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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

A língua e a vida: imigração no Brasil

Crianças imigrantes enfrentam barreira da língua e despreparo da rede de ensino

Nos últimos dez anos, cresceu o número de imigrantes no país. Embora o acesso à escola seja facilitado, faltam planejamento e formação específica para os professores 



Crianças imigrantes têm dificuldade para acompanhar ensino; rede não contempla suas necessidades


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São Paulo – Do início de sua colonização, em 1530, até a década de 1930, quando deixou de incentivar a vinda de imigrantes estrangeiros, o Brasil fez a fama de país da imigração, sinônimo de acolhimento de vários povos em busca de novas oportunidades. A partir dos anos 2000, com a crise econômica internacional e o início do período de estabilidade da economia brasileira, especialmente a partir de 2003, o país voltou a viver um novo ciclo. Daí que até 2010, conforme dados do IBGE, a população estrangeira cresceu 86,7%.  Segundo dados da Polícia Federal, referentes a janeiro passado, vivem no Brasil atualmente 1.033.257 estrangeiros.

A política brasileira para o acesso de imigrantes à escola pública é considerada avançada. Uma criança estrangeira pode ser matriculada sem a exigência de documentação. Em compensação, ainda não existe nos sistemas de ensino estaduais e municipais um planejamento pedagógico para esse acolhimento e muito menos disciplinas específicas para esse fim nos cursos de licenciatura ou outros voltados à formação de professores.

"Muita gente nem sabe que existem imigrantes na sala de aula. E em geral, a formação acaba sendo feita por organizações e centros que recebem imigrantes", afirma a professora da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo Leda Rodrigues. Docente no Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação, ela pesquisa principalmente os efeitos da desigualdade social no acesso ao ensino superior brasileiro.

Segundo Leda, sem formação adequada, os professores não têm como desenvolver um trabalho pedagógico que, entre outras coisas, proporcione aprendizado às crianças brasileiras e estrangeiras a partir do estudo das diferenças culturais e de linguagem existentes entre os dois grupos. "Essa troca de informações traz muitos benefícios, permite que as crianças brasileiras aprendam com as estrangeiras e vice-versa. Mas é preciso preparo para este trabalho. A academia ainda sabe muito pouco sobre isso, que começa a ser discutido nos cursos de especialização, em pesquisas, nos trabalhos de conclusão de curso. Mas a universidade vai ter de contemplar isso na formação."

Muitas crianças imigrantes, conforme a professora, acabam aprendendo mais pelo próprio esforço e envolvimento da família do que pelo que recebe dos professores. "Há crianças bolivianas que frequentam as aulas e, por repetição, aprendem a língua e os conteúdos e até vão bem. Os pais que acompanham as lições de casa reclamam na escola", diz Leda.

A situação afeta sobretudo crianças vindas da Bolívia, Peru, Paraguai e outros países latino-americanos, além de africanas, que vieram com os pais em busca de melhores condições de vida do que as que tinham em sua terra natal. Estrangeiros em melhores situação econômica, como chineses, japoneses, árabes, além de europeus e americanos, em sua maioria procuram escolas particulares, com preparo para essa inclusão, para matricular seus filhos.

O tema, no entanto, ganha cada vez mais importância em todo o mundo quando a questão dos refugiados ocupa grande parte da agenda de muitos países. Em muitos deles, sobretudo europeus, têm sido organizados congressos e outros encontros para troca de informações e discussão de saídas. E as universidades, em seus programas de pós-graduação, começam a estudar as imigrações, a integração desses estrangeiros em seus novos espaços e a inserção social dadas às grandes diferenças culturais.
"Os temas colocados são os que de fato estão na escola, bem como os conceitos que estão por trás disso. Antes se falava em aculturação, com o imigrante tendo de aceitar a cultura imposta pela nação que recebe. Para contornar a imposição da língua, alemães e italianos que vieram para o sul do país acabaram criando núcleos para manter viva sua língua e cultura, que tornaram-se cidades. Hoje se discute como essa cultura deve ser aceita pelo povo que recebe o imigrante".

