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quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Porque as "questões das mulheres" são questões de toda a sociedade

Mulheres abrem mão de carreira por causa de maridos, não de filhos, diz estudo




Pesquisa realizada nos EUA concluiu que elas se sentem pressionadas a assumir filhos e obrigações do lar para que maridos possam se dedicar à profissão
Muitas mulheres deixam suas próprias carreiras em segundo plano não para criar os filhos, mas para priorizar a carreira de seu parceiro. Esta é a conclusão de Pamela Stone, professora de Sociologia da Hunter College, em Nova York (EUA), em entrevista ao jornal espanhol El País nesta terça-feira (10/11).

Ela é uma das autoras do estudo “Life and Leadership after HBS” ("Vida e Liderança após Harvard Business School", em tradução livre). Em sua pesquisa, foram entrevistados 25 mil ex-alunos e ex-alunas da instituição, com idades entre 26 e 47 anos, com o objetivo de analisar as aspirações profissionais de homens e mulheres que foram preparados para posições de liderança no mercado de trabalho.

Segundo Stone, as mulheres sentem-se pressionadas por seus parceiros, pelas instituições onde trabalham e pela sociedade como um todo a assumir a criação dos filhos e as obrigações do lar para que seus companheiros possam se dedicar à carreira.

Agência Efe/Arquivo

Christine Lagarde é diretora do FMI (Fundo Monetário Internacional); ela, que tem dois filhos, não sucumbiu à pressão social
 
Como resultado, as mulheres se mostraram mais insatisfeitas com suas trajetórias profissionais do que os homens. Dados coletados mostraram que 60% dos homens estavam “extremamente satisfeitos” com suas experiências profissionais e oportunidades de promoção contra 40% de mulheres que descreveram sentir o mesmo. Dos homens que participaram da pesquisa, 83% eram casados.
 
Atualmente as mulheres ocupam menos de 20% dos cargos de responsabilidade nas 500 empresas mais importantes do mundo, de acordo com a revista Fortune. Além disso, a Organização Internacional do Trabalho divulgou, em março, um relatório indicando que não haverá igualdade salarial entre os sexos até 2085.   

Em Madri, 500 mil vão às ruas contra ‘terrorismo machista’ e violência de gênero; veja fotos

No Brasil, homicídios de mulheres negras aumentam 54% em 10 anos, mostra estudo da Flacso

O estudo ainda revelou que 75% dos homens esperava que, no futuro, suas companheiras assumissem a maior parte da responsabilidade de criar os filhos, e 50% das mulheres respondeu que esta seria de fato sua função. Entre os homens entrevistados, 70% considerava que suas carreiras teriam prioridade sobre a de suas esposas e cerca de 40% das mulheres concordaram com esta afirmação.

Para Pamela, a “culpa” é da própria sociedade. Ela acredita que as mulheres devem conversar com seus parceiros para poderem desenvolver suas carreiras e se sentirem mais satisfeitas profissionalmente.

“Os casais jovens que estão pensando em criar um projeto de vida juntos deveriam ter uma conversa sobre quais são as pretenções profissionais e pessoais de cada um. É muito importante escolher uma pessoa que respeite os nossos desejos”, disse. 

domingo, 1 de novembro de 2015

Refugiados, mídia brasileira, povo brasileiro

Imagem de Brasil hospitaleiro 'não passa de um mito', diz pesquisador




Gustavo Barreto analisou a cobertura da imprensa brasileira sobre imigração nos últimos 200 anos e avalia que racismo contra estrangeiros é constante no país

Mesmo em meio a uma crise política e econômica, o Brasil já deu abrigo a mais de 2.000 refugiados sírios desde o começo da guerra no país. O número, divulgado pelo Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), revela que a abertura brasileira é maior do que a dos Estados Unidos (1.243) e até da Grécia (1.275), uma das portas de entrada na Europa, vinculando no mundo a imagem de um país hospitaleiro, onde todos os estrangeiros e imigrantes são bem-vindos.

"Isso não passa de um mito", assegura o pesquisador Gustavo Barreto, que defendeu recentemente uma tese sobre a percepção do estrangeiro pela imprensa brasileira. Após mergulhar em mais de 11 mil edições de jornais e revistas entre 1808 e 2015, ele concluiu que o racismo contra imigrantes, refugiados e estrangeiros é constante na imprensa brasileira, que emplaca a ideia de uma aceitação seletiva.

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Sérgio Vale / Secom

Acre é uma das principais portas de entrada para haitianos que desejam reconstruir a vida no Brasil



Os imigrantes não viram notícia da mesma maneira. “Se for um imigrante ‘aceitável’, como os europeus, ele vai aparecer em geral por aspectos tidos como culturais ou pelos dotes empresariais. Se não for ‘aceitável’, vira notícia pelo crime, pelos problemas sociais que enfrentam. Uma leva de haitianos é considerada uma ‘invasão’ e a mesma leva de espanhóis é considerada um ‘movimento migratório’”, explica Barreto.

Na tese “Dois Séculos de Imigração no Brasil: A Construção da Identidade e do Papel dos Estrangeiros pela Imprensa entre 1808 e 2015”, Barreto analisou a cobertura do tema em jornais como O Globo, O Estado de S. Paulo, Folha da Manhã, Correio da Manhã, O País e Gazeta do Rio de Janeiro desde a chegada da Corte portuguesa no Rio de Janeiro até hoje. Algumas matérias encontradas por Barreto e a introdução da tese estão disponíveis no site Mídia Cidadã.



Opera Mundi: Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), entre 1901 e 2000 a população brasileira saltou de 17,4 milhões para 169,6 milhões de pessoas, com 10% desse crescimento se devendo aos imigrantes. O Brasil é uma terra de imigração?

Gustavo Barreto: Eu diria que o país está em um meio termo. Terra de imigração são os Estados Unidos, a França, o Canadá, a Argentina. Nesses países, mesmo que se observe em alguns casos um direcionamento racial muito claro, a participação do imigrante na formação da sociedade é de duas a cinco vezes maior. Mas o Brasil é certamente um caso interessante, com diferentes povos interagindo quase que por acidente, diante da incoerência entre as políticas ao longo do tempo e dentro do país.

OM: “O Brasil está de braços abertos” para os refugiados, disse a presidente Dilma Rousseff em pronunciamento no último dia 7 de setembro. Qual é historicamente a visão do refugiado no Brasil? Com esta asserção do governo, você diria que existe uma inflexão importante?

GB: No Brasil, historicamente, o refugiado e o imigrante fugindo da guerra e da fome – caso de muitos europeus durante todo o século 19 e início do século 20 – são vistos como trabalhadores, recursos úteis para a economia. No entanto, somos responsáveis por algumas das políticas mais xenófobas e racistas já adotadas em qualquer país. Já no início da República, os governantes proibiram a entrada de “pretos” e “amarelos”, o que era mais ou menos um consenso no regime anterior. Depois, os gestores de Vargas deixavam claro que os negros “de fora” não deveriam se misturar com os negros brasileiros, o que se confirmava não só pelas declarações na imprensa como pela política adotada. Esse cenário nunca mudou totalmente nestes 200 anos que cobrem minha pesquisa. Existe uma política discricionária em relação à imigração, com algumas tentativas do governo federal, nos últimos 20 anos, de humanizar a questão do refúgio, por exemplo. Mas a lei voltada para os estrangeiros continua sendo uma lei aprovada durante a ditadura militar.
A visão do “Brasil de braços abertos” não me parece a mais adequada. Apesar de o governo federal adotar uma posição notoriamente divergente em relação a muitos países do mundo – e isso produz uma enorme diferença no cotidiano dos refugiados do Brasil, sem dúvida –, e certamente distinta em relação a outros tempos históricos de xenofobia aberta, o refugiado hoje sequer é recebido pelas instituições sociais federais ou regionais. No aeroporto, ainda é a Polícia Federal [que o recebe]. Ao entrar – quando consegue –, ele é recebido pela Igreja Católica ou por ONGs. Na prática, o governo empurra uma enorme responsabilidade para instituições que pouco podem diante de uma crise deste tamanho. Basta ver a situação das instituições receptoras de refugiados e de outros imigrantes em São Paulo. Apesar de o governo federal, em parceria com a ONU, dar algum apoio, a resposta ainda fica muito aquém do que deveria. E isso em um país que possui atualmente pouco mais de 8 mil refugiados, segundo os dados oficiais. Oito mil é o número aproximado de refugiados que entram pela Grécia [na Europa] todos os dias. É menos do que entra na Alemanha em algumas horas. Não temos condição de comparar, ainda.

Arquivo pessoal

O pesquisador Gustavo Barreto (esq.) estudou a cobertura da imprensa brasileira sobre imigração
Eu trocaria a imagem dos “braços abertos” pela imagem de alguém abrindo uma porta, de braços fechados, e permitindo a entrada dos refugiados. É uma ação humanitária louvável, mas está longe de serem os “braços abertos” anunciados.

OM: Como o imigrante vira notícia?

GB: Se for um imigrante “aceitável” – como os europeus ou alguns outros tidos como “brancos” (e a “branquitude” é social em alguns casos) –, [aparece na imprensa] em geral por aspectos tidos como culturais ou pelos dotes empresariais. Se não for “aceitável”, vira notícia pelo crime, pelos problemas sociais que enfrentam ou de dois em dois mil – ou seja, reúna dois mil haitianos no mesmo lugar e eles viram, talvez, notícia. Dentro deste mecanismo, não é difícil entender porque uma leva de haitianos é considerada uma “invasão” e a mesma leva de espanhóis é considerada um “movimento migratório”.
Recentemente, uma prova de vestibular de uma importante universidade privada questionou seus candidatos sobre qual é o imigrante “de que o Brasil precisa”. O gabarito trará provavelmente a ideia de que imigrantes são bons para a economia, como descreveu Sayad, enquanto outros não são necessários, não se “precisa” deles. O mais lamentável, a meu ver, é a ideia de que o imigrante ainda leva consigo, mesmo passados 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, o carimbo de trabalhador, de necessário ou desnecessário. Mesmo que a História nos ensine que migrar é uma necessidade tão básica quanto comer.


OM: Hoje, como está percebida a chegada dos sírios e dos haitianos, dois povos empurrados de seus países em um contexto de emergência?

