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terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Mídia, mídias, sistema midiático

Países do Brics partilham sistema de mídia que defende interesses da elite, diz pesquisadora





Raquel Paiva, coordenadora de estudo que mapeia a mídia no bloco emergente e professora da UFRJ, aponta similaridades do jornalismo nos cinco países
Raquel Paiva é a pesquisadora responsável por coordenar o núcleo brasileiro de pesquisa que faz um mapeamento da mídia nos Brics. Em entrevista a Opera Mundi, a professora de comunicação da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) apresentou os primeiros resultados do estudo comparativo do Brasil com Rússia, Índia, China e África do Sul.

Leia também: Mídia deve ser discutida da mesma forma que política e economia, dizem especialistas dos Brics

Reprodução/UFRJ

Raquel Paiva é professora titular da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro)


A perspectiva inicial é que os problemas de concentração e os interesse econômicos e políticos a frente dos veículos de comunicação é uma questão em comum entre os países do bloco emergente.Na esteira do crescimento dos Brics, Raquel acredita no esforço conjunto de grupos de pesquisa, profissionais e sociedade civil para que o bloco emergente possa também representar um novo modelo comunicacional contra-hegemônico.

Opera Mundi: Por que é importante discutir mídia e comunicação social na perspectiva dos Brics? O que há em comum entre os países que compõe o bloco em termos de comunicação?
Raquel Paiva: Acredito que da mesma maneira que se discutem outras variáveis com relação a este bloco que se iniciou e se consolidou a partir principalmente do viés econômico, outras forças também passam a ser elencadas como passíveis de discussão. Até mesmo questões que estejam de fato relacionadas à vida de suas populações e à solução de problemas seculares. A comunicação social em todas as abordagens é fundamental neste contexto.

De comum entre os países que compõe este bloco acho que há principalmente o sofrimento da maior parte da população, a existência de castas e elites transnacionais, um sistema de mídia que defende os interesses dessa elite politica e econômica, concentração de veículos, uma legislação restritiva de produção e um avanço tecnológico que pode interferir de maneira decisiva nessa concentração dos centros produtores de informação e entretenimento.

OM: Enquanto bloco emergente, você acredita que os países que integram os Brics podem apresentar contribuições para pensar a comunicação para além de uma lógica hegemônica? Ou seja, é possível pensar em novas formas de produção que nascem na esteira de uma nova organização mundial?
RP: Bom acho que sim, é possível idealizar e mesmo gestar novas formas de comunicação. Mas até agora constatamos a presença do mesmo modelo e com uma censura forte que se não é politica, mas é econômica. Não sei exatamente se estas novas possibilidades discursivas surgiriam a partir de um novo bloco governamental, mas acredito firmemente que grupos de pesquisa, de professores, de jornalistas desse bloco capazes de dialogar podem sim gestar novas possibilidades informacionais e comunicacionais.


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sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Novas mídias articuladas formarão a próxima grande mídia


  

9.12.2015 - 9:36  

debate Mídia de Massas e Massas de Mídia trouxe para o Emergências a apresentação de destacadas experiências de comunicação alternativas à tradicional grande mídia. O debate foi realizado na tarde dessa terça-feira (8) no palco principal da Fundição Progresso, no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro (RJ).

A mesa formada majoritariamente por mulheres foi mediada pela secretária da Cidadania e da Diversidade Cultural do Ministério da Cultura (MinC), Ivana Bentes, que definiu a proposta do debate como uma pequena mostra de projetos latino-americanos que resolveram não esperar o fim dos oligopólios midiáticos por meio de regulamentação legal, passando à experimentação em verdadeiros "laboratórios de novas narrativas". Nas palavras da secretária, "a articulação dessas novas mídias é a nova grande mídia".

Debate Mídia de Massas e Massas de Mídia trouxe para o Emergências a destacadas experiências      de comunicação alternativas à tradicional grande mídia (Foto: Rafael Vilela)
A experiência dos Jornalistas Livres foi apresentada pela jornalista Laura Capriglione. Por meio de um detalhado relato sobre as recentes ocupações de escolas públicas de São Paulo e sobre a cobertura realizada pelos próprios estudantes, por seu coletivo e pela mídia tradicional dessas mobilizações, ela reafirmou a necessidade e a possibilidade concreta de se criarem narrativas contra-hegemônicas com alcance massivo.

