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domingo, 10 de maio de 2015

Cultura P2P e corporações da informação: convívio tenso, atrito necessário

   

Economia Peer-to-Peer

by Bia Martins
do blog AutoriaemRede

A dinâmica de produção do sistema operacional GNU/Linux pode se tornar modelo para outros setores da economia? As novas formas de produção distribuída e equipotencial entre pares estariam apontando para um sistema que vá além do capitalismo?

Michel Bauwens, criador da Peer-to-Peer Foundation, destaca algumas características desse modelo produtivo que representariam profundas mudanças no paradigma da economia capitalista e que poderiam apontar na direção de sua superação:

- a produção entre pares possibilita efetivamente a cooperação livre entre produtores;
- a autoridade entre pares transcende tanto a autoridade do mercado como a do Estado;
- as novas formas de propriedade universal transcendem as limitações dos modelos de propriedade pública e privada na constituição de um patrimônio comum;
- o surgimento de uma nova ética do trabalho (Ética Hacker) e novas práticas culturais.

Já Yochai Benkler, outro importante pesquisador da produção P2P, enfatiza que as redes de comunicação tornaram possível a disseminação em larga escala de práticas colaborativas e solidárias que já existiam em escala menor na sociedade. Hoje você pode não só colaborar com uma iniciativa comunitária no seu bairro, mas também se engajar nos mais variados projetos nos quatro cantos do planeta. Dessa forma, então, iniciativas cooperativas têm ganhado força numa dimensão inédita.

Assista ao TED com Yochai Benkler sobre a nova economia de informação em rede

Os dois pesquisadores concordam que a emergência da produção P2P deriva em grande parte da disseminação das tecnologias de informação e comunicação. Como o capitalismo na atualidade é baseado no conhecimento que gera novo conhecimento (inovação) e o computador é o meio que permite tanto o acesso ao conhecimento produzido como a produção do novo conhecimento, pela primeira vez no sistema capitalista os meios de produção estão nas mãos do cidadão comum.

De fato, há hoje muitos exemplos de iniciativas P2P nas mais diversas áreas, que ilustram como a produção entre pares pode alcançar os mais diversos setores da economia: o projeto WikiHouse, um protótipo arquitetônico aberto que pode ser produzido em impressoras 3D para gerar moradias de baixo custo; ou WikiSpeed, um projeto de carro concebido em um modelo de produção open-source com a colaboração de mais de mil pessoas de 20 países diferentes; ou ainda o sistema de empréstimo P2P Zopa, que intermedeia as operações entre as pessoas, possibilitando taxas mais atraentes para quem empresta e para quem toma emprestado.

No entanto, não se pode esquecer que, por outro lado, as formas de exploração da produção colaborativa se sofisticam ao mesmo tempo. As grandes empresas da atualidade fazem isso de forma explícita. A rentabilidade do Facebook, por exemplo, é baseada na colaboração de seus usuários que alimentam a plataforma de graça. Já o motor de busca Google retira valor de dados fornecidos voluntária e gratuitamente por milhões de pessoas. Some-se a isso o fato de que essas duas grandes empresas são também as maiores alimentadoras dos sistemas de vigilância mundiais, monitorando toda a movimentação on-line e repassando esses dados para organizações governamentais e/ou outras empresas.

O que irá prevalecer? A potência da produção colaborativa entre pares que pode criar soluções para diversos impasses contemporâneos ou disposição da máquina capitalista em capturar a produção colaborativa para priorizar o lucro acima dos interesses coletivos? Está aí, de forma ultra sintética, a grande disputa contemporânea.

Estes foram alguns dos pontos abordados na aula Economia P2P: a produção colaborativa. Para quem se interessar, segue abaixo a apresentação com mais algumas referências:

Economia Peer-to-Peer, from Bia Martins

terça-feira, 3 de março de 2015

Google: de oráculo a vórtice

Quando o Google encontrou o WikiLeaks

Julian Assange

Fev/2015
R$ 39,00


Julian Assange conta seu encontro com Eric Schmidt, presidente do Google, discutindo os problemas políticos enfrentados pela sociedade – da Primavera Árabe ao Bitcoin – e as respostas tecnológicas geradas pela rede global para esses dilemas.

