9.12.2015 - 9:36
O debate Mídia de Massas e
Massas de Mídia trouxe para o Emergências a apresentação de destacadas
experiências de comunicação alternativas à tradicional grande mídia. O debate
foi realizado na tarde dessa terça-feira (8) no palco principal da Fundição
Progresso, no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro (RJ).
A mesa formada majoritariamente por
mulheres foi mediada pela secretária da Cidadania e da Diversidade Cultural do
Ministério da Cultura (MinC), Ivana Bentes, que definiu a proposta do debate
como uma pequena mostra de projetos latino-americanos que resolveram não
esperar o fim dos oligopólios midiáticos por meio de regulamentação legal,
passando à experimentação em verdadeiros "laboratórios de novas
narrativas". Nas palavras da secretária, "a articulação dessas novas
mídias é a nova grande mídia".
Debate Mídia de Massas e Massas de Mídia trouxe para o Emergências a destacadas experiências de comunicação alternativas à tradicional grande mídia (Foto: Rafael Vilela) |
A experiência dos Jornalistas
Livres foi apresentada pela jornalista Laura Capriglione. Por
meio de um detalhado relato sobre as recentes ocupações de escolas públicas de
São Paulo e sobre a cobertura realizada pelos próprios estudantes, por seu
coletivo e pela mídia tradicional dessas mobilizações, ela reafirmou a
necessidade e a possibilidade concreta de se criarem narrativas
contra-hegemônicas com alcance massivo.
Descontentes com o tratamento truculento
que recebiam do governo e da imprensa, que os tratavam como vândalos, os
estudantes organizaram em todas as escolas ocupadas uma página no Facebook e
oficinas para aprenderem a fotografar e a conceber, filmar e editar vídeos, por
exemplo. Tudo com ajuda de vários outros coletivos, entre eles os Jornalistas
Livres, que conseguiram gravar e publicar falas do então secretário de Educação
de São Paulo revelando sua tática de guerra contra os jovens.
"Descobrimos que eles [Governo de
São Paulo] iriam fazer uma reunião com os diretores para preparar essa guerra e
esse foi exatamente o termo que eles usaram. E isso foi gravado. E
imediatamente os jovens foram pra rua para falar: se quer guerra terá, se quer
paz quero em dobro", contou Capriglione.
#YoSoy132
Vinda do México, Ana Rolón contou a
história do movimento estudantil #YoSoy132, nascido de um protesto feito por
131 estudantes da Universidade Ibero-americana durante uma visita do então
candidato à presidência do México Enrique Piñera Nieto, acusado de violar os
direitos humanos. Hostilizados pelo candidato e chamados de "manifestantes
pagos", os estudantes publicaram um vídeo na internet sobre o ocorrido
que, em menos de uma hora, obteve mais de 1 milhão de visualizações.
"Aí percebemos a internet como uma
ferramenta poderosa para democratizar a comunicação. Por suas qualidades
rizomática e democrática, ela apresentava novas soluções para responder às
nossas novas necessidades", relatou.
Com a viralização do vídeo, espalhou-se
pela rede também a hashtag #YoSoy132 em apoio aos estudantes. Daí
nasceria o movimento que, durante as eleições, conseguiu realizar um
debate com os candidatos a presidente transmitido ao vivo via internet e
sem a participação de Piñera, que se negou a comparecer. Esse vídeo hoje
possui quase 1,5 milhão de visualizações no canal do movimento no Youtube.
Passado o pleito, os estudantes transformaram seus canais digitaisem
espaços de difusão de conteúdos relacionados a pautas de movimentos sociais.
Também do México e com inspiração no
movimento Zapatista, o espaço de comunicaçãoDesinformémonos foi
apresentado pela jornalista Gloria Munhoz como uma tentativa de combater a
criminalização de lutas sociais e, ao mesmo tempo, refletir criticamente sobre
elas. "O conceito é desaprender um monte de coisas que nos ensinaram e não
ter só uma informação complementar, mas outra informação, construída de baixo
para cima", definiu Munhoz, agregando que atualmente os conteúdos postados
por eles nas redes sociais tem em média 35 milhões de interações por semana.
Uma experiência similar, mas concebida
no Uruguai, foi contada por Lucas Silva, um dos integrantes do
jornal-cooperativa La Diária. "A proposta é ampliar a agenda
informativa, de maneira contextualizada e enfocando temas como gênero, direitos
humanos, economia solidaria e outros", destacou.
O jornalista colombiano Holman Morris
falou sobre sua experiência como diretor da TV pública
da cidade de Bogotá. Criador do programa de TV Contravia,
que mostrava as violações aos direitos humanos "em uma época em que o
governo de Alvaro Uribe dizia que na Colômbia não havia conflito armado, nem
desaparecidos", Morris afirmou ter sido preso arbitrariamente duas vezes e
exilado por retaliação ao seu trabalho.
O jornalista voltou a seu país
convidado para assumir o cargo na TV pública de Bogotá com a missão de
coloca-la a serviço dos direitos humanos e de uma cultura de paz. "Vimos
que não basta ter um canal. O importante era fazer diferente do tradicional,
aprender como relatar, projetar e qual era a agenda própria desse canal. Então,
entregamos o canal às pessoas: aos movimentos jovens, Hip Hop, LGBT,
ambientalistas. Uma TV de muitas caras e cores", contou.
Já o ator e humorista brasileiro
Gregório Duduvier pouco falou sobre seu projeto Porta dos
Fundos, dedicando seu tempo às críticas sobre as relações promíscuas
que tanto a política como os meios de comunicação mantêm com o grande capital,
o que limitaria o potencial transformador de ambos. Porém, todas as ações de
caráter conservador por eles praticadas são justificadas em nome "do
suposto gosto conservador do povo", disse ele.
"Sempre tive que lidar com
críticas ao humor que faço com frases do tipo ‘o povo não gosta disso', com
base em pesquisas que ninguém nunca viu. Cansei de ouvir isso quando era
contratado da Globo e no começo do Porta dos Fundos também. E o humor da TV
aberta são as mulheres objetificadas, os homens desmunhecando, o caipira, o
negro, são sempre as minorias. Basicamente, eles batem nas mesmas pessoas que a
polícia", ironizou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário