Mostrando postagens com marcador autoria em rede. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador autoria em rede. Mostrar todas as postagens

domingo, 9 de junho de 2013

Sobre sistemas colaborativos de distribuição da informação

Tecnologias da cooperação

do blog: Autoria em Rede

Uma das vertentes de minhas pesquisas, desde o mestrado, é o estudo das tecnologias de cooperação, isto é, dos instrumentos que têm sido criados para gerenciar a qualidade nos ambientes colaborativos.
Tenho trocado ideias sobre este tema com o Carlos Nepomuceno, jornalista e consultor especializado em estratégia no mundo digital. Assim como eu, ele está interessado em pensar a nova dinâmica da comunicação distribuída e as formas de administrar as interações em rede.

Conheça o blog do Nepô.

Na última sexta-feira, dia 7 de junho, eu participei do hangout que ele promove regularmente. Conversamos sobre vários tópicos, passando pelas tecnologias de cooperação e por meus estudos sobre o website Slashdot, a Wikipédia e a autoria em rede, entre outros assuntos.
Quem tiver curiosidade, pode conferir aqui o vídeo da conversa:



quarta-feira, 25 de abril de 2012

Multiplicam-se as possibilidades técnicas de criação coletiva


Músicos da USP realizam concertos com musicistas do exterior via internet em tempo real

25/04/2012
Por Elton Alisson
Experiência integra projeto de pesquisa sobre música em rede, que possibilita a interação entre musicistas e intérpretes dispersos em diferentes lugares no mundo
Agência FAPESP – Um grupo de músicos da Universidade de São Paulo (USP) está tendo a oportunidade de criar composições e tocar com musicistas do exterior sem que tenham que sair do Brasil ou que estrangeiros precisem vir ao país.

Por meio de redes de internet de alta velocidade, eles vêm organizando concertos com músicos de países tão longínquos como a Irlanda do Norte, no Reino Unido, com quem promoveram no final de março, pela segunda vez, o Net Concert – um concerto via internet, realizado simultaneamente na capital do país anglo-saxão, Belfast, e em São Paulo.

A experiência integra um projeto, realizado por pesquisadores da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP) em colaboração com o Instituto de Matemática e Estatística (IME), com apoio da FAPESP, que tem como objetivo a utilização e o desenvolvimento de processos interativos no âmbito da produção musical mediada tecnologicamente.

Um dos temas do projeto é a música em rede (networked music), como é definida a nova categoria de música surgida com o advento da internet que, em função da possibilidade de comunicação imediata, permitiu novas possibilidades de se pensar e fazer música com músicos e intérpretes dispersos em diferentes lugares no mundo.

Por meio de um convênio com a Queen University Belfast (QUB) – a instituição que vem liderando as pesquisas na área na Europa –, os pesquisadores brasileiros começaram a desbravar nos últimos anos esta área de estudo na América Latina.

“A música em rede vem sendo estudada há mais de 20 anos na Europa e nos Estados Unidos, onde está sendo desenvolvida a maior parte das ferramentas utilizadas hoje nas pesquisas na área. E nós estamos tentando criar um núcleo de pesquisa sobre networked music em São Paulo”, disse Julián Jaramillo Arango, um dos pesquisadores envolvidos no projeto, à Agência FAPESP.

De acordo com o pesquisador, que realiza doutorado com Bolsa da FAPESP, desde 1990 há compositores que vêm pesquisando e desenvolvendo criações musicais utilizando redes digitais como plataforma de criação.

Um dos principais desafios com os quais eles vêm lidando para trabalhar com música em redes digitais é sincronizar os eventos, fazendo com que grupos de músicos e intérpretes dispersos em diferentes lugares no mundo tenham uma unidade comum e compartilhada de tempo, que é fundamental na música.

“A rede tem limitações, como um retardo (delay) no envio e recebimento de sinal de um lugar para o outro. E nós tentamos incorporar essas descontinuidades nas obras”, explicou Arango.
Uma das estratégias utilizadas pelos pesquisadores para lidar com essas defasagens de tempo nas redes digitais é usar duas telas de projeção de imagens nos dois lugares onde estão os músicos e os intérpretes participantes do concerto virtual, como o Net Concert.

Na primeira tela, os músicos e intérpretes em São Paulo podem ver seus colegas em Belfast, por exemplo, e vice-versa. Já a segunda tela é uma partitura em tempo real das composições, chamada online core, com cifras musicais, além de imagens que os músicos e intérpretes só visualizam no momento exato de execução da peça por meio de comandos enviados pelo regente simultaneamente para os dois lugares onde estão.

“Essa é uma forma de reger os grupos de músicos e intérpretes em cada local e fazer com que eles possam se sincronizar, para a qual nós tivemos de preparar um software específico para operar em rede”, disse Arango.

Ambiente propício para a improvisação
Segundo o pesquisador, a produção de um concerto em rede é um processo longo e que envolve, entre outros fatores, conhecer as diferenças culturais dos músicos e intérpretes de diferentes países para, a partir disso, tentar criar algo em conjunto.

Para produzir o Net Concert, por exemplo, os pesquisadores brasileiros começaram a reunir os músicos e intérpretes, selecionar as composições e realizar os ensaios e testes de conexões de áudio e vídeo desde o último mês de janeiro.

Além de preparar toda a infraestrutura, os pesquisadores brasileiros também ajudaram a compor uma das cinco peças apresentadas no concerto, onde interagiram com músicos em Belfast via internet em tempo real. Arango é um dos compositores da composição vocal “Ser Voz”, de Michelle Agnes, que abriu o concerto.

