Mostrando postagens com marcador repórteres sem fronteiras. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador repórteres sem fronteiras. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Laivos da Operação Condor? - II

Brasil é apenas o 104º no ranking de liberdade de imprensa



Do Justificando

Por Mauro Donato*

Segundo o mais recente ranking sobre liberdade de imprensa da ONG Repórteres Sem Fronteira, o Brasil ocupa a 104ª posição. Caiu 5 posições (havia caído 9 em 2013 e agora desceu mais um pouco). Centésima quarta posição entre 180 países é uma colocação preocupante e vexatória. Determinantes para a queda foram o aumento da violência contra jornalistas, o registro de ameaças e a quantidade de mortos durante o ano passado. Total de sete jornalistas assassinados.

Como pode isso?
Para os leitores dos grandes jornais, telespectadores dos canais abertos de TV e ouvintes das grandes rádios, um ranking desses irá soar como peça de ficção. Claro, nada disso acontece com os jornalistas que trabalham para aquela meia dúzia de famílias detentoras de quase oitenta por cento da mídia. Estes estão alinhados e repetem em uníssono o que seus chefes querem que seja dito e escondem o que seus patrões desejam que seja escondido.

A perseguição é sobre os independentes, é inegável. Veja quantas dificuldades o DCM enfrentou ao publicar o documentário Helicoca. “É um ambiente de medo para os jornalistas, sobretudo os jornalistas independentes, blogueiros”, disse Emanuel Colombié, chefe do departamento de pesquisas da Repórteres Sem Fronteiras.

Mas e o cinegrafista da Band? A tragédia ocorrida com Santiago Andrade em 2014 foi um acidente. Terrível, mas um acidente. Ninguém lançou a bomba propositalmente no cinegrafista da Band e, infelizmente, o caso dele é um bom exemplo da disparidade no tratamento da questão quando acontece com um ‘deles’. Toda a cobertura dramática, a dedicação em apontar os culpados, o enunciado destacando que as manifestações faziam sua “primeira vítima fatal”. Santiago era então a 11ª pessoa a morrer, não a primeira, desde os protestos de 2013 e dezenas de outros jornalistas já haviam sido feridos, muitos com gravidade como a perda de um olho e outros tendo seus equipamentos destruídos ou confiscados. Mas eram todos independentes e os casos não vieram para as manchetes.

O oligopólio da mídia brasileira é um dos principais motivos para o atraso do país. Seu monobloco alienador faz com que andemos para trás em diVersos rankings como de liberdade de imprensa ou de educação. Desinforma para manter seus privilégios.

Um exemplo nítido: Desinformados, muitos combateram o Marco Civil Regulatório da internet. Lobotomizados pela mídia unificada, diziam que se tratava de censura, que o PT queria controlar a rede. Agora estão aí desesperados com a notícia de que as operadoras desejam limitar e cobrar o acesso de forma diferenciada. E aqui mais uma vez vale a pena observar a cobertura jornalística atual sobre o tema. As operadoras de telefonia são grandes anunciantes. Em razão disso, a Globo tem se empenhado em explicar o porque da medida. Com infográficos, depoimentos técnicos minuciosos e longas reportagens, está claramente defendendo os amigos que detêm outro oligopólio.

Os barões da mídia estão pouco se lixando para um ranking como o do Repórteres sem Fronteira. Estão sempre atuando em bloco. Basta observar a reação orquestrada às notícias internacionais recentes. O Guardian, o New York Times, o Fìgaro e outros jornais estão tratando com seriedade e preocupação o que se passa por aqui no cenário político. E nem era para ser diferente. Para quem está de fora fica ainda mais evidente o teatro. Vá explicar para um gringo que quase 400 deputados com a ficha suja votaram pelo impeachment de alguém sem prova de crime.

Ato contínuo, a mídia brasileira dedica-se a desqualificar essa leitura. Renata LoPrete, da GloboNews, disse que eram comentários superficiais, carentes de fundamentações. Curioso é que a mesma mídia internacional é vista como rainha da cocada preta quando comenta sobre nossa economia interna, dá seus pitacos prevendo até o que ainda não ocorreu. Quando é para especular, tudo bem?

A mando das diretorias, as redações alternam o complexo de vira-lata com uma soberba vomitiva. Portanto, na grande mídia você não verá destaque para este vergonhoso ranking da Repórteres sem Fronteira, lá o que importa são os rankings de economia.

O ranking da ONG só confirma o quanto é perigoso, para um jornalista, não fazer parte da mídia dos Marinho, dos Saad, dos Mesquita. Para o público em geral, perigoso é informar-se apenas por ali. Vira vítima das operadoras de telefonia, do mercado automobilístico, da especulação imobiliária, financeira, e assim vai. Todo tipo de golpe fica fácil num ambiente assim.