Depois da publicação de Cypherpunks: liberdade e o futuro da internet e há mais de dois anos asilado na Embaixada do Equador em Londres, Julian Assange, fundador e editor do WikiLeaks, lança no Brasil seu segundo e mais recente livro, Quando o Google encontrou o WikiLeaks. Ao longo de 168 páginas, Assange discute as consequências da acumulação de poder pelo Google no século XXI e relata seu encontro com Eric Schmidt, presidente do grupo, em 2011. O resultado é um livro fascinante e alarmante, que revela os polos opostos em que esses dois personagens icônicos da atual “era tecnológica” se encontram e suas opiniões divergentes sobre o destino do mundo e das novas tecnologias.

Assange foi procurado pelo executivo quando cumpria prisão domiciliar em Norfolk, na Inglaterra. Na época, o Google estava a caminho de se tornar a empresa mais influente do planeta pelas mãos de Schmidt, uma pessoa de natureza analítica e inteligência sistemática. Ambos debateram questões contemporâneas – da Primavera Árabe ao Bitcoin – e as respostas tecnológicas surgidas na rede global para os atuais dilemas sociopolíticos. Para Assange, o potencial libertador da Internet é baseado na ausência de poder estatal. Schmidt, por outro lado, defende que sejam levadas em conta questões de política externa e as relações entre governo e empresas de tecnologia. Tais diferenças estão no cerne de uma disputa ideológica acirrada sobre o futuro da internet, que só se intensificou com os anos.

O livro traz um alerta sobre a natureza ambivalente das tecnologias de informação e comunicação e lembra que redes digitais e seus dispositivos não são neutros. “Assange liga nomes, fatos e instituições, deixando evidente que o Google não é uma mera empresa inovadora que distribui aplicativos e constrói plataformas para nos alegrar e nos permitir fazer mais por nós mesmos. O Google se tornou uma corporação que integra o sistema de controle, vigilância e expansão do poder do Estado norte-americano”, analisa o sociólogo Sérgio Amadeu da Silveira, na apresentação. “Muitas pessoas pensam que o mundo da tecnologia é o mundo da ausência de relações de poder. Este livro mostra que elas estão enganadas. O poder não se faz por meio da tecnologia somente, mas está embutido na própria tecnologia.”

O Google não é a única empresa cujo posicionamento no mercado tem possibilitado um enorme poder político, mas é um exemplo dos perigos da internet corporativa. “Desde muito cedo, seus fundadores perceberam que o processamento de informações em grande escala os colocaria no centro de tudo”, afirma Assange. “À medida que cresce o monopólio do Google na área de busca e serviços de internet, e ele estende a vigilância industrial para a maior parte da população do planeta, dominando rapidamente o mercado de telefonia móvel e apressando?se para ampliar o acesso à internet no hemisfério sul, ele se torna praticamente a própria internet para muitas pessoas. A influência do Google sobre as escolhas e o comportamento de todos os seres humanos se traduz em um poder concreto de influenciar o rumo da história.”

O livro ganhou destaque na imprensa internacional, noticiado em jornais como The Guardian e The Independent, por fazer parte da empreitada de Assange para revolucionar as formas de acesso à informação. Quando o Google encontrou o WikiLeaks apresenta a conversa entre Schmidt e Assange em forma de diálogo transcrito, e inclui ainda um prefácio redigido pelo fundador do WikiLeaks especialmente para a edição brasileira.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Humanidade digital - O que é? Quem faz?

11/11/2013 - Copyleft

A duplicação digital do mundo 

e os seus riscos

Em entrevista à Carta Maior, Eric Sadin fala sobre a capacidade crescente dos dispositivos digitais inteligentes de controlar as nossas vidas.