É uma composição para quatro vozes e bocas, sendo duas masculinas, do Brasil, e outras duas femininas, de cantoras em Belfast. Durante a performance musical e teatral são capturados os movimentos em close dos lábios de cada intérprete e projetados lado a lado em um telão.

Já em outra composição, denominada “Cipher Series”, de Pedro Rebelo, um contrabaixista em São Paulo “duelou” com um pianista em Belfast, estimulados por partituras gráficas, em uma performance semelhante à de uma jam session, como são chamados os momentos de improvisação no jazz.
“A música em rede permite aos músicos de diferentes lugares no mundo desenvolver seu conhecimento musical na performance e acaba ressaltando o improviso”, avalia Arango.

“A interação social é um traço importante da interpretação musical. A rede acentua a presença remota e isso gera um ambiente propício para a improvisação, em que a partir do que o outro está tocando um musicista toma as decisões do que irá tocar, imitando o que o outro está fazendo ou realizando uma variação, de acordo com sua formação e imaginação musical”, exemplificou.

De acordo com Arango, a música em rede não está voltada apenas para uma linguagem musical contemporânea, como a música eletrônica. Apesar de estar trabalhando atualmente com compositores mais voltados para uma linguagem contemporânea e com grupos de música de câmara – integrados por instrumentos musicais convencionais, como piano, contrabaixo, flauta, saxofone e percussão, além de instrumentos eletrônicos, sintetizadores e computadores –, a nova categoria de música é aberta a todos os estilos e tipos de instrumentos musicais.

“A rede não é algo que dará como resultado um tipo de conteúdo musical particular. Ela é mais uma plataforma para que qualquer tipo de música, da mais erudita até a mais popular, possa ser pensada e levada adiante”, afirmou.

Os pesquisadores brasileiros pretendem criar um acervo de composições para música em rede em parceria com o grupo da Queen University Belfast. Além disso, também planejam realizar um novo concerto via internet unindo, além de músicos em São Paulo e em Belfast, também em uma terceira cidade. “Possivelmente, nós trabalharemos este ano para fazer isso”, disse Arango.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

As práticas, as leis e o bem intelectual

SOPA – a nova ameaça à liberdade da rede

Por Bia Martins, do blog Autoria em Rede


Tenho escrito aqui no blog sobre as transformações nos modos de produção e circulação dos bens intelectuais na atualidade. Padrões anteriormente bem definidos de controle, tanto em relação à autoria de uma obra quanto a sua distribuição e monetarização, vêm sendo desestabilizados por práticas sociais de compartilhamento que estão impondo modelos abertos de criação e acesso a esses bens. Esta mudança vem ocorrendo, de fato, apesar da resistência das grandes empresas de mídia que, por seu lado, têm desenvolvido todo um instrumental tecnológico e jurídico na tentativa de impedir esse fluxo.

Pois uma das mais fortes reações à mudança está se dando agora, com a apresentação de um projeto de lei que está para ser votado pelo Congresso dos EUA. Se for aprovado, o projeto conhecido pelo acrônimo SOPA (Stop Online Piracy Act) permitirá que se processem sites acusados de permitir ou facilitar o descumprimento dos direitos autorais e de propriedade intelectual, podendo determinar a sua exclusão em resultados de mecanismos de busca, o corte de anunciantes e até mesmo o bloqueio do acesso a eles. Para isso, basta que o site em questão tenha links para outro site que tenha conteúdo tido como não autorizado. Por conta disso, grandes sites, como Facebook ou WordPress, por exemplo, e também os provedores poderão optar pela censura prévia a conteúdos, pelo medo da punição. E o pior é que a lei terá repercussão mundial porque vai legislar sobre todos os servidores web localizados nos EUA, por onde passa grande parte do tráfego da internet.

Essa iniciativa de restrição à liberdade na rede atende aos interesses das grandes corporações de mídia, como indústria fonográfica e estúdios de cinema, que querem controlar o fluxo de arquivos de som e vídeo especialmente. E, por outro lado, conta com o repúdio de novas grandes empresas de tecnologia, como Google e Facebook, que baseiam seus negócios na livre circulação de dados. A boa notícia é que a Apple e a Microsoft, as duas principais companhias que fazem parte do Business Software Alliance (BSA), retiraram nos últimos dias o apoio ao projeto.

Confira o infográfico, em inglês, que resume a questão.

Nesse embate de gigantes, o que está em jogo é o modelo de circulação de bens intelectuais na sociedade. Como já argumentei em outros posts, do meu ponto de vista, essa é uma mudança sem volta que está relacionada com o novo modelo de produção capitalista, de caráter cognitivo, no qual o conhecimento está no cerne da produção: é o conhecimento que produz mais conhecimento. Nesse contexto, a informação precisa circular livremente para que possa gerar cada vez mais valor. Não é à toa que, apesar de todas as medidas restritivas, as práticas de compartilhamento de dados, como os downloads de música e vídeo, não parem de crescer.

No entanto, estamos ainda no momento de disputa entre o antigo e o novo modelo, e deveremos assistir ainda a muitos rounds pela definição dos parâmetros sobre as formas de circulação desses bens. Não há dúvida de que haverá a necessidade de chegar a novos marcos regulatórios, mas eles deverão levar em conta o contexto econômico e cultural da atualidade, que tem no compartilhamento da produção intelectual e na cooperação produtiva o seu modus operandi.

Quem tiver interesse em ler mais sobre esse embate, acaba de ser publicado meu artigo Autoria, propriedade e compartilhamento de bens imateriais no capitalismo cognitivo, na Liinc em Revista