Mostrando postagens com marcador EUA. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador EUA. Mostrar todas as postagens

sábado, 23 de abril de 2016

Laivos da Operação Condor?

Washington’s Dog-Whistle Diplomacy Supports Attempted Coup in Brazil

aloysio_vitort-e1461144274558
Image: Victor T.

By Mark Weisbrot, on Huffington Post


The day after the impeachment vote in the lower house of Brazil’s congress, one of the leaders of the effort, Senator Aloysio Nunes, traveled to Washington, D.C. He had scheduled meetings with a number of U.S. officials, including Thomas Shannon at the State Department.
Shannon has a relatively low profile in the media, but he is the number three official in the U.S. State Department. Even more significantly in this case, he is the most influential person in the State Department on U.S. policy in Latin America. He will be the one recommending to Secretary of State John Kerry what the U.S. should do as the ongoing efforts to remove President Dilma Rousseff proceed.

Shannon’s willingness to meet with Nunes just days after the impeachment vote sends a powerful signal that Washington is on board with the opposition in this venture. How do we know this? Very simply, Shannon did not have to have this meeting. If he wanted to show that Washington was neutral in this fierce and deeply polarizing political conflict, he would not have a meeting with high-profile protagonists on either side, especially at this particular moment.

Shannon’s meeting with Nunes is an example of what could be called “dog-whistle diplomacy.” It barely shows up on the radar of the media reporting on the conflict, and therefore is unlikely to generate backlash. But all the major actors know exactly what it means. That is why Nunes’ party, the Social Democracy Party (PSDB), publicized the meeting.

To illustrate with another example of dog-whistle diplomacy: On June 28, 2009, the Honduran military kidnapped the country’s president, Mel Zelaya, and flew him out of the country. The White House statement in response did not condemn this coup, but rather called on “all political and social actors in Honduras” to respect democracy.

This dog-whistle signal worked perfectly; most importantly the coup leaders and their supporters in Honduras, as well as every diplomat in Washington, knew exactly what this meant, even as statements condemning the coup and demanding the restoration of the democratic government came pouring in from around the globe. Everyone knew that this was, in diplomatic code, a clear statement of support for the coup. The events that followed over the next six months, with Washington doing everything it could to help consolidate and legitimize the coup government, were pretty much predictable from this initial statement. Hillary Clinton later admitted in her 2014 book, “Hard Choices,” that she worked successfully to prevent the return of the democratically elected president.

Tom Shannon has a reputation among Latin American diplomats as an amiable fellow, a seasoned career foreign service officer who is willing to sit down and talk with governments that are at odds with U.S. policy in the region. But he has had a lot of experience with coups. Some of Hillary Clinton’s released emails shed additional light on his role in helping to consolidate the Honduran coup. He was also a high-level State Department official during the April 2002 coup in Venezuela, in which there is substantial documentary evidence of U.S. involvement. And when the parliamentary coup in Paraguay took place in 2012 — something similar to what is happening in Brazil but with a process that impeached and removed the president in just 24 hours — Washington also contributed to the legitimation of the coup government in the aftermath. (By contrast, South American governments suspended the coup government in Paraguay from MERCOSUR, the regional trading bloc, and UNASUR [the Union of South American Nations).] Shannon was ambassador to Brazil at that time, but was still one of the most influential officials in hemispheric policy.

The U.S. State Department responded to questions about Nunes’ meetings by saying, “This meeting had been planned for months and was arranged at the request of the Brazilian embassy.” But this is irrelevant. It merely means that Brazilian embassy staff were, as a matter of diplomatic protocol, involved in arranging the meetings. This does not imply any consent by the Rousseff administration, nor change the political message that the meeting with Shannon sends to the opposition in Brazil.
All of this is of course consistent with Washington’s strategy in response to the left governments that have governed most of the region in the 21st century. They have rarely missed an opportunity to undermine or get rid of any of them, and their desire to replace the governing Workers’ Party in Brazil with a more compliant, right-wing government is fairly obvious.

Mark Weisbrot is co-director of the Center for Economic and Policy Research in Washington, D.C., and the president of Just Foreign Policy. He is also the author of the new book “Failed: What the ‘Experts’ Got Wrong About the Global Economy“ (2015, Oxford University Press).

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Um projeto cinematográfico de documentação do atual período - Moore

17/12/2015 - Copyleft

Michael Moore: o que roubar na próxima invasão?