GB: A reação é totalmente diferente, e isso não é nenhuma novidade. Como o número de haitianos é grande desde 2010, eu pude observar na minha tese o racismo aberto e amplo contra os haitianos, quase todos negros. Até mesmo o medo do ebola atingiu os haitianos, que sequer passam pela África na rota mais comum para o Brasil.
Com os sírios – e ao longo da história tem sido assim, segundo pude observar na tese –, o cenário muda um pouco. Agora mesmo, podemos observar dezenas de matérias na imprensa de solidariedade com o povo sírio. A guerra não é a única explicação, do contrário a simpatia se estenderia aos refugiados da República Democrática do Congo, de Angola ou do Mali, por exemplo. E o que observamos é uma cobertura notoriamente negativa, quando haviam apenas angolanos e liberianos para mostrar. A cobertura sobre os angolanos nos anos 1990 os destacava como traficantes ou pequenos contraventores, marginalizados que estavam em bairros e favelas da periferia do Rio como o Complexo da Maré.
O que mudou, então? Os sírios, a meu ver, são mais palatáveis. E nos anos 1930, durante uma crise parecida no Oriente Médio, a mídia foi decisiva para eleger quais árabes eram aceitáveis e quais não eram. Em 1934, os assírios passaram em poucos meses de campanha midiática de “árabes cristãos” a “refugiados muçulmanos”. Depende da forma como você constrói. E a visibilidade positiva que você, enquanto editor, decide dar a cada povo. E isso está acontecendo hoje tal como há 200 anos vem acontecendo.


OM: Houve uma preocupação com o embranquecimento da sociedade brasileira?

GB: O tempo todo. Esta é uma dinâmica que corta toda a sociedade brasileira até os dias de hoje. O desejo de se europeizar permanece no discurso público, mesclado agora com a hegemonia norte-americana. Isso era claro durante todo o século 19 por meio de políticas públicas e discursos abertos; mais ou menos evidente durante a Primeira República; envergonhado, porém fortemente persistente durante o período Vargas; e envergonhado e persistente durante o pós-Segunda Guerra Mundial. Conforme destaquei anteriormente, a cobertura de imprensa ainda nos dá pistas concretas acerca da ideologia do embranquecimento. Mas é preciso, agora, avaliar o dito pelo não dito – certamente uma nova forma de perpetuar o racismo, mas ainda muito presente e ainda muito eficaz.

Reprodução Facebook

Refugiados durante
curso de adaptação gratuito oferecido pela USP com aulas gratuitas de geografia do Brasil


OM: Como é vista a imigração “natural”, a dos vizinhos?

GB: Igualmente problemática, porém mais antiga e, portanto, mais acomodada. A boa relação com os países do Mercosul ajuda bastante, mas há casos em que os estigmas que estão escondidos no cotidiano do brasileiro ressurgem a partir de matérias sensacionalistas da imprensa. Casos de crimes cometidos por estrangeiros, por exemplo, costumam ser ressaltados de modo que um país – e seus respectivos nacionais, portanto – passa a ser “condenável” na imprensa. Pelo menos por um período, enquanto durar a repercussão de um caso.

OM: Do ponto de vista do vocabulário, qual é, na imprensa, a diferença no uso dos termos imigrante, estrangeiro e refugiado?

GB: Isso pode variar, claro, mas eu observei na minha tese que há gradações de aceitação. O refugiado é o menos aceito, historicamente, por carregar o peso das guerras. Um dos principais autores que eu consultei, Abdelmalek Sayad, constata por exemplo que muitos dos imigrantes são obrigados a carregar o seu país nas costas. E com a evidência de uma guerra ou um conflito civil, o refugiado é o mais “pesado”.
O imigrante, por outro lado, é a incógnita. A questão acaba sendo essa: ao ser tornado uma incógnita, ele não é nem um cidadão de seu país, nem um cidadão nacional. Deixá-lo nesse limbo permite, por exemplo, que muitos governos expulsem imigrantes assim que estes se tornem não mais “desejáveis”, e a aceitação dele pode variar de acordo com fatores culturais ou econômicos.
O estrangeiro, por outro lado, é o “turista” do qual fala Zygmunt Bauman. A sua principal característica é a mobilidade. Ao contrário do imigrante, que é obrigado a se enraizar em um único lugar devido às dificuldades financeiras e políticas, o estrangeiro transita pelo mundo sem se preocupar com sua raiz. Ele pode se deslocar quando bem entender, e isso o diferencia inclusive do próprio nacional que nunca terá condições de se desterritorializar.

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Assistir a filmes com histórias tocantes ajuda a gerar compaixão no mundo real, dizem pesquisadores

ONU: Mais de meio milhão de refugiados e imigrantes chegou à Grécia pelo mar em 2015

USP oferece curso de adaptação com aulas gratuitas de geografia do Brasil para refugiados

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OM: Esses “papéis” podem ser trocados?

GB: Claro, o refugiado pode ser visto, arrisco, como um “coitado” que deve ser acolhido, enquanto o imigrante pode tomar o lugar do “aproveitador”, que quer apenas enriquecer e roubar os recursos do país. Estes são discursos bastante comuns durante toda a história do Brasil e foram feitos contra os judeus e alguns grupos de árabes, por exemplo, durante todo o início do século 20. O que todos estes discursos e conceitos promoveram, ao longo desse período? A desumanização daquela pessoa que está por trás do imigrante, do refugiado, do estrangeiro. Era uma forma de dizer claramente, seja para qual efeito fosse: você é o outro. Não somos iguais. Não é à toa que, conforme descrevo na tese, pelo menos 12 campos de concentração de estrangeiros foram identificados durante os anos 1930 e 1940. Não eram, certamente, os mesmos que se viam na Europa naquele momento. Mas a gênese e, inclusive, os grupos, eram os mesmos.

