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segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Cartografia e discurso: não somos um país dividido entre norte e sul


R7: Pesquisador Thomas Conti explica o mapa do Brasil que viralizou nas redes sociais

Fonte: Viomundo

publicado em 27 de outubro de 2014 às 19:27
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27/10/2014 às 17h44 (Atualizado em 27/10/2014 às 18h29)

Após onda separatista, mapa de pesquisador viraliza ao indicar que País não está dividido entre PT e PSDB

Gráfico feito por mestrando em história econômica considera proporção de votos nos Estados
por Alvaro Magalhães, do R7

O Brasil não é um País dividido entre Estados petistas e Estados tucanos, mas um território em que eleitores de ambos os partidos convivem em todas as regiões. É isso que mostra o mapa do desempenho eleitoral de Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) feito por Thomas Conti, 24 anos, pesquisador de história econômica pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

Após receber, via redes sociais, uma série de manifestações preconceituosas, baseadas nos gráficos que mostram a divisão do País considerando apenas o partido vencedor em cada Estado, Conti decidiu fazer e compartilhar um mapa que revelasse a proporção dos votos em cada região.

O resultado é surpreendente. Minas Gerais, por exemplo, onde Dilma obteve pequena vantagem, não aparece mais em vermelho puro; enquanto Goiás, onde Aécio teve também vitória estreita, não aparece em azul puro. Ambos os Estados, onde o eleitorado ficou bastante dividido, pendendo apenas ligeiramente para um ou outro candidato, aparecem quase no mesmo tom de roxo.

O mapa de Conti viralizou tanto pelo Twitter como pelo Facebook. E seu blog recebeu tantas visitas que o servidor caiu.

Confira abaixo, a entrevista concedida pelo pesquisador ao R7:

R7 — Como surgiu a ideia de fazer o mapa?
Thomas Conti — A ideia surgiu como reação à quantidade enorme de declarações com discurso de ódio no Facebook e no Twitter na noite de ontem. Imaginei que muitas pessoas que propagavam isso estivessem desinformadas. Com isso, resolvi montar um gráfico que refletisse em cores com precisão o resultado das urnas.

R7 — Por que o mapa que você desenvolveu representa melhor o resultado eleitoral do que os gráficos feitos apenas em vermelho e azul?
Conti — Porque o Brasil não possui um sistema como o americano, de voto distrital, onde a maioria de votos garante todos os votos de um colegiado. Aqui ganha quem tem mais votos em números absolutos. E a realidade é que dezenas de milhões de pessoas votaram contra Dilma no Nordeste e dezenas de milhões votaram contra Aécio no Sudeste. Pintar de duas cores chapadas cria falsos estereótipos que não condizem com as urnas.

R7 — Por meio de que redes sociais você recebeu as mensagens preconceituosas que o motivaram?
Conti — Facebook e Twitter, principalmente. Ouvi dizer que as piores mensagens estavam no WhatsApp, mas tive sorte e não recebi nenhuma. Depois que meu mapa viralizou, comecei a receber xingamentos nos comentários e por mensagem particular, também. Acontece. Foi contra esse tipo de pensamento que trabalhei, então fico feliz de saber que preconceituosos ficaram incomodados com a realidade.

R7 — Que tipo de ameaças sofreu?
Conti — Ameaças físicas, xingamentos, etc. Nada que quem participa do debate público da internet não esteja acostumado.

R7 — Esperava a repercussão? Já havia postado algo com tamanha repercussão?
Conti — Não esperava uma repercussão como essa. Achava que no máximo amigos próximos compartilhariam, mas não mais que isso. Repercussão como essa? Nunca! Um post do meu blog já teve 2 mil “compartilhar” e eu achei muito. E não é nem um décimo dessa de hoje!

R7 — Você consegue identificar a partir de quando o mapa se tornou viral?
Conti — Acompanhei de perto ontem e foi no boca a boca mesmo! Em menos de uma hora já tinha mais de 100 “compartilhar” sem ter alcançado nenhum grande portal, e a partir daí cresceu ainda mais rápido. Como era de madrugada, só hoje diversos sites maiores começaram a ajudar na divulgação.

R7 — Como, tecnicamente, você fez o mapa?
Conti — Usei um recurso do Excel [programa de planilhas] que permite colorir automaticamente tabelas conforme uma escala de cores, basta fornecer as cores do mínimo e máximo. Usando o mesmo vermelho e o mesmo azul para os dois gráficos, o programa preencheu as cores intermediárias e resultou na tabela da direita. Depois foi só usar um editor de imagens comum para colorir cada Estado conforme a tabela, usando a ferramenta do conta-gotas.