O objetivo desta nova invasão dos EUA não seria para se apossar do petróleo, mas das ideias e soluções político-sociais encontradas por outros países


Rui Martins - Correio do Brasil

reproduçãoO maior crítico e inimigo da estrutura político-militar americana, o cineasta documentarista e escritor Michael Moore, estará em fevereiro no Festival de Cinema de Berlim, com seu novo filme Onde a Próxima Invasão?,já exibido no Festival de Toronto e com estréia nos EUA na véspera do Natal.

Desta vez, o sistema americano quer limitar a penetração do filme entre os jovens, classificando-o como permitido apenas a maiores de 17 anos, alegando algumas cenas de drogas e uns nus naturistas, mas na verdade criando uma nova categoria – a da pornografia política.

Para Michael Moore, os EUA são um país belicoso em permanente estado de guerra, principal responsável pela situação atual no Oriente Médio, decorrente da invasão do Iraque, justificada com mentiras. Natural, por isso, se esperar uma nova invasão para acionar a indústria armamentista americana e se apropriar de alguma riqueza.

Entretanto, o objetivo desta nova invasão não seria para se apossar do petróleo de algum país, porém – e aqui entra a ironia do provocador Moore – das idéias e soluções político-sociais encontradas por outros países e superiores às aplicadas pelo liberalismo capitalista dentro dos Estados Unidos.

Entre elas estão o sistema de saúde e previdenciário dos franceses ; a política de legalização de certas drogas pelos portugueses ; o comportamento natural de muitos europeus com relação aos seus corpos nos campos naturistas de nudismo; as merendas escolares nas escolas francesas; as longas férias concedidas aos operários italianos; o melhor sistema educacional dos finlandeses; e a maneira como foram processados e presos os banqueiros islandeses envolvidos na falência do país.

Por que não roubar tudo isso desses países e fincar uma bandeirinha americana no lugar?

O sucesso de Onde a Próxima Invasão? vai depender da dose de humor aplicada por Michael Moore, já premiado com Palma de Ouro em Cannes e com Oscars nos Estados.
Seus filmes mais conhecidos – Tiros em Columbine e Fahrenheit 9/11.

Rui Martins, correspondente em Genebra, estará em Berlim, do 10 ao 21 de fevereiro, convidado pelo 66. Festival Internacional de Cinema.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

O reverso do discurso dos direitos humanos...

Linhas vermelhas na Ucrânia e em todos os lugares

A crise atual na Ucrânia é séria e ameaçadora, tanto que alguns comentaristas a equiparam à crise dos mísseis em Cuba, em 1962.


Boletim Carta Maior

Noam Chomsky
Arquivo

A crise atual na Ucrânia é séria e ameaçadora, tanto que alguns comentaristas a equiparam à crise dos mísseis em Cuba, em 1962. O colunista Thanassis Cambanis resume o âmago da questão no Boston Globe: “A anexação da Crimeia pelo (presidente russo Vladimir) Putin é uma ruptura de uma ordem em que os Estados Unidos e seus aliados confiam desde o fim da guerra fria, na qual as grandes potências só intervêm militarmente quando há consenso internacional a seu favor ou, na ausência dele, quando não cruzam as linhas vermelhas de uma potência rival”. 

Portanto, o crime internacional mais grave desta era, a invasão do Iraque pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido, não foi uma ruptura da ordem mundial porque, apesar de não terem apoio internacional, os agressores não cruzaram as linhas vermelhas russas ou chinesas.

Em contrapartida, a anexação russa da Crimeia e suas ambições na Ucrânia cruzam as linhas norte-americanas. Consequentemente, “Obama se concentra em isolar a Rússia de Putin, cortando seus laços econômicos e políticos com o mundo exterior, limitando suas ambições expansionistas em sua própria vizinhança e transformando o país, de fato, em um Estado pária”, informa Peter Baker no New York Times.

Em suma, as linhas vermelhas norte-americanas estão firmemente estabelecidas nas fronteiras da Rússia. Consequentemente, as ambições russas “em sua própria vizinhança” violam a ordem mundial e criam uma crise.

Esta premissa é de aplicação geral. Às vezes, permite que outros países tenham linhas vermelhas em suas fronteiras (onde também estão as linhas vermelhas dos Estados Unidos). Mas não se aplica ao Iraque, por exemplo. Nem ao Irã, que Washington ameaça continuamente com ataques (“nenhuma opção sai da mesa”).