Luiz Carlos Erbes/ Câmara Municipal de Caxias do Sul

Ganenses que vieram para a Copa do Mundo em 2014 e pediram refúgio ao Brasil recebem orientação



OM: Como é percebido o estatuto do escravo, que foi um imigrante forçado?

GB: O escravo nunca foi reconhecido oficialmente como tal até o início da década de 2000. Até mesmo as Nações Unidas demoraram em reconhecer a escravidão como um crime contra a Humanidade, o que exige um processo de reparação e conciliação. Para que não se tenha dúvida de que o negro era nocivo ao futuro do Brasil, os republicanos do fim do século 19 legislaram para que fosse proibido subsidiar a entrada de imigrantes negros. A tese conta um caso curioso de um projeto de lei que tentou trazer negros livres para o Brasil na década de 1850, com recursos públicos. Não passou, evidentemente, mas isso demonstra um pouco a força que tem a figura do imigrante como trabalhador – o imigrante trabalhador é praticamente um pleonasmo na História da imprensa brasileira que pesquisei. E o negro era um “bom” trabalhador, desde que fosse colocado em seu lugar, de subalternidade.
A luta do negro para se tornar cidadão é tão atrasada que, eu arrisco, ainda está longe de chegar a um patamar aceitável de inclusão. As profissões similares ocupadas por escravos durante o século 19, como amas de leite e carregador, ainda são ocupadas por uma imensa maioria de negros. E isso tem a ver com o status do negro – e aí incluímos os haitianos, os malineses, os congoleses, etc – de subalternidade que é imposto na imprensa brasileira ao longo desses anos. Isso mudou? Não sei. Pela minha área de atuação, que é restrita aos imigrantes na imprensa, não muito.


OM: Diferentes comunidades costumam ser percebidas de maneiras diferentes: "os japoneses são trabalhadores", por exemplo. Existem muitos estereótipos?

GB: Os estereótipos são percebidos em toda a história da imigração relatada pela imprensa. Há dezenas de exemplos na tese e no site da tese. Eles mudam, é claro, de acordo com os ventos políticos. Há diversas entradas possíveis: ideológicas, sociais, culturais, religiosas. Depende dos objetivos de cada grupo político. Houve, como afirmei, quem defendesse o negro como trabalhador em plena década de 1850, enquanto outros trabalhadores – como os judeus e os árabes em alguns momentos no início do século 20 – foram tidos como “aproveitadores” por basearem toda a sua renda no comércio, que supostamente não “produzia” efetivamente nada. No fundo, os estereótipos cumprem uma função política. Uma vez alcançados os objetivos políticos, muitos dos estereótipos eram deixados de lado, substituídos pelo “humanismo” da “hospitalidade” brasileira – outro recurso usado na esmagadora maioria das vezes apenas com um propósito político. Incluindo o de expulsar algumas etnias.


OM: Houve épocas em que o imigrante era mais bem visto ou, ao contrário, mais rechaçado? Já houve a tentação de fechar as fronteiras?

GB: Não há nenhum período político brasileiro em que não houvesse a tentativa – muitas vezes bem-sucedida – de “fechar as fronteiras”. Todos – inclusive o atual. Essa tentação dá o tom do “diálogo” em torno da imigração. Mais recentemente, por exemplo, quando a imprensa relatou uma suspeita de ebola de um guineense no sul do país, milhares de comentários pelo fechamento das fronteiras foram repetidos nos portais de informação e pelas redes sociais, mesmo que a Organização Mundial da Saúde alertasse que este não era um caminho razoável ou aceitável. E isso tem a ver não apenas com a ideologia das pessoas, mas com a forma como a imprensa coloca o tema – conforme mostrei na tese. O sensacionalismo é um dos métodos para assustar as pessoas.
Em outros momentos, o imigrante por vezes era mais bem visto – o branco, católico, trabalhador – enquanto esse jogo poderia virar na geração seguinte – caso dos italianos “subersivos”, ou quando a Itália estava do “lado errado” da guerra. Há grupos, no entanto, que nunca tiveram uma aceitação ampla e irrestrita por parte da imprensa. É caso dos muçulmanos abertamente praticantes. E esse é um problema estrutural que persiste. Há, evidentemente, outros casos, como o dos paraguaios, dos bolivianos ou dos chineses. O estigma pesa muito mais do que em relação aos espanhóis ou os sírios, por exemplo.


OM: Qual é o impacto de eventos como o 11 de setembro ou ações do Estado Islâmico sobre a percepção do público brasileiro sobre árabes e muçulmanos?

GB: A imprensa passa a ideia, atualmente, que os atentados dos EI pesam sobretudo contra os cristãos, quando são os muçulmanos – qualquer um que se coloque contra o fundamentalismo e, portanto, uma imensa maioria de muçulmanos – as maiores vítimas. Não são os grandes eventos que formulam esse tipo de orientação, e sim a imprensa que, pouco a pouco, vai idealizando um cenário em que há atores facilmente identificáveis em um roteiro pré-moldado. Ao tentar “explicar” os acontecimentos de modo “simples”, a imprensa ainda continua ressuscitando velhos fantasmas de modo eletivo. É por isso que os rebeldes de maioria cristã da República Centro-Africana, que promovem atrocidades parecidas com as do Boko Haram, são muito menos conhecidos. Ou, em outro exemplo, é isso que faz com que os budistas sejam vistos no país como sinônimo de povo pacífico, mesmo que haja fundamentalistas extremamente violentos no sul da Ásia. Esses relatos não cabem na historinha contada na grande imprensa.

