditava que as
jovens meninas deveriam sair da escola e ir direto para suas casas e as
mulheres adultas deveriam apenas cuidar da casa.
Na universidade, ela começou a trabalhar como voluntária, mas sem
perspectivas de que este tipo de trabalho poderia ser seu principal
labor.
“Antes da revolução, eu não achava que seria possível fazer isso
(trabalho associativo) o tempo todo, como uma profissão. Eu achei que
trabalharia em uma empresa. Mas com a revolução e a movimentação social
que surgiu, eu vi que seria possível trabalhar em algo que contribuísse
para toda a sociedade.” O trabalho do CTES é de criar serviços e
possibilidades para ajudar o empreendedorismo social. “A ideia é apoiar
os jovens. Os jovens geralmente não têm este espaço aqui na Tunísia. A
gente permite que as pessoas recomecem depois de seus erros. E é
possível fazer com que esta cadeia cresça e cause mais e mais impacto”.
O centro oferece treinamento, orientação e ajuda com a captação de
recursos, fazendo o papel de intermediário entre os empreendedores
sociais e empresas que querem expandir a sua responsabilidade social.
O centro também coloca os empreendedores sociais da Tunísia em contato com financiadores internacionais.
Durante a elaboração da nova Constituição do país, mais de 6 mil
cidadãos e 300 organizações da sociedade civil se reuniram para debater o
documento. O caloroso debate envolvendo a população acabou atrasando a
conclusão da Carta. Em vez de ficar pronto em um ano, conforme
anunciado, só entrou em vigor três anos depois da criação da Assembleia
Constituinte. A nova Constituição prevê a igualdade de gênero, a
proteção aos recursos naturais e o combate à corrupção.
"Se não fossemos nós, como sociedade, na rua, teriam feito qualquer
Constituição. Seria mais uma revolução fracassada, como tantas outras,
como as dos nossos vizinhos", conclui Asma.
Ativismo LGBT
A revolução árabe também abriu espaço para ativismos em esferas
consideradas tabus na sociedade tunisiana. Ali Bousselmi, 27, é o
fundador do grupo LGBT Mawjoudin ("Nós existimos", em árabe) e explica
as mudanças sociais que a revolução possibilitou. “Até 2010,
praticamente apenas os blogueiros faziam pressão contra o regime (de Ben
Ali). Os protestos deram um gás ao ativismo social, em todas as áreas”,
diz Ali. "Se a revolução não tivesse acontecido, provavelmente não
teríamos esta associação ou não estaríamos aqui falando sobre direitos
humanos. A revolução facilitou muitas coisas. Temos que protegê-la a
todo o custo.”
Sandro Fernandes / Opera Mundi
Ali Bousselmi fundou grupo LGBT Mawjoudin ("Nós existimos", em árabe)
Ali diz que não é nem pessimista nem otimista. “Sou realista. É um
pouco frustrante quando a gente vê o governo, em nome da segurança, te
privar dos seus direitos. E estes atentados contra a intimidade me
deixam muito triste. Estas coisas cotidianas foram mudanças negativas.
Mas há pessoas que resistem e isso nos dá vontade de trabalhar, de
continuar lutando.” A presença dos jovens no ativismo social também é um
destaque pós-revolução para Ali. “Eu não estava muito motivado a ficar
no ativismo porque não havia muitos jovens. Havia uma visão muito
arcaica. Depois da revolução, houve uma explosão de associações, muitas
pessoas engajadas. E eu decidi participar".
Ali completa: "O que a gente ganhou com a revolução é que, apesar de
todos os problemas, temos uma margem de liberdade. O ativismo não está
proibido, nem mesmo o ativismo LGBT, tema que ainda representa um tabu”.