Tais ameaças violam não apenas a Carta das Nações Unidas, como também a resolução de condenação da Assembleia Geral à Rússia, que os Estados Unidos acabam de assinar. A resolução começa destacando que a Carta da ONU proíbe “a ameaça ou o uso da força” em assuntos internacionais.

A crise dos mísseis em Cuba também deu ênfase às linhas vermelhas das grandes potências. O mundo perigosamente se aproximou de uma guerra nuclear quando o então presidente John F. Kennedy rechaçou a oferta do primeiro-ministro soviético Nikita Kruschov de colocar fim à crise mediante a retirada pública e simultânea dos mísseis soviéticos em Cuba e dos mísseis norte-americanos da Turquia (já estava programada a substituição dos mísseis dos Estados Unidos por submarinos Polaris, muito mais letais – parte do enorme sistema que ameaça destruir a Rússia).

Também naquele caso, as linhas vermelhas dos Estados Unidos estavam na fronteira da Rússia, um fato aceito por todos os envolvidos.

A invasão norte-americana da Indochina, como a do Iraque, não cruzou as linhas vermelhas, e tampouco muitas outras destruições norte-americanas pelo mundo. Deve-se repetir este fato crucial: às vezes, permite-se que outros adversários tenham linhas vermelhas, mas em suas fronteiras, onde também estão colocadas as linhas vermelhas norte-americanas. Se um adversário tem “ambições expansionistas em sua própria vizinhança” e cruza as linhas vermelhas norte-americanas, o mundo enfrenta uma crise.

No último número da revista International Security, do Harvard-MIT, o professor Yuen Foong Khong, da Universidade de Oxford, explica que existe uma “longa (e bipartidarista) tradição no pensamento estratégico norte-americano: governos sucessivos colocaram ênfase no que é um interesse vital dos Estados Unidos, prevenir que uma hegemonia hostil domine alguma das principais regiões do planeta”.

Além disso, existe consenso de que os Estados Unidos devem “manter sua predominância” porque “a hegemonia norte-americana é a que sustentou a paz e a estabilidade regional”, eufemismo que se refere à subordinação às demandas norte-americanas.

Da forma como são as coisas, o mundo opina de modo diferente e considera os Estados Unidos um “Estado pária” e “a maior ameaça à paz mundial”, sem um competidor sequer próximo nas pesquisas. Mas, “o que o mundo sabe?”.

O artículo de Khong se refere à crise provocada pela ascensão da China, que avança em direção à “primazia econômica” na Ásia e, assim como a Rússia, possui “ambições expansionistas em sua própria vizinhança”, cruzando as linhas vermelhas norte-americanas. A recente viagem do presidente Obama à Ásia tinha objetivo de reafirmar a “longa (e bipartidária) tradição”, na linguagem diplomática.

A quase universal condenação de Putin pelo Ocidente faz referência ao “discurso emocional” em que o governante russo explicou com amargura que os Estados Unidos e seus aliados “nos enganaram uma e outra vez, tomaram decisões pelas nossas costas e nos apresentaram fatos consumados, com a expansão da OTAN no Oriente, com a instalação de infraestrutura militar em nossas fronteiras. Sempre nos dizem o mesmo: 'Bem, isto não tem a ver com você'”.

As queixas de Putin se baseiam em fatos. Quando o presidente soviético Mikhail Gorbachev aceitou a unificação da Alemanha como parte da OTAN – concessão assombrosa à luz da história –, houve uma troca de concessões. Washington acordou que a OTAN não se direcionaria “um centímetro em direção ao Leste”, em referência à Alemanha Oriental.

A promessa foi imediatamente quebrada e, quando o presidente soviético Mikhail Gorbachev se queixou, indicaram a ele que havia somente uma promessa verbal, carente de validade.

Logo Bill Clinton expandiu a OTAN muito mais ao Leste, em direção às fronteiras da Rússia. Atualmente, há quem queira levá-la até à mesma Ucrânia, bem dentro da “vizinhança” histórica da Rússia. Mas isso “não tem a ver” com os russos, porque a responsabilidade dos Estados Unidos de “manter a paz e a estabilidade” requer que suas linhas vermelhas estejam nas fronteiras russas.

A anexação russa da Crimeia foi um ato ilegal, violou o direito internacional e tratados específicos. Não é fácil encontrar algo comparável nos últimos anos, mas a invasão do Iraque foi um crime muito mais grave.