Eduardo Febbro Divulgação

Paris - Já não estamos sós. Um duplo ou muitos duplos nossos permanecem nos incontáveis Data Center do mundo, nas redes sociais, nas memórias gigantescas do Google ou da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos, a NSA. É o que o ensaísta francês Eric Sadin, um dos autores mais proféticos e brilhantes na análise das novas tecnologias, chama de “humanidade paralela”.

 Em cada um de seus livros anteriores, “Surveillance Globale”, “La Société de l’anticipation”, Eric Sadin explorou como poucos as mutações humanas inerentes ao surgimento da hiper-tecnologia em nossas vidas. Longe de se contentar com um anedotário trivial dos instrumentos tecnológicos que surgiram nas últimas três décadas, Sadin os pensa de uma forma inédita. Seu último livro, “L’Humanité Augmentée, L’administration numérique du monde” (A Humanidade aumentada, a administração digital do mundo), explora a capacidade cada vez maior que os dispositivos inteligentes têm para administrar o rumo do mundo.

O livro ganhou na França o Hub Awards 2013, um prêmio que recompensa o melhor ensaio do ano. Para Eric Sadin, Hall 9000, o computador super-potente da nave Discovery no filme “2001, uma Odisseia no Espaço”, deixou há muito de ser uma ficção: Hal 9000 foi inclusive superado pela tendência atual na direção de uma “administração robotizada da existência”. GPS, Iphone, Smartphone, sistemas de gestão centralizados que decidem por si mesmo, rastreabilidade permanente, tudo conflui para a criação do que o autor chama de um “órgão sintético que repele toda dimensão soberana e autônoma”.

Em entrevista à Carta Maior, Eric Sadin analisa esse duplo tecnológico que nos facilita muitas coisas e ao mesmo tempo nos espreita a ponto de transformar nossa humanidade.

Eric Schmidt, o presidente do Google, diz em seu último livro, “The New Digital Age”, que “acabamos de deixar os starting-blocks” da revolução digital. Você, ao contrário, estima que a revolução digital está acabando. Fim ou nova fase?

A década atual assinala o fim do que se chamou de “revolução digital” que começou no princípio dos anos 80 mediante a digitalização cada vez maior do real: a escrita, o som, a imagem fixa e animada. Esse amplo movimento histórico se deu paralelamente ao desenvolvimento das redes de telecomunicação e tornou possível o advento da internet, ou seja, a circulação exponencial dos dados na rede: as condições de acesso à informação, o comércio e a relação com os outros através dos correios eletrônicos e das redes sociais.

Hoje, esta arquitetura que não parou de se desenvolver e se consolidar está solidamente instalada em escala global e permite o que chamo de “a era inteligente da técnica”. Nosso tempo instaura uma relação com a técnica que já não está prioritariamente fundada sobre uma ordem protética, ou seja, como uma potência mecânica superior e mais resistente que a de nosso corpo, mas sim como uma potência cognitiva em parte superior à nossa. Há robôs imateriais “inteligentes” que coletam massas abissais de dados, os interpretam à velocidade da luz ao mesmo tempo em que são capazes de sugerir soluções supostamente mais pertinentes e inclusive de agir em nosso lugar como ocorre com o “trading algorítmico”, por exemplo.

Em seu último ensaio, “A humanidade aumentada, a administração digital do mundo”, você expõe um mundo cartografado de maneira constante pelos sistemas digitais. Você mostra a emergência de uma espécie de humanidade paralela – as máquinas – destinadas a administrar o século XXI. Uma pergunta se impõe: o que fica então de nossa humanidade?