Merendeiras da periferia de SP vão ao Senegal dividir experiências sobre alimentação escolar
Elas ganharam concurso da Prefeitura de São
Paulo com um 'arroz colorido' e foram a Dacar mostrar o que fazem para a
comunidade escolar local
Prefeitura de São Paulo
Merendeiras Maria Aparecida e Claudia de Jesus Silva durante atividade em Dacar
Ainda é São Paulo capital, mas Parelheiros — a cerca de 40 quilômetros
da praça da Sé — assemelha-se a uma cidade do interior. Em vez de
prédios, congestionamento e poluição, o bairro tem vegetação nativa,
nascentes e uma importante produção familiar de alimentos. Distante do
centro e com poucas opções de transporte público, é também uma das
regiões mais pobres da cidade, onde o rendimento médio mensal é de R$
888,32 por pessoa, segundo dados do IBGE.
No coração de Parelheiros, no final da rua Cinco, sem saída, está a
escola de onde saíram as vencedoras do concurso “Educação Além do
Prato”, realizado pela Prefeitura de São Paulo, que premiou as melhores
receitas apresentadas pelas escolas da rede municipal. Juntas, a
merendeira Maria Aparecida Gomes Martins e a professora Sonia Maruso
Ribeiro cruzaram o Atlântico para apresentar, a convite da ONU, a
receita vencedora de arroz colorido (veja a receita no fina da
reportagem) em Dacar, capital do Senegal, durante o Encontro Regional da
África Ocidental sobre Segurança Alimentar.
A ideia do concurso surgiu no DAE (Departamento de Alimentação Escolar)
como uma tentativa de aproximar a comunidade escolar do debate em torno
da necessidade de uma alimentação saudável. No total, 292 escolas —
desde creches até EJAs (Educação de Jovens e Adultos) e escolas
indígenas — participaram da disputa e foram oferecidos três níveis de
premiação: viagem ao Senegal (1º lugar), viagem a Brasília (2º lugar) e
jantar em um renomado restaurante de comida brasileira (3º lugar).
Prêmio outorgado às escolas vencedoras
Foto: Vanessa Martina Silva
Além
de Maria Aparecida e Sonia da Emei (Escola Municipal de Educação
Infantil) Recanto Campo Belo - Professora Dirce Zillesg Borges, as
vencedoras do CEI (Centro de Educação Infantil) Penha Bom Jesus — a
merendeira Claudia de Jesus Silva e a pedagoga pós-graduada em educação
infantil e cultura Vivian Brandão Polli — também participaram da viagem a
Dacar.
No que se refere à alimentação escolar, o Brasil é uma referência
mundial, sobretudo no continente africano, que está buscando implementar
modelos para melhorar a oferta de alimentos. Por essa razão, a ONU
convidou as vencedoras do programa para expor suas experiências para
ministros de Educação de 27 países da África Ocidental reunidos em Dacar
entre 8 e 12 de junho.
Sobre a apresentação, Maria Aparecida lembra que foi uma experiência
"muito boa". "Ouvimos muita coisa e a nossa apresentação… alguns
choraram quando falamos que aqui as crianças fazem três refeições por
dia. Lá eles comem uma ou duas vezes só."
Já Sonia ressalta que “alguns países já têm políticas públicas
formuladas e estão implantando a alimentação escolar. Outros ainda dão
um voucher para que as famílias comprem alimentos. Com nossa
experiência, procuramos dar esperança e eles já começaram a se organizar
em rede. Isso é importante”.
Reprodução/Youtube
Crianças participaram de oficinas culinárias, confecção de jogos e conscientização para evitar desperdício de alimentos
Após o evento, em 12 de junho, 21 países aprovaram a criação de uma
Rede Africana de Alimentação Escolar, cujo objetivo é estimular e
aprimorar as políticas de alimentação escolar e o aumento do orçamento
dos países destinados a esse fim.
Senegal
Participar do projeto foi fácil. Difícil foi convencer Maria Aparecida,
que trabalha há 12 anos na Emei Recanto Campo Belo, a receber o prêmio.
"Eu não queria ir. Era longe e eu estava morrendo de medo, nunca tinha
andado de avião”, conta. Mas, o incentivo das outras merendeiras, das
professoras e direção da escola a fez mudar de ideia.