Entretanto, vem à mente um exemplo parecido: o controle norte-americano da baía de Guantánamo, sudeste de Cuba. Ela foi tomada a tiros de Cuba em 1903 e não foi devolvida, apesar dos constantes pedidos cubanos desde o triunfo da revolução, em 1959.

Sem dúvidas, a Rússia tem argumentos mais sólidos em seu favor. Ainda sem considerar o forte apoio internação à anexação, a Crimeia historicamente pertence à Rússia; conta com o único poto de águas quentes na Rússia e abriga a flotilha russa, além de ter enorme importância estratégica. Os Estados Unidos não têm nenhum direito sobre Guantánamo, a não ser pelo monopólio da força.


Uma das razões por que Washington recusa devolver Guantánamo a Cuba, é possível presumir, é que se trata de um porto importante, e o controle norte-americano representa um formidável obstáculo ao desenvolvimento cubano. Esse tem sido o principal objetivo da política norte-americana ao longo de 50 anos, que inclui terrorismo em grande escala e guerra econômica.

Os Estados Unidos se dizem escandalizados pelas violações aos direitos humanos em Cuba, ignorando que as piores dessas violações são cometidas em Guantánamo; que as acusações válidas contra Cuba não se comparam nem de longe às práticas regulares entre os clientes latino-americanos de Washington; e, finalmente, que Cuba esteve submetida a um severo e implacável ataque dos Estados Unidos desde o triunfo de sua revolução.

Mas nada disso cruza as linhas vermelhas de ninguém, nem causa uma crise. Cai na categoria das invasões norte-americanas da Indochina e do Iraque, da rotineira derrubada de regimes democráticos e das instalações de impiedosas ditaduras, assim como de nosso espantoso histórico de outros exercícios para “sustentar a paz e a estabilidade”.

(*) Noam Chomsky é professor emérito de linguística e filosofia no Instituto Tecnológico de Massachusetts, em Cambridge.
Tradução: Daniella Cambaúva

domingo, 30 de junho de 2013

O império em queda, o whistleblower em fuga

EUA ameaçam países que ajudarem Snowden

Fonte: ARede 

25/06/2013 - Em artigo publicado ontem no jornal La Jornada, David Brooks diz que "o homem mais procurado do mundo desapareceu como fumaça depois de voar de Hong Kong para Moscou, em um episódio em que vários países 'aliados' decidiram desobedecer às ordens de Washington e em que o grande aparato de espionagem estadunidense aparentemente não funcionou para evitar o que é, até o momento, a grande fuga de Edward Snowden.

De acordo com o jornal mexicano, além dos governos de Hong Kong, China, Russia e Equador, há indícios de que outros países poderiam se recusar a entregar Snowden - perseguido por revelar programas de espionagem de comunicações privadas de milhões de civis, dentro e fora dos Estados Unidos.

Em sua primeira referência ao assunto, diz o La Jornada, o presidente Barack Obama respondeu brevemente a perguntas durante uma reunião sobre a reforma migratória, afirmando que todos os canais legais estão sendo acionados e que os EUA estão trabalhando junto a vários países "para assegurar a aplicação da lei". De acordo com Brooks, o presidente estadunidense se referia a uma intensa pressão diplomática que tem sido frustrada a cada passo, e considerada por analistas e legisladores como "vergonhosa" e um revés para Obama.

A reportagem revela que o secretário de Estado John Kerry disse que Snowden é acusado de três atos graves de espionagem, e que a Rússia deveria entregá-lo aos EUA. Kerry mencionou possíveis "consequências" caso isso não aconteça. Sobre Hong Kong, o secretário afirmou que "seria profundamente preocupante se eles receberam notificaçáo adequada e decidiram ignorar, o que seria desrespeitar as normas".

Washington, conta o jornal mexicano, advertiu os países latinoamericanos que não permitam a passagem de Snowden. Fala-se que o aviso foi dirigido a Cuba, Venezuela e Equador. O chancelar do Equador, Ricardo Patiño, revelou que seu país está avaliando um pedido de asilo, o qual diz respeito a "liberdade de expressão e segurança de cidadãos ao redor do mundo". Patiño leu uma suposta declaração de Snowden, na qual comparava sua situação ao soldado Bradley Manning, que passou documentos secretos ao WikiLeaks e agora está diante de uma corte marcial acusado de "ajudar o inimigo".