*Mauro Donato é Jornalista, escritor e fotógrafo nascido em São Paulo

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Notícias sobre as notícias

Repórteres Sem Fronteiras denuncia mídia brasileira por apoio ao golpe

ScreenHunter_41 Apr. 21 18.18

O mundo acordou de vez para o golpismo alucinado da imprensa brasileira. A ong Repórteres Sem Fronteiras, que faz um dos rankings mais respeitados do mundo sobre liberdade de expressão, rebaixou o Brasil mais cinco pontos, para 104, num conjunto de 180 países. Em 2010, o Brasil estava em 58º lugar.

Diferente do que ocorre em alguns países, porém, o rebaixamento não ocorre por repressão de governos a jornalismo crítico, e sim o contrário: pela adesão de empresas de comunicação a uma agenda política antidemocrática. A ONG denuncia, sem meias palavras, o apoio da mídia brasileira ao golpe como uma das razões para o rebaixamento da pontuação do Brasil no ranking de liberdade de expressão.

Vou traduzir apenas um trecho. Os internautas que quiserem traduzir a íntegra, divulguem aí nos comentários.

Trecho:
"(...) AO mesmo tempo, a propriedade dos meios de comunicação continua concentrada em mãos das famílias mais ricas, ligadas à classe política.
O problema dos "coroneis midiáticos", que a RSF descreveu em 2013 em seu relatório "O país dos 30 Berlusconis" continua intocável.
Os "coroneis" são usualmente proprietários de terras, industriais, que também são deputados ou governadores, e controlam a opinião pública em suas regiões através dos meios de comunicação. Como resultado, os meios de comunicação são fortemente dependentes dos centros de poder político e econômico.
A cobertura da mídia brasileira à crise política em curso acentuou esse problema. De maneira pouco velada, os principais meios de comunicação incitaram o público a ajudar na derrubada da presidenta Dilma Rousseff.
Os jornalistas que trabalham nestes grupos estão claramente sujeitos à influência de interesses privados e partidários, e este permanente conflito de interesses prejudicam fortemente a qualidade de suas reportagens."
***
No site da ONG Repórteres Sem Fronteiras.

April 20, 2016

Brazil falls in Press Freedom Index, now 104th

Continuing conflicts of interest in the Brazilian media and a very disturbing level of violence against journalists have caused Brazil to fall another five places in the 2016 World Press Freedom Index, published today by Reporters Without Borders (RSF).

Brazil is now ranked 104th out of 180 countries, a position clearly unworthy of a country meant to be a regional model. It was ranked 58th in 2010.

Why has this happened? The most important reason is increasing violence against journalists and a lack of political will at the highest level to protect journalists effectively. As well as the fall in the rankings, Brazil’s performance indicator, which measures the level of media freedom violations, rose from 25.78 in 2014 to 31.93 in 2015 – a significant deterioration.
The Latin American giant nonetheless remains ahead of some of its regional neighbours such as Ecuador (109th), Guatemala (121st), Colombia (134th), Venezuela (139th), Mexico (149th) and Cuba (174th).
In Brazil, an economic recession and political instability have reinforced the main obstacles to media freedom and the climate of hostility towards journalists. At the same time, media ownership continues to be concentrated in the hands of leading industrial families linked to the political class.
The problem of Brazil’s “colonels,” which RSF described in 2013 in its report, “The country of 30 Berlusconis,” has continued unabated. The so-called “colonels’ are usually major landowners or industrialists who are also legislators or state governors and who control opinion-making in their regions because, directly or indirectly, they own several local media outlets. As a result, the media are heavily dependent on the centres of economic and political power.

Brazilian media coverage of the country’s current political crisis has highlighted the problem. In a barely veiled manner, the leading national media have urged the public to help bring down President Dilma Rousseff. The journalists working for these media groups are clearly subject to the influence of private and partisan interests, and these permanent conflicts of interests are clearly very detrimental to the quality of their reporting.

Brazil’s fall in the Index is also the result of the lack of a national mechanism for protecting journalists in danger and for combatting the prevailing impunity for crimes of violence against journalists, which is facilitated by the ubiquitous corruption.

With seven journalists murdered in 2015 alone, Brazil continues to be the western hemisphere’s third deadliest country for media personnel, after Mexico and Honduras. All of them were investigating sensitive subjects such as corruption and organized crime.
 
Organized crime’s firm hold on certain regions far from any major city makes covering these subjects particular complicated there, while the failure to punish most murders of journalists encourages their recurrence.

Finally, there has been no let-up in the growing problem of military police violence against journalists during street demonstrations, a problem that began in 2013. Both Brazilian and foreign journalists covering demonstrations are often insulted, threatened or arbitrarily detained. They are also often directly targeted by demonstrators, who identify them with the owners of the media they work for.
Published annually by RSF since 2002, the World Press Freedom Index measures the level of freedom available to journalists in 180 countries using the following criteria – pluralism, media independence, media environment and self-censorship, legislative environment, transparency, infrastructure, and abuses.