Lamia Oualalou / Opera Mundi

Salam é um dos refugiados que vive em ocupação de grupo de sem-teto no centro de São Paulo



OM: Existe um complexo de vira-lata em relação a alguns estrangeiros?

GB: Sem dúvida. Isso, no caso da tese, é percebido na forma elogiosa, quase que divina, que são relatadas algumas culturas europeias aqui estabelecidas. Isso nada tem a ver com a realidade, mas esse mecanismo tem a ver com a noção de que alguns povos são superiores a outros, o que tem sido combatido desde marcos como a Declaração Universal dos Direitos Humanos. A minha real expectativa é de que essa diferenciação – pelo menos tal como se dava nos séculos anteriores – tende a enfraquecer.


OM: Como explicar a dificuldade encontrada para mudar o estatuto do estrangeiro, que data da época da ditadura?

GB: Trata-se de um misto de descaso com conservadorismo. Ainda impera, inclusive no discurso de esquerda – o que impressiona, pois trata-se evidentemente de um discurso da direita –, um nacionalismo que teima em segregar os nacionais e os estrangeiros, relegando os estrangeiros a eternos “outros”. Esse discurso não encontra base na realidade, mas persiste, de alguma forma. O descaso é coerente com a atenção que o tema recebe do público em geral. A questão imigrante parece um capítulo relegado ao esquecimento, uma nota de rodapé na história do Brasil. O assunto sempre retorna, mas como um detalhe, um apêndice.
A tese que prevaleceu é a tese conservadora do “caldeirão cultural”. Uma vez jogados todos num caldeirão, sairia uma raça melhorada, mistura da força do negro (ou sem o negro, de preferência) com a inteligência do europeu. Daí nasceria o brasileiro, o “diverso”, que é outra coisa, única. A ideia de que várias culturas poderiam conviver é pouco aceita, na prática: a diversidade tipicamente brasileira tem a ver com o fato de que todas as culturas deveriam sumir, produzindo o brasileiro miscigenado (porém brasileiro).
Dessa forma, mudar o estatuto de uma peça de segurança pública, como é atualmente, para uma legislação humanista e aberta à diversidade não encontra ampla aceitação na sociedade. Essa aceitação pode ser moldada e, novamente, os estereótipos certamente serão convidados a atuar politicamente em prol dos projetos em disputa. Essa é uma longa batalha e meu palpite é que, caso venha à tona, pode se tornar um grande debate nacional – o que, no cenário de ultraconservadorismo atual, pode ser um desastre. Analiso a cobertura da aprovação do estatuto em vigor, no início da década de 1980, e não me parece algo distante do que vivemos hoje.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Imaginário: objetos técnicos, objetos artísticos


Estética ou nostalgia? Formatos 'obsoletos' são suporte para obras de artistas e designers contemporâneos




Filmes Super-8, consoles de 8 bits, fitas cassete e VHS, câmeras Polaroid, celulares sem conexão com a internet e até televisores de tubo: formatos analógicos são material e linguagem, não um suporte acidental por coincidência no tempo
Jonathan Rubio / Flickr CC

Todos amam fitas cassete: até as caixinhas de plástico são suporte para a criatividade de músicos e designers saudosistas


Entre os fanzines, os livros e as ilustrações, o festival Gutterfest de edição independente, realizado em Barcelona no último mês de maio, guardava uma surpresa para os visitantes: em várias mesas, jovens que beiravam os vinte anos de idade vendiam fitas cassete de música. Havia capas desenhadas à mão, e a caixa de plástico estava camuflada sob uma sobrecapa de cartolina com um nó de fios de ráfia. Tecnologia obsoleta decorada com pré-tecnologia, artesanato da era pós-industrial. Sessões musicais confeccionadas escutando as canções com o dedo no botão de pausa: um acervo da era dos formatos abandonados.

“As limitações de uma geração convertem-se na estética da geração seguinte”, comenta Ed Halter, crítico e curador de arte eletrônica, no documentário “8-bit”. Na era do VHS, nossos programas gravados brilhavam em textura saturada e ondulada porque não havia outro jeito. Hoje a estética VHS se falseia voluntariamente com filtros de pós-produção que acrescentam ruído analógico e deformam a quadratura do pixel. Hoje a textura é uma opção e, portanto, uma declaração de intenções, uma afirmação sobre uma normalidade muito mais fiel e de melhor resolução. As limitações do passado formuladas no presente são uma estética disposta a enunciar, apropriar e ostentar. Um patrimônio, uma antologia, uma coleção dos restos do progresso tecnológico e da obsolescência programada – ruínas de civilizações desconhecidas que rebobinavam.

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“O emprego de tecnologias obsoletas ajuda a compreender melhor a distância entre a imagem e seu significado”, afirmou o artista Javier Arbizu, durante um debate sobre suas obras realizadas em filme fotográfico de 16 mm. A frase pode ser aplicada à lista de formatos que estão sendo recuperados: filmes de Super-8, fitas de 8 canais, consoles de 8 bits, fitas de VHS, câmeras Polaroid, celulares sem conexão com a internet, televisores de tubo. A criação de novas obras com formatos analógicos obsoletos estabelece o formato como material e como linguagem. Como um fator que se escolhe, não um suporte acidental por coincidência no tempo.
Julien Knez

O artista francês Julien Knez criou capas para fitas VHS de séries e filmes contemporâneos


Outro aspecto diferente tem a reformulação de elementos modernos sobre formatos do passado, que faz um salto temporal em que se misturam opções estéticas e o sentimento nostálgico. O fotógrafo Julien Knez criou uma página no Tumblr com versões de capas de VHS de filmes e séries contemporâneas, dando à novidade uma pátina de caminho trilhado. O projeto “8 bit map maker”, de Jay Bulgin, pega qualquer região no Google Maps e o converte em um cenário de videogame de 8 bits, pronto para colocar o personagem Super Mario nas calçadas do bairro.