WFP/Mariana Rocha
Em Senegal, mães se revezam durante a semana para preparar a alimentação das crianças
Para a pedagoga, especialista em educação infantil e pós-graduada em
docência superior Sonia, a questão não era o avião, nem o medo da
viagem, mas o ceticismo. “Só caiu a ficha que eu iria no dia que eu
estava no aeroporto. Até então era algo que eu não conseguia sentir”,
disse.
WFP/Mariana Rocha
Delegação brasileira conheceu a escola primária de Oudiour, localizada a cerca de 160 km de Dacar, no Departamento de Gossas
Questionada sobre o que mais chamou sua atenção na viagem, Sonia diz
que foi a aridez do ambiente e a falta de natureza. “Eu vi somente uma
flor, a primavera, na ilha de Gorée, e apenas uma árvore verde. Dentro
da escola tinha uma imensa árvore e as conversas aconteceram embaixo
dela”.
O bate-papo ficou na memória, conta. A experiência da escola de
Parelheiros, que há anos mantém, com o auxílio de professores e alunos,
uma horta nas dependências do prédio, inspirou a comunidade local. Mas,
as dificuldades que enfrentam são muitas, afirma Sonia. “O prefeito de
Oudiour disse: ‘eu tenho uma escola; tenho um espaço de três hectares;
tenho um poço; tenho uma bomba que vai a 20 metros e tenho água, que
está a 100 metros. Eu não quero dinheiro, quero uma bomba’. Até hoje a
gente se comunica por WhatsApp [com as outras colegas que também
viajaram] e se pergunta: ‘e a bomba?’”, conta.
Vanessa Martina Silva
Morango, alface e couve são algumas das produções da horta da Emei Recanto Belo
Esperança
“Foi uma experiência que marcou a minha vida. Entrou uma Sonia no avião
e saiu outra”, avalia a professora. “Tem questões que vieram comigo
para o Brasil, que me tiram o sono. Temos uma riqueza muito grande que
não aproveitamos e até desperdiçamos. Então se eu colocar lado a lado
Brasil e Senegal e olhar o desperdício, ele soa como uma afronta”.
Depois de tudo o que viu e viveu, Sonia não considera que tenha
recebido do programa uma premiação. “Eu não vejo como um prêmio, vejo
como uma missão. Não sei se eu vou voltar para Senegal, mas eu gostaria
de voltar e ver a horta da escola verdinha…”.
A mesma percepção é compartilhada por Maria Aparecida: “Não me
arrependo. Se for para ir de novo, eu vou. Eu volto pra África”. E
conclui, observando que “a gente reclama muito, mas no fundo somos ricos
perto do que vimos lá. Na nossa escola às vezes falta uma salsinha e eu
reclamo, mas lá o tempero é só pimenta. Aqui as crianças têm três
refeições por dia, lá uma ou duas apenas”.
Receita Arroz Colorido
Maria Aparecida e o arroz colorido| Foto: WFP/Mariana Rocha
Ingredientes: - 20 quilos de arroz cozido com óleo, temperado com alho, cebola e sal;
- 20 unidades de cenouras grandes cozidas na água e sal;
- 15 unidades de beterrabas médias cozidas na água e sal;
- 8 maços de couve ou espinafre aferventados na água e sal; Para decorar: - 2 quilos de tomate picado;
- 1 maço de salsinha picada para decorar;
Opcional:
- 10 unidades de ovos cozidos fatiados Modo de preparo:
Dividir o arroz em três partes iguais. Passar separadamente as
cenouras, as beterrabas e o espinafre cozidos na peneira ou no
liquidificador. Após misturar a cenoura no arroz, reserve e faça este
procedimento com os outros ingredientes. Depois monte em uma assadeira
cada parte do arroz em camadas sobrepostas ou coloque-os em camadas
conforme as cores, lado a lado. Decorar com tomate e salsinha picados e
levar ao forno para gratinar. Se desejar, coloque fatias de ovos cozidos
sobre a preparação final, para decorar.