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domingo, 10 de maio de 2015

Cultura P2P e corporações da informação: convívio tenso, atrito necessário

   

Economia Peer-to-Peer

by Bia Martins
do blog AutoriaemRede

A dinâmica de produção do sistema operacional GNU/Linux pode se tornar modelo para outros setores da economia? As novas formas de produção distribuída e equipotencial entre pares estariam apontando para um sistema que vá além do capitalismo?

Michel Bauwens, criador da Peer-to-Peer Foundation, destaca algumas características desse modelo produtivo que representariam profundas mudanças no paradigma da economia capitalista e que poderiam apontar na direção de sua superação:

- a produção entre pares possibilita efetivamente a cooperação livre entre produtores;
- a autoridade entre pares transcende tanto a autoridade do mercado como a do Estado;
- as novas formas de propriedade universal transcendem as limitações dos modelos de propriedade pública e privada na constituição de um patrimônio comum;
- o surgimento de uma nova ética do trabalho (Ética Hacker) e novas práticas culturais.

Já Yochai Benkler, outro importante pesquisador da produção P2P, enfatiza que as redes de comunicação tornaram possível a disseminação em larga escala de práticas colaborativas e solidárias que já existiam em escala menor na sociedade. Hoje você pode não só colaborar com uma iniciativa comunitária no seu bairro, mas também se engajar nos mais variados projetos nos quatro cantos do planeta. Dessa forma, então, iniciativas cooperativas têm ganhado força numa dimensão inédita.

Assista ao TED com Yochai Benkler sobre a nova economia de informação em rede

Os dois pesquisadores concordam que a emergência da produção P2P deriva em grande parte da disseminação das tecnologias de informação e comunicação. Como o capitalismo na atualidade é baseado no conhecimento que gera novo conhecimento (inovação) e o computador é o meio que permite tanto o acesso ao conhecimento produzido como a produção do novo conhecimento, pela primeira vez no sistema capitalista os meios de produção estão nas mãos do cidadão comum.

De fato, há hoje muitos exemplos de iniciativas P2P nas mais diversas áreas, que ilustram como a produção entre pares pode alcançar os mais diversos setores da economia: o projeto WikiHouse, um protótipo arquitetônico aberto que pode ser produzido em impressoras 3D para gerar moradias de baixo custo; ou WikiSpeed, um projeto de carro concebido em um modelo de produção open-source com a colaboração de mais de mil pessoas de 20 países diferentes; ou ainda o sistema de empréstimo P2P Zopa, que intermedeia as operações entre as pessoas, possibilitando taxas mais atraentes para quem empresta e para quem toma emprestado.

No entanto, não se pode esquecer que, por outro lado, as formas de exploração da produção colaborativa se sofisticam ao mesmo tempo. As grandes empresas da atualidade fazem isso de forma explícita. A rentabilidade do Facebook, por exemplo, é baseada na colaboração de seus usuários que alimentam a plataforma de graça. Já o motor de busca Google retira valor de dados fornecidos voluntária e gratuitamente por milhões de pessoas. Some-se a isso o fato de que essas duas grandes empresas são também as maiores alimentadoras dos sistemas de vigilância mundiais, monitorando toda a movimentação on-line e repassando esses dados para organizações governamentais e/ou outras empresas.

O que irá prevalecer? A potência da produção colaborativa entre pares que pode criar soluções para diversos impasses contemporâneos ou disposição da máquina capitalista em capturar a produção colaborativa para priorizar o lucro acima dos interesses coletivos? Está aí, de forma ultra sintética, a grande disputa contemporânea.

Estes foram alguns dos pontos abordados na aula Economia P2P: a produção colaborativa. Para quem se interessar, segue abaixo a apresentação com mais algumas referências:

Economia Peer-to-Peer, from Bia Martins

sexta-feira, 7 de março de 2014

O modo de distribuição dos textos - e dos discursos, portanto - constitui a organização social

FLOK Society – por uma matriz econômica voltada ao bem comum

Desde outubro de 2013, uma experiência inovadora e arrojada vem sendo desenvolvida no Equador: o projeto FLOK Society – Free/Libre Open Knowledge Society.

Seu objetivo geral é propor políticas e estratégias que permitam ao país mudar sua matriz produtiva atual para uma economia baseada no conceito de conhecimento livre, aberto e comum.
Michel Bauwens, criador da P2P Foundation, dirige o projeto a convite do presidente Rafael Correa. Ele fala sobre a abrangência da iniciativa:

“Muitos países têm ministérios da economia social ou economia solidária que atuam apenas de forma marginal. O que estamos propondo é tornar a economia social em algo super-produtivo, super-competitivo e super-cooperativo. Paradoxalmente, como você sabe, as grandes empresas estão investindo grandes quantias de dinheiro em iniciativas de produção P2P, enquanto que as cooperativas estão de braços cruzados, isto é o que queremos mudar. O projeto FLOK Society aqui no Equador, propõe uma reorganização estratégica para que a economia social desempenhe um papel fundamental, ao invés de funcionar como uma mera adição ao paradigma neoliberal existente.”

O processo de trabalho é também aberto e colaborativo. Inicialmente houve uma convocação mundial para pesquisadores, ativistas e trabalhadores das mais diversas áreas que quisessem propor ideias para o desenvolvimento desse novo paradigma. As discussões de planejamento têm se dado presencialmente e virtualmente, com o apoio de plataformas colaborativas como wikis, pads e listas de discussão.



Conheça o site oficial do projeto.

A meta é elaborar 10 documentos estratégicos que cubram todo o espectro de áreas sócio-técnicas que constituem a matriz econômica, desde redes de trocas de sementes até estrutura de wi-fi comunitária, passando por novas leis de gestão científica aberta e protocolos para a administração pública.

Leia um pequeno trecho da Carta Aberta para convocação pública:

“Imagine uma sociedade que esteja conectada ao bem comum do conhecimento aberto em todos as áreas da atividade humana, baseada em conhecimento, código e desenho livres e abertos, que possam ser usados ​​por todas e todos cidadãos, em parceria com atores governamentais e do mercado, sem a discriminação e falta de poder decorrentes do conhecimento privatizado.”
Carta Aberta FLOK Society
Carta Aberta FLOK Society
Clique aqui para ler a carta na íntegra
(em diversos idiomas, inclusive em português)

O pesquisador George Dafermos, responsável pela investigação de Mudança da Matriz Produtiva, dá alguns exemplos concretos de como a adoção do modelo de conhecimento livre, sem o recurso limitador de patentes, pode representar ganho para a população equatoriana. Um deles consiste na construção de um bote de transporte ecológico, movido a energia solar e construído com licenças abertas, para o translado de turistas a Galápagos. Outro é a criação de um banco de dados com informação técnica (sobre o clima, o solo, o sol, os ventos etc) que permita a qualquer cidadão construir projetos de energia renovável.

Está prevista uma reunião ampliada no final do mês de maio, como a culminância do processo, que reunirá especialistas do mundo todo com representantes de entidades civis e públicas do país, a fim de fechar uma proposta final com orientações estratégicas para a implantação da nova matriz econômica, que será encaminhada à Assembleia Nacional do Equador.

Para além dos resultados concretos que venha a produzir no país, o projeto FLOK Society representa um importante avanço na construção de uma proposta de matriz econômica sustentável voltada ao bem comum, como uma alternativa em nível mundial.

Artigos relacionados:
- Ecuador: del capitalismo cognitivo, a la economía social del conocimiento
- Hacia un procomún material

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