Os jovens não têm nostalgia pelas inovações que já conheceram superadas e por isso suas desventuras com os aparelhos velhos revelam os fatores que continuam vigentes. A série do YouTube “Kids react!” [“A reação das crianças!”, em tradução livre] coloca adolescentes e pré-adolescentes diante de aparelhos cujo funcionamento deve  ser feito de forma intuitiva. Na frente de um telefone fixo, eles se assombram diante das dificuldades do disco giratório. Ao se depararem com um walkman, levam uma eternidade para imaginar que ele tem de ser aberto e descobrem horrorizados que as músicas vêm em fita cassete que têm de ser inseridas e que não é possível pular imediatamente para a próxima música. A canção é uma fita cassete física, o filme está numa fita tangível, fica um rastro físico das horas investidas. Cada experiência está associada a um objeto – o extremo oposto da volatilidade da era dos aparelhos sem fio.

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A virtualidade dos arquivos armazenados na nuvem, que permite o consumo sem rastros físicos, não eliminou a paixão pelo objeto. Na minha casa, por exemplo, de todos os aparelhos antigos que possuo, o único que chama a atenção das visitas é a máquina de fliperama. Todos os jogos que aparecem na tela gigante podem ser emulados nos aparelhos de bolso. Jogar com saltos e golpes, porém, constitui um ritual ancestral, uma recriação de tempos mais brutos com aventuras mais simples, uma dança que conecta gerações de videojogadores.

Obsolescência futurística
A fascinação digital por formatos analógicos também aponta em direção aos possíveis componentes obsoletos que formariam a estética do futuro. O artista britânico James Bridle está há cinco anos compilando os indícios em sua página no Tumblr New Aesthetics [Novas Estéticas, em tradução livre], onde surgem diálogos no Whatsapp, filtros do Instagram, os Captchas que nos identificam como humanos, as nuvens pixeladas de erros quando falha o sinal da rede – limitações de hoje que amanhã serão identidade.

“Tudo o que você jogou fora está na moda”, resumia um jornal mexicano sobre a recuperação de formatos analógicos na era digital. Alguns transcenderam até se converterem em puro signo: crianças de hoje que digitam com o celular perguntam aos pais que desenho é esse que aparece no botão de gravar. O ícone tecnológico do disquete de 3,5 polegadas ultrapassou o objeto e hoje se fantasia de forma imaterial, como um remanescente de outro tempo, assim como alguns médicos de hoje, muitos sem saber disso, incluem o olho de Horus nas receitas médicas como uma tradição milenar.
A recuperação analógica na era digital tem nostalgia dos contextos perdidos, mas também é uma afirmação da diferença. As boas ideias são para todos, porém as abandonadas são apenas nossas.

Tradução: Mari-Jô Zilveti
Matéria original publicada no site do jornal espanhol El Diario.