Desde o Renascimento, nosso potencial humano se fundou sobre a primazia humana constituída pela faculdade de julgar, a faculdade de decisão e, por conseguinte, da responsabilidade individual que funda o princípio da Lei. A assistência das existências por sistemas “inteligentes”, além de representar uma evolução cognitiva, redefine de fato a figura do humano como senhor de seu destino em benefício de uma delegação progressiva de nossos atos para outros sistemas. Uma criação humana, as tecnologias digitais, contribui paradoxalmente para debilitar o que é próprio ao ser humano, ou seja, a capacidade de decidir conscientemente sobre todas as coisas. Esta dimensão em curso se amplificará nos próximos anos.

Você se refere ao surgimento de um componente “orgânico-sintético que repele toda dimensão soberana e autônoma”. Em resumo, o mundo, nossas vidas, está sob o comando do que você chama de “a governabilidade algorítmica”. O ser humano deixou de administrar.

Não se trata de que já não administra, mas sim de que o fará cada vez menos em benefício de amplos sistemas supostamente mais eficazes em termos de optimização e de segurança das situações individuais e coletivas. Isso corresponde a uma equação que está no coração da estratégia da IBM. Esta empresa implementa arquiteturas eletrônicas capazes de administrar por si mesmas a regulação dos fluxos de circulação do tráfego nas estradas, ou a distribuição de energia em certas cidades do mundo. Isso é possível graças à coleta e ao tratamento ininterrupto de dados: os estoques de energia disponíveis, as estatísticas de consumo, a análise dos usuários em tempo real.

Estas informações estão conectadas com algoritmos capazes de lançar alertas, de sugerir iniciativas ou assumir o controle decidindo por si mesmo certas ações: aumento da produção, compras automatizadas de energia nos países vizinhos, o corte do fornecimento em certas zonas.

Isso equivale a uma espécie de perda maior de soberania.

A meta consiste em buscar a optimização e a segurança em cada movimento da vida. Por exemplo, fazer que uma pessoa que passa perto de uma loja de calçados possa se beneficiar com a oferta mais adequada ao seu perfil, ou que alguém que passeia em uma zona supostamente perigosa receba um alerta sobre o perigo.

Vemos aqui o poder que se delega à técnica, ou seja, o de orientar cada vez com mais liberdade a curva de nossas existências. Esse é o aspecto mais inquietante e mais problemático da relação que mantemos com as tecnologias contemporâneas.

O escândalo de espionagem que explodiu com o caso Prism, o dispositivo mediante o qual a NSA espiona todo o planeta, expôs algo terrível: não só nossas vidas, nossa intimidade, são acessíveis, mas elas estão digitalizadas, convertidas em Big Data, duplicadas.

Prism revelou dois pontos cruciais: em primeiro lugar, a amplitude abismal, quase inimaginável, da coleta de informações pessoais: em segundo, a colusão entre as empresas privadas e as instâncias de segurança do Estado. Este tipo de coleta demonstra a existência de certa facilidade para apoderar-se dos dados, guardá-los e depois analisá-los para instaurar funcionalidades de segurança. A estreita relação que liga os gigantes da rede com a NSA deveria estar proibida pela lei, salvo em ocasiões específicas. De fato, não é tanto a liberdade o que diminui, mas sim partes inteiras de nossa vida íntima.

O meio ambiente digital favoreceu o aprofundamento inédito na história do conhecimento das pessoas. Este fenômeno está impulsionado pelas empresas privadas que coletam e exploram essas informações, frequentemente recuperadas pelas agências de segurança e também por cada um de nós mediante as ondas que disseminados permanentemente, às vezes sem consciência disso, às vezes de maneira deliberada. Por exemplo, através da exposição da vida privada nas redes sociais.

O caso NSA-Prism representa um marco na história. De alguma maneira, mesmo que as pessoas tenham reagido de forma passiva, perdemos a inocência digital. Você acredita que ainda persiste a capacidade de revelar-se nesta governabilidade digital?

Haverá um antes e um depois do caso Prism. Ele mostrou até que ponto a duplicação digital de nossas existências participa da memorização e de sua exploração. Isso ocorreu em apenas 30 anos sob a pressão econômica e das políticas de segurança sem que tenha sido possível instaurar um debate sobre o que estava em jogo. Esse é o momento para tomar consciência, para empreender ações positivas, para que os cidadãos e as democracias se apropriem do que está em jogo, cujo alcance concerne à nossa civilização.