Para discutir alfabetização e escolarização do imigrante, imigração atual e práticas escolares e a educação e imigração atual no Brasil, o grupo de pesquisa sobre movimentos migratórios e educação do programa de pós-graduação da PUC-SP está organizando um seminário internacional. O encontro, com a presença confirmada de especialistas estrangeiros, ocorre entre 1º e 3 de março.

O curso é aberto a professores e alunos de graduação em educação e professores da rede pública de ensino. "Não vamos trazer a solução, mas discutir alternativas para esses desafios", diz Leda.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Debate, dissenso, ética - um caso corriqueiro do que circula sobre língua e linguagem

Um blog

Sírio Possenti
De Campinas (SP)

Um passarinho me contou que o Prof. Sacconi mantém um blog. Juro que não sabia. Na verdade, devo dizer que, junto com a preciosa informação, vinha um trecho de uma mensagem de um discípulo que citava trecho que uma diatribe do referido professor contra mim. Quer dizer, acho que era contra mim, embora meu nome não fosse citado. No final ele se dirige a um tal de Sr. Libanês. Como meu nome é "Sírio"...

Dei uma espiada no blog no final de semana. A cada dia, o professor posta um pequeno texto. Em geral, trata-se de correções de erros catados na imprensa (talvez alguns sejam respostas a consultas de leitores - tem gente pra tudo): regências, ortografia, concordância, adequação de emprego de artigo etc. Em geral, ele se diverte um pouco, rindo dos que erram. Típico.
Sua bronca foi publicada há dez ou quinze dias, foi postada de novo ontem e reproduzida hoje (quarta feira, 9/4/2008) "para que fique sempre atual", diz ele. O elegante e culto prof. Sacconi escreveu (mantenho a caixa alta):

ESPÍRITO DE PORCO EXISTE EM TODO LUGAR. MAS NUNCA É DE ESPERAR QUE SE ENCONTRE UM ESPÍRITO DE PORCO NUMA UNIVERSIDADE. E NUMA UNIVERSIDADE TÃO CONCEITUADA!!! CONCLUSÃO: ESPÍRITO DE PORCO EXISTE MESMO EM TODO LUGAR.

Fiquei impressionado com sua análise. Original, sobretudo.

Quase ao final, acrescenta: "Faltar à ética é que é fascismo, seus boçais! Os dois escreveram apenas dois opúsculos, um chamado Por que (não) ensinar gramática nas escolas, um lixo" (o título está errado: é "na escola"). "Seus boçais", no plural, se deve ao fato de que ele se vale de uma resenha crítica que Artur Virmond de Lacerda Neto escreveu contra o livro Preconceito Lingüístico, de Marcos Bagno. Se, pelo menos, a resenha fosse dele...

Em alguma parte do texto, defendendo sua exposição errada do conceito de fonema, alega a necessidade de ser didático. Afinal, sua gramática (de muito sucesso, segundo ele; deve saber do que fala, o barulhinho das moedas deve ser inconfundível) se dirige a alunos iniciantes e não aos de final de curso universitário.

Pelo menos, reconhece que o conceito exposto pode não estar correto, está lá apenas como efeito de seu didatismo (segundo ele, uma qualidade inata). Acho que discordo dele: para ser didático, deveria mostrar que é capaz de "passar" o conceito correto a seus leitores. Assumir que, para simplificar, ou ser compreendido, é lícito ensinar errado, é um grave problema ético (e profissional). Não sei se livros de biologia, para serem didáticos, expõem conceitos como o de célula erradamente. Espero que não. O MEC tem estado relativamente atento a erros conceituais, exceto no que se refere aos livros de português, pelo que tenho visto...

Mas o que eu queria mesmo saber é o que Sacconi considera ético. Uma hipótese: que um "colega" não critique outro. A Terra Magazine fornece um endereço para que os leitores possam falar com os colunistas. Houve quem me escrevesse perguntando por que os "gramáticos" não entram num acordo ou, alternativamente, por que brigam, discutem etc.