Descontentes com o tratamento truculento que recebiam do governo e da imprensa, que os tratavam como vândalos, os estudantes organizaram em todas as escolas ocupadas uma página no Facebook e oficinas para aprenderem a fotografar e a conceber, filmar e editar vídeos, por exemplo. Tudo com ajuda de vários outros coletivos, entre eles os Jornalistas Livres, que conseguiram gravar e publicar falas do então secretário de Educação de São Paulo revelando sua tática de guerra contra os jovens. 

"Descobrimos que eles [Governo de São Paulo] iriam fazer uma reunião com os diretores para preparar essa guerra e esse foi exatamente o termo que eles usaram. E isso foi gravado. E imediatamente os jovens foram pra rua para falar: se quer guerra terá, se quer paz quero em dobro", contou Capriglione.

#YoSoy132

Vinda do México, Ana Rolón contou a história do movimento estudantil #YoSoy132, nascido de um protesto feito por 131 estudantes da Universidade Ibero-americana durante uma visita do então candidato à presidência do México Enrique Piñera Nieto, acusado de violar os direitos humanos. Hostilizados pelo candidato e chamados de "manifestantes pagos", os estudantes publicaram um vídeo na internet sobre o ocorrido que, em menos de uma hora, obteve mais de 1 milhão de visualizações.   

"Aí percebemos a internet como uma ferramenta poderosa para democratizar a comunicação. Por suas qualidades rizomática e democrática, ela apresentava novas soluções para responder às nossas novas necessidades", relatou. 

Com a viralização do vídeo, espalhou-se pela rede também a hashtag #YoSoy132 em apoio aos estudantes. Daí nasceria o movimento que, durante as eleições, conseguiu realizar um debate com os candidatos a presidente transmitido ao vivo via internet e sem a participação de Piñera, que se negou a comparecer. Esse vídeo hoje possui quase 1,5 milhão de visualizações no canal do movimento no Youtube. Passado o pleito, os estudantes transformaram seus canais digitaisem espaços de difusão de conteúdos relacionados a pautas de movimentos sociais.

Também do México e com inspiração no movimento Zapatista, o espaço de comunicaçãoDesinformémonos foi apresentado pela jornalista Gloria Munhoz como uma tentativa de combater a criminalização de lutas sociais e, ao mesmo tempo, refletir criticamente sobre elas. "O conceito é desaprender um monte de coisas que nos ensinaram e não ter só uma informação complementar, mas outra informação, construída de baixo para cima", definiu Munhoz, agregando que atualmente os conteúdos postados por eles nas redes sociais tem em média 35 milhões de interações por semana.

Uma experiência similar, mas concebida no Uruguai, foi contada por Lucas Silva, um dos integrantes do jornal-cooperativa La Diária. "A proposta é ampliar a agenda informativa, de maneira contextualizada e enfocando temas como gênero, direitos humanos, economia solidaria e outros", destacou.

O jornalista colombiano Holman Morris falou sobre sua experiência como diretor da TV pública da cidade de Bogotá. Criador do programa de TV Contravia, que mostrava as violações aos direitos humanos "em uma época em que o governo de Alvaro Uribe dizia que na Colômbia não havia conflito armado, nem desaparecidos", Morris afirmou ter sido preso arbitrariamente duas vezes e exilado por retaliação ao seu trabalho. 

O jornalista voltou a seu país convidado para assumir o cargo na TV pública de Bogotá com a missão de coloca-la a serviço dos direitos humanos e de uma cultura de paz. "Vimos que não basta ter um canal. O importante era fazer diferente do tradicional, aprender como relatar, projetar e qual era a agenda própria desse canal. Então, entregamos o canal às pessoas: aos movimentos jovens, Hip Hop, LGBT, ambientalistas. Uma TV de muitas caras e cores", contou.

Já o ator e humorista brasileiro Gregório Duduvier pouco falou sobre seu projeto Porta dos Fundos, dedicando seu tempo às críticas sobre as relações promíscuas que tanto a política como os meios de comunicação mantêm com o grande capital, o que limitaria o potencial transformador de ambos. Porém, todas as ações de caráter conservador por eles praticadas são justificadas em nome "do suposto gosto conservador do povo", disse ele.  

"Sempre tive que lidar com críticas ao humor que faço com frases do tipo ‘o povo não gosta disso', com base em pesquisas que ninguém nunca viu. Cansei de ouvir isso quando era contratado da Globo e no começo do Porta dos Fundos também. E o humor da TV aberta são as mulheres objetificadas, os homens desmunhecando, o caipira, o negro, são sempre as minorias. Basicamente, eles batem nas mesmas pessoas que a polícia", ironizou.

sábado, 28 de novembro de 2015

Negritude e comunicação social

O novembro negro e os meios de comunicação

Escrito por: Alex Hercog
Fonte: Carrta Capital/Intervozes, via FNDC

É preciso disputar os lugares de produção de sentidos, como a mídia, para acabar com o racismo

Em uma entrevista, Cartola afirmou que uma de suas principais canções, “O sol nascerá”, foi gravada sem que ele soubesse, pois um atravessador havia vendido a composição. Ela, então, foi trabalhada por mais de 25 artistas. Cartola, cujo avô foi escravizado, morreu como nasceu: pobre.
O sambista carioca era torcedor do Fluminense. Dois anos antes de Cartola escolher o tricolor como time do coração, um episódio marcou a história do clube: o jogador Carlos Alberto foi provocado pela torcida do América, que o chamou de “pó de arroz”. Negro, o atacante tricolor sempre passava pó no rosto antes das partidas para dar uma esbranquiçada. Até hoje, o time adota o pó de arroz como símbolo.
dez-mandamentos
Bastidores da gravação da novela Os Dez Mandamentos, da Tv Record
Passado quase um século, ainda tem gente no Brasil que se pinta para mudar a cor da pele. É o caso dos atores da emissora da Igreja Universal. Na novela de sucesso “Os Dez Mandamentos”, boa parte da história se passa no norte da África e os personagens não são majoritariamente brancos. Os atores, contudo, são. Em vez de contratar atores afrodescendentes, a escolha da Record foi de dar os principais papéis para atores brancos, que são tornados “morenos” com quilos de maquiagem.
Na TV da família Marinho, “somos todos Maju”. Mas não negros. Os apresentadores e apresentadoras da emissora e de suas afiliadas são majoritariamente brancos. Na principal novela em exibição, “A Regra do Jogo”, são 48 atores e atrizes no seu elenco central. 43 são brancos e 5 são negros. Os personagens são descritos pela emissora da seguinte forma: “Ninfa: beldade do morro e semideusa do funk”; “Dênis: bandido e membro da facção criminosa”; “Iraque: bonito e sedutor; mototaxista da comunidade”; “Indira: sensualíssima e cabeça dura” e “Dinorah: empregada doméstica há mais de 30 anos”.
O favelado compunha o samba, mas não ganhava dinheiro; o branco gravava e ficava rico. Não bastava o atacante ser bom de bola, precisava se pintar para não parecer tão negro. Se o personagem for um imperador, da elite social, ainda que africano, o papel tem que ser dado para um ator branco. Mas se o personagem for bandido, desenvolva um trabalho de baixa remuneração ou tenha apelo sexual, então o ator negro é o ideal para interpretá-lo.
E não só no campo do entretenimento seguem as opressões. No dia 18 de novembro, mais de 15 mil mulheres negras de todos os estados brasileiros marcharam em Brasília contra o racismo, a violência e pelo bem viver. Pouco adiantou para sensibilizar os meios de comunicação, que só transformou a marcha em notícia após um homem branco pró-impeachment ter atirado com um revólver durante a passeata. Ele foi a notícia, não as milhares de mulheres e suas reivindicações.
No dia 20, a marcha da Consciência Negra também reuniu milhares de pessoas em diversas cidades do Brasil. Em Salvador – cidade com mais negros no mundo fora da África – duas grandes passeatas marcaram o dia. Uma delas, que ocorreu no centro, praticamente não foi objeto de cobertura midiática. A outra, na área conhecida como Liberdade, a imprensa compareceu, atraída pela presença do ex-presidente Lula.
Os enquadramentos adotados pelos jornais relevam suas escolhas políticas. “Lula está em Salvador marchando no dia da Consciência Negra” rendeu mais notícia do que, por exemplo, “Movimento Negro quer o fim dos autos de resistência”; “Manifestantes são contra a redução da maioridade penal”; “Participantes pedem justiça no caso da Chacina da Vila Moisés/Cabula”.
Na mídia, aliás, pouco ou quase nada se discute sobre como manter vivos os jovens negros, o que fazer para que a população negra ocupe outros espaços que não os presídios ou também quais políticas públicas devem ser desenvolvidas junto aos moradores de favelas. E isso não ocorre por falta de apelo ou conhecimento. De acordo com o Mapa da Violência, no Brasil são assassinadas 116 pessoas por dia. Quase 70% são negros. Praticamente a mesma porcentagem de negros encarcerados, em um país que tem mais de seiscentos mil presos. Nas favelas, a contagem se repete: 72% dos moradores desses locais se declaram negros.
Portanto, mulheres, músicos, atores e jovens negros: as suas demandas políticas, o seu reconhecimento profissional, a valorização financeira do seu trabalho e o seu direito à vida continuam sendo cerceados. E o são também pelos homens brancos que, por razões históricas, controlam o poder econômico, político, religioso e midiático do país. Para mudar a realidade, é preciso disputar esses poderes. É preciso disputar a comunicação, hegemônica e alternativa, para que outras narrativas produzam novas representações e vivências. Que este novembro fortaleça esse movimento. “Fim da tempestade, o sol nascerá”.