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Comunidades discursivas

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TODXS SOMOS ELLA

De 07 à 10 de maio mais de 300 ativistas de 21 países se reuniram na Bolívia para dar vida ao ELLA 2015, o Segundo Encontro Latino-Americano de Mulheres que foi realizado na Villa Coronilla, em Cochabamba.
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Durante quatro dias, militantes, midiativistas, agentes culturais, organizações e representantes de diferentes movimentos de mulheres vivenciaram o proyecto mARTadero, localizado na periferia da cidade. O ambiente é considerado um berço das artes, focado na mudança social através de mecanismos ​​artísticos e culturais. Foi assim que, do coração da América Latina, dos cantos do mARTadero, a polifonia e a pluralidade das mulheres reunidas apontaram acordos estratégicos para o empoderamento de todas as identidades femininas e criaram uma agenda comum para o fortalecimento do papel da mulher na sociedade contemporânea.
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A programação do ELLA 2015 abrangeu diversos eixos temáticos de trabalho, entre eles: corpo, saúde e aborto, LGBTTTIQ, Micromachismos, Mulheres + TICs, Mulheres Afrodescendentes, Mulheres indígenas, Cultura, Violência e Sexualidade. As participantes refletiram e debateram em torno às temáticas, além de propor ações coletivas pontuais e abrangentes. Tudo isso, em um grande espaço de convivência, encontros e reencontros, em que a troca de experiências e as conexões subjetivas também fizeram parte importante da programação.
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A primeira edição do ELLA foi realizada em 2014, de 15 a 18 de maio, na cidade de Belo Horizonte/Brasil. Formada por cerca de 50 atividades marcadas por convívios e práticas colaborativas, o encontro teve como intuito, colocar em contato experiências de diferentes perfis de mulheres vindas de mais de 15 países da Iberoamérica, como a Argentina, Bolívia, Venezuela, Chile, Equador, Colômbia, Perú, Costa Rica, Uruguai, México, Guatemala, Honduras, Espanha, Paraguai e Brasil.
O objetivo principal do primeiro encontro foi conectar iniciativas e pessoas em rede para troca de experiências e elaboração de propostas conjuntas em escala continental. A aliança gerada pelo encontro construiu diversas campanhas feministas ao longo do ano, além do ELLA 2015, ampliando sua abrangência e tornando-se ainda mais colaborativo.
Boletim especial PT-04
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Nandin Solis a Wigudur Galu, como gosta de ser chamada é nativa da comunidade dos Kuna, uma população indígena do Panamá. Ela habita sua comunidade e seus afetos a partir de uma identidade particular, as Wigunduguid, em honra a um Deus Kuna cuja a particularidade é ter uma alma dupla. Omeguid, significa "como mulher", e muitas vezes é usado depreciativamente, para falar dos homens homosexuais da comunidade. Nandin, em um gesto de reapropriação de insulto, se apresenta de ambas formas. Qualquer um que não conheça suas terras pensaria que uma Omeguid é claramente uma pessoa trans, mas segundo o que nos conta Wigudur, é uma identidade transgênero particular muito diferente - http://bit.ly/1B6M8o4
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Kelly Inés é colombiana afrodescendente, e se apresenta como lésbica-abortóloga, seus ideais apostam na construção a partir da crítica feminista, com o objetivo de criar as possibilidades necessárias para que cada corpo faça de sua carne, seu próprio campo de batalha. Nesta entrevista aumenta a urgência de diferenciar o potencial e o futuro de ambas as categorias políticas: o feminismo como projeto emancipatório e as mulheres como experiência politizada - http://bit.ly/1HmrjcX
3
Simone Silva confirma que o MTST começou por volta de 1990, sendo uma luta de ocupação de espaços públicos, para logo negociar com o governo local soluções de moradia digna. Em São Paulo, uma das cidades mais caras da América Latina, milhares de trabalhadores não tem ingressos suficientes para pagar o aluguel de um apartamento pequeno, que pode custar cerca de 1.500,00 reais, ou um passe de metrô que pode custar em torno de 4,50 reais, demais para quem os salários não passam de 1.600 reais mensais.
Só alguns minutos de conversa bastaram para entender que sendo em sua maioria de mulheres, o MTST está intimamente ligado com a politização radical do pessoal - http://bit.ly/1FmVUrh
4
A voz de Magdalena Fabbri - coordenadora da Organizando Trans Diversidad (Chile) - nos convidou a questionar nossos privilégios de sexo, gênero, classe e raça, para avançar na construção de agendas específicas.
Sua experiência de transgenerização é traçada no limite de vida em um suicídio, a ansiedade, e, principalmente, sobre as críticas de cada privilégio com o qual ele foi socializadx - http://bit.ly/1ddgOik
ffffff
Com 28 anos Georgina Orellano (Argentina) transmite na força das suas palavras, a experiência de ter exercido durante 9 anos o trabalho sexual nas ruas de Buenos Aires. Suas reflexões ecoaram no ELLA para questionar a hipocrisia moral da sociedade que habitamos e para posicionar a autogestão dos corpos, como forma de disputar o poder com o capitalismo e suas formas de domínio e exploração do corpo das mulheres e homens na relação capital-trabalho. - http://bit.ly/1E9MyK6
nnn
"Se eu pudesse escolher, eu teria escolhido mil vezes ser lésbica." Assim começa o depoimento de Vero Ferrari, jornalista, ciberativista e militante feminista do Peru que liderou o Movimento Homossexual de Lima. http://bit.ly/1QjuMLJ
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Boletim especial-05
150510 OK ELLA 22958
150507 OK sin titulo 21288
 
