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quinta-feira, 28 de maio de 2015

20 anos da internet no Brasil

28/05/2015 às 15:32

Internet completa 20 anos no Brasil: Do e-mail ao Marco Civil

Escrito por: Gustavo Sumares
Fonte: Tribuna Hoje

No dia 31 deste mês, em 1995, foram publicadas portarias da Anatel

Maio de 2015 é considerado o mês em que a internet no Brasil comemora 20 anos. Um dos motivos para isso é que, no dia 31 desse mês, em 1995, foram publicadas portarias da Anatel que permitiram o uso de meios da rede pública de telecomunicações para acesso à internet e criaram o Conselho Gestor da Internet (CGI), órgão multisetorial responsável pela coordenação e integração dos serviços de rede no país.
Mas Demi Getschko, conselheiro do CGI desde sua criação e um dos pioneiros da internet no Brasil, recorda que a rede já era utilizada no país. Com a realização da conferência mundial sobre meio ambiente ECO 92 no Brasil, ONGs já utilizavam a internet para se comunicar e compartilhar informações e dados.
Início
Algumas universidades e empresas também faziam uso, desde aquela época, desse recurso de telecomunicação, basicamente para enviar e receber e-mails. Ainda não existiam os cabos de fibra óptica que atualmente servem de espinha dorsal para a conexão mundial. Naquela época, a ligação digital entre países era feita por meio de cabos submarinos coaxiais, conta Getschko, semelhantes aos que utilizamos para ligar nossas televisões.
Em dezembro de 1994, a Embratel abriu uma chamada para que pessoas físicas que desejassem acessar a internet se inscrevessem para ter acesso. Apenas no ano seguinte os contratos de acesso seriam regulamentados para a forma como os conhecemos hoje, na qual os usuários acessam a internet por meio de provedores, que vendem o acesso que recebem das empresas de telecomunicação.
Expansão
Com o início da exploração comercial da internet no Brasil, a rede começou a se expandir de maneira muito rápida. Getschko observa que a Lei de Moore, que ditava o ritmo de evolução dos processadores e que completou 50 anos recentemente, acabou valendo para a internet também.
Como os processadores praticamente duplicavam de velocidade a cada 18 meses, a quantidade de informações com as quais eles podiam trabalhar também dobrava. E esse aumento da velocidade, aliado à expansão do número de usuários de internet, fez com que a web crescesse de maneira vertiginosa, cada vez com mais textos, imagens e funcionalidades.
Com isso, usuários passaram a exigir cada vez mais largura de banda da internet, para poder receber e enviar cada vez mais dados. Apenas por volta do ano 2000, com a chegada da internet de “banda larga”, foi que a rede, os sites e os serviços digitais começaram a se parecer mais com o que conhecemos atualmente.
Buscadores
Getschko também identifica um momento anterior a esse que foi determinante no desenvolvimento da internet: o surgimento dos buscadores. “Antes deles, a gente só ficava sabendo das coisas porque a gente ouvia alguém falando”, conta.
Na época, circulavam pela rede listas de endereços, que enumeravam uma série de sites interessantes sobre diversos assuntos. O Yahoo!, por exemplo, começou como uma dessas listas. Mas serviços como o Altavista, o Lycos e, mais tarde, o Google, que vasculhavam a rede e indexavam novos sites que apareciam, viabilizaram o uso que fazemos atualmente da internet.
Os buscadores auxiliam o crescimento da internet à medida que permitem que aquilo que é produzido por um usuário seja disponibilizado a todos os outros que busquem por aquele conteúdo, sem que seja necessário saber, de outra maneira, que ele existe. Tanto que, atualmente, quando uma pessoa sente que determinado conteúdo fere sua privacidade, pode solicitar ao Google que remova o site de seus resultados de busca.
O processo, diz Getschko, é como remover um livro do diretório de uma biblioteca, mas não de suas estantes. “O livro continua lá, mas como ninguém vai conseguir encontrá-lo, não faz muita diferença”, diz.
Redes Sociais
Em 2004 apareceria o Orkut, e logo em seguida o Facebook. Com a chegada das redes sociais, a internet foi se tornando, cada vez mais, um espaço virtual de socialização. As discussões agressivas e sem sentido por causa de detalhes, no entanto, já existiam desde os tempos das listas de discussão, lembra Getschko.
A preocupação com o compartilhamento de informações pessoais tem nesse momento um marco importante. Dados íntimos sobre os usuários se tornaram disponíveis em enormes quantidades pela rede. Com isso, começou-se a pensar no que seria necessário fazer para proteger esse tipo de informação de pessoas com fins maliciosos ou mesmo de empresas que veem nela uma valiosa mercadoria.
A facilidade de compartilhar informações, opiniões, imagens e até vídeos representou um novo aumento na exigência de banda da internet. A estrutura de fibra óptica já existente, porém, felizmente estava à altura do desafio. Getschko conta que, melhorando-se a interface da fibra, os cabos podem ter sua capacidade ampliada, e ele acredita que ela ainda pode se tornar cerca de cem vezes maior antes de precisar ser substituída. As preocupações com as novas tecnologias que devem vir em seguida, ao que parece, podem esperar mais alguns anos.