Ao final da entrevista, Conti questionou a reportagem se poderia deixar uma mensagem. Segue abaixo:

“Nosso País tem menos de 30 anos de democracia sem ser interrompido por uma ditadura militar. É fundamental que continuemos a conscientização democrática a todo momento, não apenas no período eleitoral. Nesse novo Brasil democrático não há espaço para discursos de ódio: quanto antes conseguirmos superá-los, melhor para o País!”

***


enquanto isso, circulam coisas como...


terça-feira, 22 de julho de 2014

O cinema e a constituição de uma identidade regional - traços de cultura?


Ninguém dá as costas pra ninguém no Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo

Escrito por: Camila Moraes
Fonte: Opera Mundi

O evento, em sua 9ª edição, com programação vasta e gratuita, é uma das provas da crescente circulação cultural entre os países da região

Chega de dizer que o Brasil está de costas para o resto da América Latina – e vice-versa. Não que as pontes culturais latino-americanas gozem já de livre circulação, mas o panorama é inegavelmente melhor do que uns 10 anos atrás. Prova irrefutável disso é o Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo, que chega em 2014 à sua 9ª edição, mais jovem do que nunca – como mostra a programação recheada de filmes premiados em importantes festivais, títulos que ainda inéditos dentro e fora do país e convidados bem bacanas de escutar. Tudo em sintonia com o cinema brasileiro que, é óbvio (ou deveria ser), faz parte do caldeirão latino.



De 24 a 30 de julho, serão exibidos gratuitamente 114 filmes de 16 países da região em nove salas paulistanas: Memorial da América Latina, Cinesesc, Cine Olido, Centro Cultural São Paulo, Cinemateca Brasileira, Cineclube Latino-Americano, Centro Cultural da Juventude e Centro Cultural da Penha. Para quem acompanha o evento desde seus primeiros anos, a sensação é que há uma maior representatividade das várias cinematografias latino-americanas, assim como um toque curatorial mais contemporâneo – que se estende, inclusive, aos homenageados da ocasião.



João Batista de Andrade, Felipe Macedo, Jurandir Müller e Francisco Cesar Filho formam o quarteto responsável pela seleção de títulos e demais. Eles prestaram atenção às prestigiosas vitrines de Cannes, Sundance, Veneza, Locarno e Roterdã e desses festivais trarão a São Paulo os argentinos “Refugiado”, de Diego Lerman, e “O chaveiro”, de Natália Smirnoff, o mexicano “Os insólitos peixes-gato”, da mexicana Claudia Sainte-Luce, e o chileno “As Irmãs Quispe”, de Sebastian Sepúlveda. Todos boas pedidas e de cinematografias pulsantes. Mas não se esqueceram de dar espaço às novidades vindas de países cujos filmes poucas vezes encontraram tela no Brasil, como Costa Rica (“Princesas Vermelhas”, de Laura Astorga Carrera), Guatemala (“Onde Nasce O Sol”, de Elías Jiménez Trachtenberg), Panamá (“Caminho da Lua”, de Juan Sebastián Jacome) e República Dominicana (“A Luta de Ana”, de Bladimir Abud).

Esses são apenas destaques. O leque de escolhas é bem mais amplo, com filmes também da  Venezuela (“Pelo malo”), da Colômbia (“La playa D.C.”), do Equador (“A morte de Jaime Rodós”), do Peru (“Planta madre”), da Bolívia (“Conto sem fadas”), do Paraguai (“A leitura de Justino”), do Uruguai (“O militante”) e de Cuba (“Hotel Nueva Isla”). Também vale a pena, especialmente para quem quer ficar em dia com a música e com os primórdios do cinema da América Latina as duas novas mostras da programação: Docs Musicais, com histórias de Mercedes Sosa, Violeta Parra e Café Tacvba, entre outros, e O Cinema Mudo Latino-Americano, apresentando oito títulos realizados entre as décadas de 1910 e 1930 na Argentina, Chile, Colômbia, Cuba, México e Peru.