Julian Assange, em uma teleconferência com veículos de comunicação, ontem, afirmou que Snowden "não é um traidor, não é um espião". É um "whistleblower" -- literalmente, alguém que sopra em um apito, referindo-se a pessoas que divulgam ao público informações sobre abusos ou violações de autoria de autoridades. O fundador do WikiLeaks confirmou que está dando apoio legal e financeiro a Snowden e que foi solicitado asilo a vários países, além do Equador. Funcionários da Islândia confirmaram que receberam o pedido formal, mas que o processo não pode ser iniciado sem que Snowden esteja no país.

Para o Equador, segundo analisa o La Jornada, oferecer refúgio a Snowden poderia gerar consequências econômicas, se Washington decidir modificar acordos comerciais com Quito. Na semana passada, Cuba e EUA negociavam o reinício do serviço postal direto e marcaram uma reunião sobre migração para meados de julho. Em relação à Venezuela, foi marcado um encontro entre o secretário de Estado Kerry e o chanceler Elías Jaua, para estudar o restabelecimento de representações diplomáticas e envio de embaixadores às respectivas capitais.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Edward Snowden será torturado como Bradley Manning?

Edward Snowden: "Não quero viver num mundo onde tudo o que eu faço e digo é registrado"

O assistente técnico da CIA que revelou os programas de vigilância interna dos EUA teme que "nada de bom" lhe venha a acontecer no futuro

Edward Snowden, um antigo assistente técnico da CIA e funcionário de uma empresa do sector da defesa, identificado como a fonte das notícias relativas aos programas de vigilância interna da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos, explica as razões por que decidiu passar documentos internos e classificados como secretos: "Não quero viver numa sociedade que faz este tipo de coisas, num mundo onde tudo o que eu faço e digo é registrado”.
Eward Snowden está em Hong Kong S/Ewen MacAskill/The Guardian/Reuters

“A NSA [Agência Nacional de Segurança, na sigla original em inglês] construiu uma infra-estrutura que lhe permite interceptar quase tudo. Com essa capacidade, a grande maioria das comunicações humanas são automaticamente integradas no sistema de forma discricionária. Se eu quisesse ver os seus emails ou os telefonemas da sua mulher, bastava aceder a esse registo. Eu posso obter a informação relativa aos seus emails, palavras-passe, registos telefónicos, cartões de crédito”, explicou.

A fuga de informação de Edward Snowden expôs a existência do programa PRISM, através do qual a NSA recolhe dados de empresas de telecomunicações como a Verizon e de gigantes tecnológicos como a Microsoft, Apple, Google e Skype e ainda de redes sociais como o Facebook.
Segundo o informático, a população está completamente indefesa perante a sofisticação do programa. “As pessoas não têm noção do que é possível fazer: a extensão das capacidades [da NSA] é horripilante. Nós podemos plantar escutas dentro das máquinas. Quando você aceder à rede, eu identifico a sua máquina, e você nunca mais estará a salvo, independentemente das protecções que usar”.

 “Tenho os mapas que mostram onde é que as pessoas são mais escrutinadas. [A NSA] recolhe mais comunicações digitais na América do que na Rússia”, diz Snowden, que, instado a comparar o programa norte-americano com as alegações de pirataria informática pelo Exército chinês, garante que “[os EUA] pirateiam toda a gente em todo o lado. Gostamos de fazer essa distinção entre nós e os outros. Mas estamos em quase todos os países do mundo. E não estamos em guerra com esses países”.

Além de falar nas suas razões – pessoais e políticas – para divulgar publicamente os programas secretos da NSA, Edward Snowden informa por que prescindiu da protecção do anonimato e quis ter a sua identidade revelada como o responsável pela fuga de informação. “Não tenho nenhuma intenção de esconder quem sou porque sei que não fiz nada de errado.”

Ainda assim, procura proteger a família e conhecidos, assegurando que ninguém tinha conhecimento das suas acções e lamentando o que, antevê, será a resposta “agressiva” das autoridades. “O meu medo é que vão atrás da minha família, amigos, a minha namorada, qualquer pessoa que tenha alguma ligação comigo. Vou ter de viver com isso o resto da minha vida. Não vou poder comunicar com eles.”