Neutralidade da rede
Ao longo da primeira década do século XXI, questões como a pirataria nas redes e os crimes digitais trouxeram novas discussões sobre o uso da internet. Alguns desdobramentos dessas discussões deram origens a propostas de legislação como a SOPA (Stop Online Piracy Act), que ameaçavam mudar radicalmente a internet, proibindo o acesso de usuários a qualquer conteúdo registrado e protegido por leis de propriedade intelectual.
Legislações como a SOPA, segundo Getschko, têm o problema de “fechar a porta para os usuários” da internet, em vez de responsabilizar os que hospedam e disponibilizam conteúdos protegidos. “É como tentar proibir que os taxistas levem batedores de carteira. O taxista faz o trabalho dele, e não tem como saber se o que o passageiro fez”, opina.
Esse tipo de proposta punha em risco um dos valores principais da internet, a neutralidade da rede. Esse conceito, segundo Getschko, pode ser pensado como uma transferência total de poder de decisão ao usuário: ele deve ter acesso total à rede, e se algum site hospeda conteúdo que infringe leis de propriedade intelectual, é o site que precisa ser alterado, não o acesso do usuário.
Essa foi uma das discussões que levou à elaboração do Marco Civil da Internet, que regulamenta o uso, o desenvolvimento e a comercialização da rede no Brasil. Os grandes objetivos do Marco Civil, para Getschko, são o de preservar a internet como um local “sem jardins murados”, proteger as informações pessoais dos usuários e manter como um espaço de livre trânsito de ideias, cujos rumos são decididos coletivamente pela comunidade.
Regulamentação
Atualmente, dois aspectos do Marco Civil ainda aguardam definição mais precisa. Primeiramente, é necessário determinar quando a neutralidade da rede pode ser quebrada. Em outras palavras, em quais situações deve ser permitido impedir que determinado endereço de IP seja impossibilitado de acessar determinado site.
Um exemplo de situação no qual esse tipo de atitude seria perfeitamente aceitável, segundo Getschko, é no caso de ataques de negação de serviço. Quando diversos IPs tentam acessar um site repetidamente com a finalidade de derrubá-lo por excesso de solicitações, não haveria problema em impedir que esses IPs consigam realizar sua finalidade maliciosa.
Outro aspecto que precisa ser melhor definido sobre o Marco Civil é a questão do registro de acesso de aparelhos à rede. A atual legislação determina que é necessário manter registro de qual IP acessou qual site em qual horário. Alguns serviços e aplicativos, porém, aproveitam essa determinação para armazenar muitos outros dados sobre a atividade do usuário, algo que o Marco Civil, a princípio, combate.
IPv6
Outro desafio enfrentado pela internet atualmente é a mudança do padrão de endereços. Cada dispositivo que acessa a rede ganha um IP, um número de identificação. Atualmente, muitos dispositivos ainda funcionam no padrão IPv4. Esse padrão permite um total de 4 bilhões de endereços diferentes.
No entanto, com a ampliação do número de dispositivos conectados à internet e a popularização dos smartphones, tablets e notebooks, esse padrão se tornou rapidamente insuficiente. É possível contornar a ausência de novos IPs por meio da atribuição temporária de IPs a dispositivos enquanto eles estão conectados.
A tendência de que o número de dispositivos conectados à internet aumente ainda mais com a chamada “internet das coisas” faz com que seja ainda mais necessária a atualização desse padrão. Dispositivos mais novos já funcionam apenas com IPv6; outros, mais antigos, ainda têm só IPv4.
As duas versões não são compatíveis, e o ideal, segundo Getschko, é ter os dois, para se comunicar da melhor forma possível. O processo pode ser comparado à substituição do sinal analógico de TV aberta no Brasil pelo sinal digital, ou ainda, como sugere Getschko, com a necessidade de se atualizar as tomadas dos eletrodomésticos. “Você pode até usar adaptadores por um tempo, mas chega uma hora que precisa trocar”, diz.
Desenvolvimento
Getschko acredita, porém, no poder da internet de superar os desafios que aparecem. Ele lembra o período de popularização da rede em 1995, quando muitos novos usuários começaram a usar de maneira inusitada um espaço que antes pertencia a poucos, e o começo das redes sociais, quando as pessoas ainda liam como verídica qualquer história que chegava até elas, como períodos nos quais havia o medo de que “algo fosse dar errado”.
No entanto, por meio de um amadurecimento das discussões sobre a rede, e também graças ao amadurecimento da relação dos usuários com a internet, os princípios fundamentais que ditam o desenvolvimento da web puderam se manter firmes até hoje.
Um dos exemplos que ele cita desse amadurecimento é a Wikipedia: algo criado por usuários comuns mas, mesmo assim, confiável. “Alguém pode até tentar editar a Wikipédia e escrever coisas erradas, mas os outros usuários protegem aquilo”, diz. “Com o tempo, a internet vai se solidificando.”