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Regulação ou regulamentação?

Regulação da mídia: conheça os pontos em debate no Brasil

Escrito por: Redação
Fonte: EBC 

Fonte: FNDC (com inclusão de imagens da EBC)

http://www.ebc.com.br/regulacaodamidia
Censura, liberdade de expressão, poder e influência da mídia. São várias as expressões usadas quando o assunto é regulação da mídia. O tema, que já foi alvo de debates e de criação de leis em outros países, ainda é polêmico no Brasil. Enquanto ainda não foi definido um marco regulatório para o tema, o Poder Judiciário tem sido muitas vezes o responsável por cobrar o cumprimento das leis já existentes. O vazio em relação a algumas regras deixa espaço para a veiculação de conteúdos inadequados do ponto de vista dos direitos humanos e que refletem pouco a diversidade do país. Mas afinal, o que significa a regulação da mídia?
O tema da regulação da mídia voltou à tona recentemente nas eleições presidenciais, quando a então candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT) declarou que, se eleita, enfrentaria o debate no âmbito econômico acerca da regulação do setor audiovisual. De lá para cá, o governo não seguiu adiante com a apresentação de uma proposta.
Do mesmo modo como o transporte e a energia, a comunicação é um serviço público: trata-se de um direito previsto na Constituição Federal de 1988. Diferentemente de outros capítulos do texto constitucional – como os relacionados ao meio ambiente – aqueles que se referem ao direito à comunicação ainda não foram regulamentados, o que dificulta a execução e fiscalização desse serviço. Enquanto as leis que tratam desse tema ainda não foram unificadas em torno de um texto comum, a Justiça tem sido acionada para o cumprimento da atual legislação.
No especial do Portal EBC, conheça alguns exemplos de como a falta de regulação das leis pode provocar violação de direitos. Saiba ainda como denunciar casos abusivos cometidos por emissoras de rádio e TV.
Os termos técnicos e contextos históricos e normativos importantes para compreender a discussão também fazem parte do conteúdo. Entre eles está a definição do espectro eletromagnético, a diferença entre regulação e regulamentação, a história da discussão sobre a Comunicação na Assembleia Nacional Constituinte (1988) e a importância do Código Brasileiro de Telecomunicações (CBT). Entenda também como é o modelo de regulação da mídia em outros lugares do mundo, como França, Estados Unidos, Reino Unido, Portugal e Argentina, e alguns projetos sobre regulação que tramitam atualmente no Congresso Nacional.