Sobre o seu refúgio num hotel em Hong Kong, Snowden estima que seja provisório. “Não deixa de ser trágico que um americano tenha que se mudar para um país que tem reputação de garantir menos liberdade”, nota, acrescentando que apesar de pertencer à China, Hong Kong tem “uma forte tradição de liberdade de expressão”. Mas a sua intenção é pedir asilo na Islândia, “um país com os mesmos valores que partilho”.

Quando lhe perguntam sobre o que acha que lhe vai acontecer, Edward Snowden responde simplesmente: “Nada de bom”. Acha possível que seja emitido um mandado de captura contra si através da Interpol, e que possa terminar na cadeia, mas sublinha que sempre esteve disposto a correr esse risco. “Ninguém pode desafiar a agência de serviços secretos mais poderosa do mundo sem aceitar esse risco. Se eles me quiserem apanhar, vão-me apanhar”, acredita.

***

MAIS INFORMAÇÕES:

O que é PRISM? (Gizmodo)
http://gizmodo.uol.com.br/o-que-e-prism/

Esquema de espionagem norte-americano pode ter afetado brasileiros (Folha de S. Paulo)
http://www1.folha.uol.com.br/dw/1293728-esquema-de-espionagem-norte-americano-pode-ter-afetado-brasileiros.shtml

Prism: porque nós deveríamos nos preocupar (Galileu)
http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI339098-17770,00-PRISM+PORQUE+NOS+DEVERIAMOS+NOS+PREOCUPAR.html

Fonte que revelou rede espiã dos EUA deixa hotel em Hong Kong e busca asilo (Estadão)
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,fonte-que-revelou-rede-espia-dos-eua-deixa-hotel-em-hong-kong-e-busca-asilo-,1041059,0.htm

União Europeia vai debater com EUA programa de vigilância PRISM (Lusa)
http://www.tsf.pt/PaginaInicial/Internacional/Interior.aspx?content_id=3265292

Prism: 80 organizações pressionam Congresso norte-americano (IDG Now!)
http://idgnow.uol.com.br/internet/2013/06/12/prism-80-organizacoes-pressionam-congresso-norte-americano/

Além de telefonemas, EUA monitoram e-mails e redes sociais no exterior (Estadão)
http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,alem-de-telefonemas-eua-monitoram-e-mails-e-redes-sociais-no-exterior,1039929,0.htm

Homem que vazou informações secretas dos EUA conta detalhes do monitoramento (Jornal Nacional)
http://globotv.globo.com/rede-globo/jornal-nacional/v/homem-que-vazou-informacoes-secretas-dos-eua-conta-detalhes-do-monitoramento/2626911/


domingo, 26 de agosto de 2012

Liberdade de expressão "globalizada": ainda o caso Wikileaks


“Por que defendemos o Wikileaks e Assange”



Michael Moore e Oliver Stone desmontam argumentos da Suécia e alertam: extradição para os EUA representaria derrota global da liberdade de expressão

Por Michael Moore e Oliver Stone | Tradução: Daniela Frabasile

Passamos nossas carreiras de cineastas sustentando que a mídia norte-americana é frequentemente incapaz de informar os cidadãos sobre as piores ações de nosso governo. Portanto, ficamos profundamente gratos pelas realizações do WikiLeaks, e aplaudimos a decisão do Equador de garantir asilo diplomático a seu fundador, Julian Assange – que agora vive na embaixada equatoriana em Londres.

O Equador agiu de acordo com importantes princípios dos direitos humanos internacionais. E nada poderia demonstrar quão apropriada foi sua ação quanto a ameaça do governo britânico, de violar um princípio sagrado das relações diplomáticas e invadir a embaixada para prender Assange.

Desde sua fundação, o WikiLeaks revelou documentos como o filme “Assassinato Colateral”, que mostra a matança aparentemente indiscriminada de civis de Bagdá por um helicóptero Apache, dos Estados Unidos; além de detalhes minuciosos sobre a face verdadeira das guerras contra o Iraque e Afeganistão; a conspiração entre os Estados Unidos e a ditadura do Yemen, para esconder nossa responsabilidade sobre os bombardeios no país; a pressão do governo Obama para que outras nações não processem, por tortura, oficiais da era-Bush; e muito mais.