As homenagens são prova do ar “jovem" que se respira nesta edição, prestadas ao casal argentino Pablo Trapero, diretor, e Martina Gusmán, atriz e diretora – responsáveis por filmes muito premiados internacionalmente, como “Leonera”, “Abutres" e “Elefante branco”; à atriz brasileira Leandra Leal, presente não só nas telas da televisão nacional, como em filmes de sucesso, às vezes atuando (“Éden”), outras vezes produzindo (“O uivo da gata”); e ao documentarista Silvio Tendler, cujos docs são os que mais atraem espectadores do nosso cinema, com mais de 30 filmes no currículo (entre eles, “Jango”, “Marighella – Retrato Falado do Guerrilheiro” e “Utopia e barbárie”).

Não faltarão encontros, debates e inclusive um seminário inteiro (o Nuevas Ventanas) dedicado à integração dos conteúdos e também dos negócios entre os diferentes agentes que fazem parte do balaio do cinema latino-americano. Estarão presentes na cidade para esses papos a produtora argentina Lita Stantic (responsável pela produção de filmes de Lucrecia Martel), o mexicano Jorge Sánchez (diretor do Imcine) e a cubana Irene Gutiérrez (cineasta e professora da Escuela Internacional de Cine de San Antonio de los Baños). E será entregue, como acontece todos os anos, um prêmio ao melhor filme entre aqueles coproduzidos dentro da América do Sul, outorgado pelo Itamaraty no valor de 90 mil reais. O júri que escolherá o vencedor é uma Torre de Babel  (com um colombiano, uma mexicana, um cubano, uma argentina e um francês), o que é mais um sinal que os tempos de ignorar a vizinhança e o que está além estão acabando. Aproveitemos.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Do confronto explícito entre discursos

Príncipe gringo?! A gente prefere estudar! #NaoMeAjudaLuciano

Fonte: Muda Mais



Ontem [24/06], no final da tarde, Luciano Huck gerou polêmica ao tuitar o novo quadro do Programa Caldeirão do Huck.

O tuite em questão é esse: >>>> "@LucianoHuck Ta no Rio? Solteira? Quer 1 principe encantado entre os "gringos" q estão na cidade. Mande fotos e o pq; namoradaparagringo@globomail.com (link sends e-mail)"

Reparem na escolha do email: namorada para gringo. Como assim, gente?

O que nos surpreende não é o formato "arrume um namorado" - que de original não tem nada -, mas a ausência de qualquer reflexão sobre o fato de o Brasil ser tido como um dos principais destinos para turismo sexual, sem contar a exploração sexual de crianças e adolescentes e o tráfico de pessoas para fins sexuais. 

O que nos assusta é que não se trata de um programa de namoro simplesmente - como já vimos muitos. Mas como pode um apresentador de grande alcance na mídia brasileira, com um público muitas vezes adolescente, vender a ideia de "príncipe encantado estrangeiro" desconsiderando toda a luta nacional para o combate à exploração sexual de crianças e adolescentes e a situação de cuidado especial que grandes eventos proporcionam?

 O governo fez uma série de ações justamente para coibir exploração sexual durante a Copa do Mundo, incluindo aplicativos para notificação automática, e estamos todos de olhos abertos para a violência contra as mulheres. 

Ei,  Secretaria de Direitos Humanos, (link is external) Unicef (link is external) , Onu Mulheres, e outros órgãos internacionais, convidamos vocês a darem uma olhadinha nessa matéria e esperamos que façam algo pra impedir que esse programa vá ao ar. Nada contra o Luciano - quer dizer, mais ou menos - mas tudo contra esse absurdo de expor mulheres, seja na rua, dentro de suas casas, seja em rede nacional.

Situação presente em todo o mundo e que atinge milhares de adolescentes brasileiros, a exploração sexual é uma prática comum e cri-mi-no-sa, conforme codigo penal brasileiro (link is external), podendo gerar até 3 anos de reclusão para o envolvido.

Também está ainda presente o habitual viralatismo local. Luciano não só propõe ajudar garotas a encontrar um ~príncipe encantado~ como sugere que tem preferência pra que o cargo pretendido seja ocupado por um ~gringo~ /o\ /o\ /o\.

Quando essa matéria foi ao ar, Luciano Huck já havia tirado o post (link is external) de seu Facebook, mas até o momento mantém o tuíte em sua página oficial no site em questão. Vale lembrar ao Luciano, que a memória da internet e o que é colocado nela não pode ser facilmente deletado. Hoje, com todos os recursos da rede, não é preciso muito pra fazer um simples e prático print-screen.