A ausência da Europa no caso deste roubo planetário tem sido tão escandalosa quanto covarde. Você, no entanto, está convencido de que o Velho Mundo pode desempenhar um papel central.

Parece-me que a Europa, em nome de seus valores humanistas históricos, em nome de sua extensa tradição democrática, deve influir na relação de forças geopolíticas da internet e favorecer a edificação de uma legislação e de uma regulamentação claras. O termo “Big Data”, para além das perspectivas comerciais que possui, indica esse momento histórico no qual todos estamos copiados sob a forma de dados que podem ser explorados em uma infinidade de funcionalidades.

Trata-se de uma nova inteligibilidade do mundo que emerge através de gigantescas massas de dados. Trata-se de uma ruptura cognitiva e epistemológica que, me parece, deve ser acompanhada por uma “carta ética global” e marcos legislativos transnacionais.

Em seu livro você se refere a uma figura mítica do cinema, Hal, o sistema informático da nave Discovery, que aparece no filme 2001, uma Odisseia no Espaço. Hal é, para você, a figura que encarna nosso futuro tecnológico através da inteligência artificial.

Hal é um sistema eletrônico hiper-sofisticado que representa a personagem principal do filme de Stanley Kubrick. Hal é um puro produto da inteligência artificial, capaz de coletar e analisar todas as informações disponíveis, de interpretar as situações e agir por conta própria em função das circunstâncias.

Exatamente como certos sistemas existentes no “trading algorítmico” ou no protocolo do Google. Hal não corresponde mais a uma figura imaginária e isolada, mas sim a uma realidade difusa chamada infinitamente a infiltrar setores cada vez mais amplos de nossa vida cotidiana.

Nessa mesma linha, para você, se situa o Iphone ou os Smartphones. Não se trata de joguinhos, mas sim de um quase complemento existencial.

Creio que a aparição dos Smartphones em 2007 corresponde a um acontecimento tecnológico tão decisivo como o da aparição da internet. Os Smartphones permitem a conexão sem ruptura espaço-temporal. Com isso, os Smartphones expõem um corpo contemporâneo conectado permanentemente, ainda mais na medida em que pode ser localizado via GPS. Através dele também se confirma o advento de um “assistente robotizado” das existências por meio dos inúmeros aplicativos capazes de interpretar uma grande quantidade de situações e de sugerir a cada indivíduo as soluções supostamente mais adaptadas.

Esses objetos, que são táteis, nos fazem manter uma relação estreita com o tato. Mas, ao mesmo tempo em que tocamos, as coisas se tornam invisíveis: toda a informação que acumulamos desaparece na memória dos aparatos: fotos, vídeos, livros, notas, cartas. Estão, mas são invisíveis.

De fato, esse duplo movimento deveria nos interpelar. Nossa relação com os objetos digitais se estabelece segundo ergonomias cada vez mais fluidas, o que alenta uma espécie de crescente proximidade íntima. A anunciada introdução de circuitos em nossos tecidos biológicos amplificará o fenômeno. Por outro lado, essa “familiaridade carnal” vem acompanhada por uma distância crescente, por uma forma de invisibilidade do processo em curso.
Isso é muito emblemático no que diz respeito aos Data Centers que contribuem para modelar as formas de nosso mundo e escapam a toda visibilidade. É uma necessidade técnica. No entanto, essa torsão assinala o que está em jogo em nosso meio ambiente digital contemporâneo: por um lado, uma impregnação contínua dos sistemas eletrônicos; por outro, uma forma de opacidade sobre os mecanismos que o compõem.

Os poderes públicos, principalmente na Europa, são incapazes de administrar o universo tecnológico, de enquadrá-lo com leis ou fixar-lhe limites. A ignorância reina, mas a tecnologia termina por se impor, do mesmo modo que as finanças, a todo o espectro político.