Como era de prever, foi feroz a resposta daqueles que preferem que os norte-americanos não saibam dessas coisas. Líderes dos dois partidos chamaram Assange de “terrorista tecnológico”. E a senadora Dianne Feinstein, democrata da Califórnia que lidera o Comite do Senado sobre Inteligência, exigiu que ele fosse processado pela Lei de Espionagem. A maioria dos norte-americanos, britânicos e suecos não sabe que a Suécia não acusou formalmente Assange por nenhum crime. Ao invés disso, emitiu um mandado de prisão para interrogá-lo sobre as acusações de agressão sexual em 2010.
Todas essas acusações devem ser cuidadosamente investigadas antes que Assange vá para um país que o tire do alcance do sistema judiciário sueco. Mas são os governos britânico e sueco que atrapalham a investigação, não Assange.

Autoridades suecas sempre viajaram para outros países para fazer interrogatórios quando necessário, e o fundador do WikiLeaks deixou clara sua disposição de ser interrogado em Londres. Além disso, o governo equatoriano fez uma oferta direta à Suécia, permitindo que Assange seja interrogado dentro de sua embaixada em Londres. Estocolmo recusou as duas propostas.

Assange também comprometeu-se a viajar para a Suécia imediatamente, caso o governo sueco garanta que não irá extraditá-lo para os Estados Unidos. Autoridades suecas não mostraram interesse em explorar essa proposta, e o ministro de Relações Exteriores, Carl Bildt, declarou inequivocamente a um consultor jurídico de Assange e do WikiLeaks que a Suécia não vai oferecer essa garantia. O governo britânico também teria, de acordo com tratados internacionais, o direito de prevenir a reextradição de Assange da Suécia para os Estados Unidos, mas recusou-se igualmente a garantir que usaria esse poder. As tentativas do Equador para facilitar esse acordo entre os dois governos foram rejeitadas.

Em conjunto, as ações dos governos britânico e sueco sugerem que sua agenda real é levar Assange à Suécia. Por conta de tratados e outras considerações, ele provavelmente poderia ser mais facilmente extraditado de lá para os Estados Unidos. Assange tem todas as razões para temer esses desdobramentos. O Departamento de Justiça recentemente confirmou que continua a investigar o WikiLeaks, e os documentos do governo australiano de fevereiro passado, recém-divulgados afirmam que “a investigação dos Estados Unidos sobre a possível conduta criminal de Assange está em curso há mais de um ano”. O próprio WikiLeaks publicou emails da Stratfor, uma corporação privada de inteligência, segundo os quais um júri já ouviu uma acusação sigilosa contra Assange. E a história indica que a Suécia iria ceder a qualquer pressão dos Estados Unidos para entregar Assange. Em 2001, o governo sueco entregou à CIA dois egípcios que pediam asilo. A agência norte-americana entregou-os ao regime de Mubarak, que os torturou.

Se Assange for extraditado para os Estados Unidos, as consequência repercutirão por anos, em todo o mundo. Assange não é cidadão estadunidense, e nenhuma de suas ações aconteceu em solo norte-americano. Se Washington puder processar um jornalista nessas circunstâncias, os governos da Rússia ou da China poderão, pela mesma lógica, exigir que repórteres estrangeiros em qualquer lugar do mundo sejam extraditados por violar suas leis. Criar esse precedente deveria preocupar profundamente a todos, admiradores do WikiLeaks ou não.

Conclamamos os povos britânico e sueco a exigir que seus governos respondam algumas questões básicas. Por que as autoridades suecas recusam-se a interrogar Assange em Londres? E por que nenhum dos dois governos pode prometer que Assange não será extraditado para os Estados Unidos? Os cidadãos britânicos e suecos têm uma rara oportunidade de tomar uma posição pela liberdade de expressão, em nome de todo o mundo.


Sobre o tema, veja também entrevista de Noam Chomsky

“Querem vencer Assange pelo cansaço”

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

"Liberdade de expressão": argumento para gregos e troianos...?

Wikileaks e o paradoxo da liberdade de expressão

Fonte: Bia Martins, do Autoria em Rede

Mais uma vez, vou fugir um pouco do tema do blog para falar de outros aspectos da comunicação digital que estão desestabilizando o modo tradicional de circulação da informação. Estou me referindo especificamente ao Wikileaks, para quem ainda não sabe, uma organização internacional que divulga dados confidenciais, vazados de governos ou empresas, sobre temas sensíveis. Entre eles, um vídeo de 2007 que mostra o ataque de um helicóptero do exército norte-americano em Bagdá, que matou pelo menos 12 pessoas, entre elas dois jornalistas da agência de notícias Reuters; além de documentos secretos que confirmam a morte de milhares de civis no guerra do Afeganistão em decorrência da ação militar dos EUA.