domingo, 8 de março de 2015

Mídia, política, sociedade: como se organizam seus poderes?

05/03/2015 - Copyleft

A reforma política será inócua sem democratização da mídia

A velha mídia apenas inocula o ódio a qualquer forma de política. Sem democratizar a informação, a democracia brasileira não conseguirá se defender


Walquíria Leão Rego*
Boletim Carta Maior 
James Vaughan / Flickr

Créditos da foto: James Vaughan / Flickr
A prática democrática, por princípio, é criadora de instituições abertas à revisão constante de suas agências e instituições. Essa abertura a mudanças e aperfeiçoamentos é fundamental para defender a democracia de suas muitas fraquezas. Os democratas sabem que a verdade radical da democracia reside no poder constituinte do povo, ou seja, na ativação permanente da soberania popular.

Como ensinam os clássicos do pensamento político, o povo é soberano em virtude de seu poder de constituir, ou seja, do poder que dispõe para refundar instituições por ele mesmo criadas.  Foi assim na história da democracia desde os gregos. A forma democrática, portanto, pode abrigar seus recorrentes insatisfeitos, pois são eles os sujeitos de suas invenções e refundações institucionais. Essa é a substância definidora da vontade e da necessidade da democracia de rever constantemente a legitimidade de seus vínculos.

Tem sido essa a luta histórica da democracia. Aqueles que estiveram do lado da trincheira dos que combatiam para aprofundar a democracia venceram ou perderam. Os que perderam certamente pagaram caro por suas derrotas. Isso porque as instituições políticas passam a carregar a marca da luta social e o caráter dos vencedores. As instituições políticas são cicatrizes de ferimentos adquiridos no processo de disputa pela construção institucional, e essas marcas profundas sintetizam, de algum modo, a relação de forças da sociedade e da conjuntura refundacional vivida. Na Constituinte de 1988, por exemplo, muitas instituições projetadas para aprofundar a democracia foram vetadas pelas forças políticas dominantes no Congresso Constituinte, apesar da grande participação popular no espaço congressual.

A democracia, portanto, é uma construção permanente de consensos. E se é assim, não há por que deixar de incluir o tema da reforma política na agenda pública do país. Trata-se, afinal, de um debate sobre a repactuação da democracia, distorcida por um sistema político-eleitoral vulnerável a um poder econômico-financeiro que possui enorme força para intervir tanto na política parlamentar, como nos rumos das políticas públicas. O sistema eleitoral carece de limites e contrapesos  ao poder do dinheiro. Mas, ao par disso, não se criará nenhuma ética pública sem a construção de controles democráticos ao sistema de poder que organiza e controla corações e mentes.

A reforma política, portanto, não pode ficar adstrita ao sistema eleitoral e partidário. Construir uma democracia menos vulnerável à excessiva influência do poder econômico significa também democratizar o sistema comunicacional do país. A regulamentação da mídia é uma urgência.

A mídia, como força social, tem imposto enorme poder de veto a todos os impulsos mais profundos da soberania popular. Demonstrativo disso são suas intervenções sistemáticas para limitar o alcance das políticas sociais distributivas que constituem o coração de qualquer democracia digna deste nome. A enorme desigualdade social do país não se origina do roubo do fogo sagrado dos deuses, mas encontra seu vício de origem na imensa força dos poderes associados do dinheiro e da esfera da comunicação pública, que organizaram as referências simbólicas fundamentais do país ao longo de nossa história recente. Faz parte também dessa configuração de poder impor ao país, sem peias, a política da política econômica, e definir e modelar a construção simbólica da nação.