Estamos vivendo no interior de um regime temporal que se torna exponencial, prioritariamente mantido pela indústria que impõe suas leis. O próprio dos regimes democráticos é sua faculdade deliberativa, sua capacidade coletiva para escolher conscientemente as regras que orientam o curso das coisas. Esse componente está hoje eminentemente fragilizado. Sem nostalgia, eu diria que vamos ter que lidar ativamente e sob diversas formas com a amplitude do que está em jogo eticamente, tanto agora como no futuro, sob a indução desta “tecnologização” de nossas existências. Tanto nas escolas como nas universidades. Creio que é urgente ensinar o código, a composição agorítmica, a inteligência artificial. Creio que são os professores de “humanidade digital” que deveriam ingressar nas escolas e contribuir para despertar as consciências e ajudar a encontrar as perspectivas positivas que estão se abrindo com este movimento.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

Créditos da foto: Divulgação

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Política de privacidade e privacidade política

Google sob pressão
Espanha investiga política de privacidade da empresa



A Agência Espanhola de Proteção dos Dados (AEPD) vai abrir um processo de investigação sobre a nova política de privacidade do Google, implantada em março de 2012. Agências de proteção de dados de outros países europeus devem fazer o mesmo, por considerar que o Google não atendeu às recomendações apresentadas em outubro do ano passado, após estudos da Comissão de Proteção de Dados da União Europeia (UE) sobre a política de privacidade da empresa. Entre as mudanças, o Google anunciou que cruzaria informações do YouTube com as do Gmail, ampliando o conjunto de dados usados para montar o perfil do usuário, a partir do qual são feitas as ofertas comerciais.

As recomendações da UE foram enviadas ao Google em carta assinada por 27 autoridades, com representantes de agências de proteção de dados de França, Alemanha, Reino Unido, Itália, Holanda e Espanha. Entre as mudanças sugeridas, estão a melhoria nos sistemas de obtenção do consentimento dos usuários para uso combinado dos dados de diversos serviços e a mudança de procedimentos para que só sejam cruzadas informações explicitamente autorizadas pelos usuários. A UE também avalia que o Google não provê informações adequadas sobre o período de retenção dos dados.

A AEPD pretende também verificar se as regras de privacidade do Google se ajustam às leis europeias e espanholas. Segundo José Luis Rodrigues Alvarez, diretor da AEPD, a investigação será centrada nas informações que o Google oferece as usuários sobre o levantamento de dados feitos pelos diversos serviços; nos fins para os quais as informações coletadas são usadas; no período de conservação dos dados; na forma como a empresa obtém o consentimento dos usuários para o uso dos dados; e se oferece opção de veto, pelo usuário, à utilização dos dados.

A queda-de-braço com o Google sobre a política de privacidade pode provocar uma alteração em seu modelo de negócios, com impacto na economia da internet como um todo? Essa é a pergunta que analistas que acompanham a atuação das empresas Over the Top (OTT) se fazem. Na opinião de alguns, o movimento vai ganhar corpo e tende a alterar o modelo de negócios na rede.

A decisão da AEPD não é a única iniciativa da UE em direção à regulação das OTT para adequação às legislações locais. Em março, a agência reguladora de telecomunicações da França, Arcep, informou que requereu à Procuradoria Pública de Paris investigar se é legal ou ilegal a Skype – operadora de telefonia sobre IP hoje pertencente à Microsoft – não ter se registrado como operadora de comunicação eletrônica.

No entendimento da Acerp, como os serviços de telefonia IP alcançam telefones fixos ou móveis, a Skype estaria enquadrada como operadora de comunicação eletrônica pela legislação francesa. E teria de requerer um registro declaratório, o que não fez. Além disso, está obrigada a cumprir obrigações que incluem o roteamento de chamadas de emergência e a possibilidade de realizar interceptações requeridas judicialmente.