Mais informações sobre o tema na Wikipédia

Ou direto no site do Wikileaks

Atualmente Julian Assange, seu fundador e um dos atuais coordenadores, está refugiado na embaixada do Equador em Londres. Ele responde a acusações de estupro e abuso sexual na Suécia, as quais nega, e corre o risco de ser extraditado para os Estados Unidos, onde pode ser processado por espionagem e fraude. Há especulações de que ele possa ser condenado à morte, já que um de seus principais informantes, o militar americano Bradley Manning, está preso em confinamento solitário há dois anos e meio na base naval de Quantico, sem direito sequer a julgamento.

Paulo Moreira Leite faz uma boa avaliação do caso aqui

Aí então é que surgem as perguntas: por que divulgar informações que são de interesse público é crime? Por que Assange foi transformado no inimigo público número um dos EUA? Além disso, por que organizações financeiras como Bank of America, VISA, MasterCard e PayPal bloquearam as doações ao Wikileaks? A liberdade de expressão não é um valor defendido com unhas e dentes pelos governos dos EUA e Inglaterra? O que mudou, afinal?

Antes da Internet, o modelo de produção e distribuição de notícias era bastante centralizado: poucas empresas jornalísticas tinham o monopólio sobre os dados aos quais a sociedade teria acesso. Mas, já há algum tempo, essa situação mudou, pois os produtores e disseminadores da informação se multiplicaram. Embora os meios de comunicação de massa, como televisão, jornal impresso e rádio, tenham ainda maior poder de penetração, sites e blogs constroem um contraponto à narrativa dominante, facilitando a circulação de posições políticas diversas e dificultando a constituição de um discurso único.

O Wikileaks trouxe um elemento a mais: a possibilidade de forçar a transparência de dados estratégicos, tanto do governo como de empresas. Para isso, conta com a ajuda de informantes anônimos, que repassam as informações de dentro dessas organizações. O meio digital facilita a operação, não só porque torna mais vulnerável o bloqueio ao acesso de dados, mas também porque permite sua rápida e ampla difusão. Um bom hacker pode fazer tudo isso sem deixar rastros…
Talvez o título deste post esteja incorreto. De fato, o paradoxo não é da liberdade de expressão, mas sim da forma pela qual essa bandeira tem sido levantada por governos ditos democráticos: dependendo dos interesses em jogo, do que se quer mostrar ou esconder, essa liberdade é incentivada ou criminalizada. Hoje, através das redes, não há mais como deter o livre fluxo da informação, doa a quem doer. O interesse público agradece.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Como é que um discurso se legitima?

Museu nos EUA cancela mostra com desenhos de crianças palestinas

Fonte: Caros Amigos

Trabalhos mostram conflitos e sofrimento provocados pelos ataques a Gaza

palestina-i3

Da Redação

Pressões de organizações pró-Israel motivaram o cancelamento de uma exposição de desenhos de crianças palestinas programada no Museu de Arte para Crianças (Mocha), em Oakland, nos Estados Unidos. A mostra estava prevista para ocorrer em setembro, promovida pela Aliança do Oriente Médio para a Infância (Meca).

Mais sobre Oriente Médio:
Gershon Knispel: os protestos trouxeram Gilad Shalit de volta para casa
José Arbex Jr. fala sobre as provocações e ameaças de Israel em cima do Irã
Batizada em tradução livre de "Um olhar de criança sobre Gaza", as imagens proibidas foram feitas por crianças palestinas e abordam os conflitos com Israel. "Os únicos ganhadores aqui são os que gastam milhões de dólares para censurar toda crítica a Israel e o silenciamento das vozes das crianças que vivem todos os dias sob o cerco militar e com a ocupação", afirmou a diretora executiva da Meca, Barbara Lubin, em entrevista ao site do Movimento Palestina Livre.

Confira abaixo algumas das imagens proibidas no museu dos Estados Unidos e que circulam em blogs e emails.

palestina-ninos-dibujos-11234-580x390

palestina-ninos-dibujos-1-580x423

palestina-ninos-dibujos-12-580x411

palestina-ninos-dibujos-120-580x389

palestina-ninos-dibujos-18-580x421


palestina-ninos-dibujos-17-580x403-1

palestina-ninos-dibujos-121-580x407