A partir de manifestações como estas, acho que posso compreender o que ele entende por ética: não ser discutido por "colegas". Seria ético, digamos, médicos e advogados não se pronunciarem sobre a conduta dos colegas: por uma questão de ética. Pois eu discordo: acho que ser ético obriga exatamente a discutir, a manifestar a discordância quando ela existe. O que fiz em relação a aspectos do trabalho de Sacconi publicado na ISTO É e em dois de seus livros foi ora elogiar suas posições, ora atacar suas análises.

Não consigo ver falta de ética nessa posição (ele pede conchavo, não ética). Essa atitude deveria ser normal: o debate intelectual é uma norma. Nos congressos e nas revistas científicas, é fácil ouvir ou ler lingüistas discordando de lingüistas (menos do que seria desejável, eu acho). Sociólogos e economistas "batem boca" saudavelmente pelos jornais (para os leitores é ótimo, porque não ficam expostos ao pensamento único). Num jornal que li hoje, por exemplo, o economista Delfim Neto desanca os economistas do Banco Central pelo que escreveram na ata do Copom. O país assiste a um debate claro e franco - às vezes um pouco mal educado, mas isso é parte do debate - sobre pesquisas com células-tronco. E não é que estejam os geneticistas de um lado e os padres de outro. Há também divisões entre geneticistas e entre religiosos. É ótimo, é saudável, e é absolutamente ético.

Quando a análise de um autor é atacada, a atitude normal seria que ele a defenda ou que reconheça que errou. Fácil, simples.

O que é que há de fascista na minha crítica? E por que, para me atacar, ataca-se - escorado em outro - o livro de um outro (que escreveu vários diga-se, e em vários campos)? Isso sim é difícil de entender... Até me pergunto de que adianta saber se a grafia é muçarela ou mussarela ou se seria melhor manter mozzarela, se, na hora de escrever sobre o queijo se escreve sobre tripa de porco.
Sobre meu opúsculo "Por que (não) ensinar gramática na escola": é claro que não adianta esperar que o prof. Sacconi o leia. Mas, se o lesse, veria que não é (não sou) contra o ensino de gramática na escola. Ele deve saber o que podem significar parênteses.

A rigor, quem é contra a gramática e seu ensino é ele: por que não é assim, com receitas e erros didáticos que ela será "dominada". Também não é verdade que só publiquei esse livro. Mas isso não é relevante, a não ser para mostrar que o prof. Sacconi pode não saber do que está falando.
Por alguma razão, Sacconi acha que tenho inveja de seu sucesso. Escreveu lá no blog dele que "Um sucesso incomoda muita gente; dois sucessos incomodam muita gente; três sucessos incomodam muita gente; muitos sucessos incomodam muito mais...". Mas por que eu teria inveja dele? Me dê uma razão, uma só!
***

No dia 18 deste mês, vou a Manaus, a convite da Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas, para fazer uma conferência sobre o "A língua na imprensa: um caso de mentalidade pré-copernicana". Talvez mencione o professor...

Sírio Possenti é professor associado do Departamento de Lingüística da Unicamp e autor de Por que (não) ensinar gramática na escola, Os humores da língua e de Os limites do discurso.

domingo, 19 de junho de 2011

Nóis vai ou nós ficamos? - ATO MANIFESTO

Nós, do Bacharelado em Linguística, estamos organizando o evento "Nóis vai ou nós ficamos?". O objetivo é propor um diálogo sobre a polêmica que gira em torno da publicação e aprovação, pelo MEC, do livro "Por uma vida Melhor", destinado aos alunos do EJA. Quanto já escutamos de críticas sobre o assunto? Muitos já falaram, se posicionaram. E queremos o mesmo, como cientistas da linguagem, temos estudos e queremos mostrar. Venha conhecer nosso lado, nosso ponto de vista, nossos estudos. Venha conversar conosco, mostrar o seu ponto de vista e conhecer o nosso, pois só assim nos tornamos realmente pensadores, refletimos, agimos, buscamos...



8h às 12h – Auditório do CECH AT2 – UFSCar
14h às 17h – Anfiteatro Bento Prado Jr. – UFSCar
 

Venha conversar conoso!


Confirme sua presença no e-mail eventoslinguistica@gmail.com


http://www.youtube.com/watch?v=Zx7iG6SBMpI