Em outra frente, Neelie Kros, vice-presidente da Comissão Europeia e responsável pela Agenda Digital, sinalizou, em setembro do ano passado, para a edição de uma lei que regulamente o uso da computação em nuvem em toda a UE, de forma que a infraestrutura possa ser usada ao mesmo tempo por todos os países e não ficar limitada a políticas nacionais. “Uma estratégia de nuvem europeia daria ao Mercado Comum Europeu um lar digital”, disse, afirmando que a computação em nuvem poderá ajudar a Europa a se erguer, poupando bilhões de euros e salvando empregos. Para isso, no entanto, ela lembrou que o sistema tem de ser eficaz e seguro para o usuário. 


...enquanto isso, nos EUA:

CISPA passes House despite Obama veto threat

2:21pm | 18 April 2013 | by Access Team 



The House of Representatives passed the privacy-invading Cybersecurity Intelligence Sharing and Protection Act (CISPA) by a vote of 288 - 127. The bill must still pass the Senate, and overcome a veto threat from Obama, before it becomes law.
This is CISPA’s second passage through the house. Like last year, the bill lacks adequate privacy protections, offers overly broad immunity to corporations, and would undermine existing legal protections for user data and privacy. Like last year, Access condemns the passage of CISPA, and will continue to work against it as it passes to the Senate.

CISPA allows for sharing of personally identifiable data from private companies with the military and government agencies, without limited safeguards. While CISPA does not require that companies share this data, it grants them broad legal immunity--so long as they acted in “good faith.”
The vote came after hearings on a number of amendments, which Access is still analyzing. Some proposed privacy-protecting amendments were ignored or blocked from consideration; including one which would have required that information be shared only with civilian agencies, and another would have required private entities to take “reasonable efforts” to remove personally identifiable information on individuals unrelated to cyberthreats.

Despite the bill’s passage, the threat of a presidential veto still stands. The Obama administration’s threat comes after an open letter by dozens of US privacy and civil liberties organizations requesting he reject the bill.

CISPA would not only affect users in the US, but anyone using US-based services, like Facebook or Google, or communicating on US networks--and it would set a dangerous precedent around the world for cybersecurity policy.

The bill was publicly opposed by academics and engineers, companies (a list is available at CISPAisBack.org), and civil liberties and privacy organizations.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Meios e materiais... Internet livre?

Microsoft é multada na Europa por não oferecer opções de navegadores no Windows

Da redação, com El País
Fonte: ARede

06/03/2013 - A Comissão Europeia anunciou nesta quarta-feira (6) que multou a Microsoft em 561 milhões de euros. O motivo foi o desrespeito por parte da empresa a acordo firmado em 2009, pelo qual deveria apresentar no Windows a possibilidade de escolher entre o uso de diferentes navegadores além do Internet Explorer. A empresa já soma 2,2 bilhões em multas recebidas da União Europeia.
A multa foi dada após constatação de que, entre fevereiro de 2011 e julho de 2012, o Windows não trazia a seleção de navegadores. A empresa é a primeira a violar um acordo com a Comissão Europeia. "As empresas devem cumprir seus compromissos, se não, têm que suportar as consquências", disse Joaquím Almunia, comissário europeu de Competição. Por sua vez, a Microsoft afirma ter se desculpado pela falha. "Tomamos medidas para para reforçar processos que, no futuro, ajudem a evitar tais erros", disse em comunicado.

A companhia deverá manter em seu sistema operacional distribuído na União Europeia o recurso de seleção de navegadores até 2014. A medida, iniciada em 2009, impactou a participação da empresa entre browsers, com Chrome e Firefox se tornando programas mais utilizados que seu Internet Explorer.

Outra companhia de tecnologia na mira da Comissão Europeia é o Google, investigada por restringir a exibição de links de empresas com serviços concorrentes aos seus, como a Adwords (serviço de links patrocinados). Nos EUA, o Google foi considerado isento de acusações similares.