150507 OK sin titulo 21379
 
150509 OK ELLA 22330
antisa-8
 
150509 OK ELLA 22883
 
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150507 OK sin titulo 21355
Veja a cobertura colaborativa fotográfica completa realizada dia a dia durante o ELLA 2015:
(Todas as fotografias produzidas na cobertura colaborativa do ELLA se encontram disponíveis em alta resolução nos albuns linkados e podem ser utilizadas livremente com a licença Creative Commons 3.0)
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Boletim especial PT-06
ddd
As diferentes mesas de debates e reflexões do Segundo Encontro Latino-americano de Mulheres, foram transmitidas ao vivo pelo canal de streaming Abya Yala com o objetivo de aproximar do ELLA, todas aquelas que não puderam acompanhar presencialmente a jornada. Com transmissões em tempo real, todo o material do ELLA 2015 pode se ver nesse link - http://bit.ly/1Hxn4eF
Boletim especial-07
fa
De que maneira você vê a imagem da mulher nos meios de comunicação? O debate muitas vezes é invisibilizado por nossa sociedade. A imprensa segue desenhando os destinos e papéis sociais das mulheres enquadrando-as em um contexto de desigualdade. Foi a partir dessa provocação que o Facción + ELLA proporcionaram através de diferentes linguagens, como as entrevistas, fotografia, crônicas e vídeos projetar a luta feminista em todos os campos. Por meio das redes e das ferramentas de comunicação alternativa, os quatro dias do encontro estiveram em um fluxo de informação sob a mesma lógica, e concluímos que: a comunicação deve ser feminista.
Conheça mais e acompanhe o material das redes sociais!
Boletim especial PT-09
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Durante todo o encontro, em um estúdio armado pelo canal de televisão Abya Yala, as participantes do ELLA realizaram entrevistas para compartilhar suas expectativas sobre o espaço. O que levaram do ELLA 2015? As mulheres levantaram a voz: saíram da Bolívia com alegria, um espírito renovado de resistência e acompanhadas por novas companheiras de luta.
Dê play na lista de reprodução e conheça quem são ELLAS, nós mesmas. Assista - http://bit.ly/1PJ3vY7
Boletim especial-08  2
photo 2015-05-21 23-11-26
A rádio no ELLA 2015 foi uma espécie de auto-falante livre, criada para acompanhar as refeições, intervalos, entre outras atividades que se sucederam no encontro. Essa cobertura foi feita pelo Facción Rádio - O braço radiofônico da rede Facción. A Plataforma tem como objetivo traspor a pluralidade de vozes unindo o mapa latinoamericano para ecoar no continente. Essa foi a primeira experiência de cobertura feita pela frente específica de rádio do Facción.
Acompanhem e escutem como soaram os 4 dias de vivências em Cochabamba. Veja a cobertura do Fáccion Rádio - http://bit.ly/1Gyymk7
Além da produção dos materiais, a rádio também incidiu na formação de novos quadros em conjunto do projeto Sonora Coronilla. As atividades contaram também com a atuação da "NoisRádio Comunicação Alternativa" e com as crianças do Coletivo Villa Coronilla, um grupo formado por meninos e meninas do bairro da periferia cochabambina. A iniciativa é semente que se formou no processo de comunicação aberta impulsada pelo proyecto mARTadero. Os pequenos se lançaram a aprender rapidamente como manusear os equipamentos básicos para realizar registros em áudio. Assim, colocamos em prática a aprendizagem e o trabalho colaborativo nas entrevistas sem censura. Nessa nota, um destaque sobre a experiência: As crianças dominaram a rádio.
Boletim especial PT-10
150507 OK sin titulo 21288
Com seus diversos eixos temáticos de trabalho, as participantes se empoderaram das discussões que compuseram a programação, tal como o ato de soberania e autonomia das mulheres sobre os seus corpos, a urgência de seguir militando pela diversidade, o papel da mulher no trabalho e a violência patriarcal, entre outras temáticas.
As reflexões finais foram além dos debates teóricos e se buscou trabalhar em soluções coletivas, elaboradas principalmente a partir das histórias de vida de cada participante que agregaram seus corpos à luta do movimento feminista a partir da pluralidade do movimento de mulheres.
Acesse aqui a sistematização das mesas do encontro: http://bit.ly/1HJiPws
Veja a programação do ELLA aqui: http://bit.ly/1eAJS3G
Boletim especial PT-11
150509 OK ELLA 22353
PROPOSTAS DA ÚLTIMA PLENÁRIA
-> Transformar o ELLA em uma plataforma, um espaço permanente para compartilhar metodologias, informação, formulação de projetos e a criação de intervenções múltiplas e diversas.
-> Foi acordado que o ELLA 2016 será realizado na Centro-América para fomentar maior participação das mulheres da região, em uma lógica de autogestão e com pesquisa de fundos alternativos para alcançar uma maior participação de outras mulheres. Também foi decidido, a inclusão de novos temas, como por exemplo as mudanças climáticas e a transversialização do multiculturalismo em todas as agendas.
-> Abrir um grupo de trabalho a partir do eixo cultural: Fazer com que a cultura seja a base de interação das diversas agendas. Desenhar campanhas entrelaçadas onde se podem levantar todas as lutas na diversidades de uma abordagem cultural. A campanha que foi proposta, foi batizada como nome “A Batalha Cultural” para… (direito das mulheres lésbicas, direitos das trabalhadoras sexuais, direito a decidir, direito a autonomia sexual, direito a identidade de gênero, etc)
-> Promover o convite à organizações participantes do ELLA que se somem à criação da convenção pelos DDSS e DDRR do OEA. A iniciativa está em curso, aberta a quem queira se somar.
-> Criar um fundo colaborativo para viabilizar o que foi proposto e o que foi gerado nas vivências em práticas colaborativas.
-> Ilustração e a criação de simbologias e/ou de simulacros para os próximos encontros por exemplo; Casamentos homossexuais, famílias diveras, amor livre, como formas de manifestação.
-> Criar um plano de fortalecimento entre membros, redes, coletivos e organizações que já exitem em torno do ELLA. Propõe-se fazer parte de um grupo, fortalecer as redes e os movimentos existentes em uma vinculação com as redes regionais de diferentes populações de mulheres e as diversas causas.
150507 OK ELLA 21533
-> Construir um diretório das organizações que tenham participado no ELLA 2014/2015, a mais mulheres, organizações, redes, grupos categorizados que possa ser alimentado de volta progressivamente. Onde todos os participantes podem encontrar temas afins e parcerias criativas.
-> Criar um plano estratégico de participação regional e vinculação de agendas e populações. Criar um plano de comunicação intern junto com a experimentação de novas formas de comunicação para além de redes digitais.
-> Desencadear a mobilidade de recursos em termos internacionais, debater sobre o bem-estar como possibilidade de enfrentar muitas lutas, propor formas de economia criativa, cooperação Sul - Sul entre os países para que estas lutas se tornar virais.
-> Criar uma memória viva que conte a historicidade dos encontros.
-> Fazer encontros temáticos nacionais e subregionais do ELLA para nos conhecermos e saber o que estamos propondo. Realizar mesas permanentes para o próximo encontro.
-> Pelas que já não estão, pelas que seguem junto e as que logo virão. Vamos ao #ELLA2016!
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