O poder que se situa acima da expressão do voto, e não raro se impõe ao desejo popular expresso nas urnas, é exercido pelo controle que essas forças dispõem sobre os principais meios de comunicação. Essa configuração de forças, em nossa história, sempre agiu associada e conforme um complexo sistema de poder dotado de grande força persuasiva, e de cooptação e manipulação da chamada opinião pública.

A história brasileira do século passado e deste início de século confirma nosso destino e tragédia. Ainda estão vivos na memória dos combatentes pela democracia os eventos trágicos de 1954 e 1964, eventos que a mídia da época protagonizou como um dos mais ativos atores não democráticos presentes naquele palco. Fabricou à vontade seus mitos políticos antipopulares. Fazia de tudo, menos dizer a verdade ao seu público. Praticou sem constrangimentos, como faz agora, o trabalho de criação do clima político – algo que o grande jurista argentino Eugenio Raúl Zaffaroni chamou de criação de pânico moral.

Por tudo isto, torna-se imperativa a convocação dos titulares da soberania popular para reformar o sistema político eleitoral, trabalho que será incompleto se não for acompanhado de um grande debate sobre a democratização urgente dos meios de comunicação. A reforma política não se fará sem a luta simultânea pela democratização da mídia, pela razão óbvia de que será no âmbito da comunicação que se dará a desqualificação de todo e qualquer projeto reformista de origem popular.

A teoria política contemporânea tem se preocupado muito e se debruçado em pesquisas e análises sobre o fenômeno que denomina de “Privatização e concentração de poder na esfera da formação da opinião política.” (Urbinati Nadia, Democracy Desfigured- Harvard University Press. 2014) As consequências disto são muito graves para a democracia e para a República, que exigem pluralidade de vozes e de meios informativos.

A monopolização da voz pública por grandes empresas privadas de comunicação produz a desqualificação da política, pois despolitiza as questões públicas e agride a democracia. Isto, de per se, constitui um fato grave e danoso de verdadeira expropriação da voz soberana do povo.

De modo geral, os meios informativos têm sido fonte de disseminação de sentimentos negativos em relação à política e às regras mais básicas do convívio democrático, pois em sua arena é muito raro ou minoritário o comparecimento do contraditório. Por meio da sub-informação e da desinformação vestida de informação, a mídia constrói uma “realidade” em que a opinião da empresa aparece na forma de “notícias” que, reiteradas e persistentes, convergem para o mundo sombrio dos preconceitos.

Uma “realidade” construída é o que se propaga por meio de imagens de televisão e de escritos “jornalísticos,” que acabam por sintetizar, em seus estereótipos, os piores preconceitos discriminantes da sociedade.  A mídia brasileira, tal como está organizada, ou seja, em um cartel, nada tem a ver com mídia democrática, pois sua prática diária se enreda na veiculação sistemática dos interesses e valores de certo grupo social e político. Sua gramática comparece eivada de preconceitos desqualificadores da política. Basta lê-la com atenção.

Quando fala da política, a mídia não utiliza a linguagem da política, apenas reitera a língua do moralismo mais chulo. Não propõe debate público algum, apenas seleciona fatos e personagens que reforçam os preconceitos e prenoções dominantes sem ouvir devidamente o contraditório, inoculando metodicamente nos sentimentos públicos a desvalorização da política e de alguns de seus atores.

Tal parcialidade vai erodindo a legitimidade dos vínculos democráticos, sobretudo os ligados a partidos políticos, em especial na gestão da representação politica. Assim atuando, fazem da esfera pública um espaço de comparecimento privado, um clube que, na grande maioria das vezes, apresenta sempre a mesma narrativa dos fatos políticos. A disputa por acesso aos espaços narrativos tem sido feita por meio de uma pequena guerra de guerrilhas, cuja eficácia ainda é questionável.

O grande romancista alemão Thomas Mann dizia que a atitude política e intelectual de um democrata deve ser a de acreditar na política, pois isso significa acreditar na democracia. Para ele, a democracia é inevitavelmente política porque torna todas as questões um objeto de avaliação pública e todos os valores em temas de consentimento e de opinião.  Desta feita, o fenômeno da monopolização dos meios de comunicação que forja uma realidade de mão única tem um impacto muito grande sobre a distribuição de “oportunidade de voz” aos cidadãos. A assimetria no uso deste direito básico expropria, ainda e mais uma vez, sua influência na política.

O caso da mídia brasileira é escancarado. Basta ver o que fizeram a revista Veja e a Rede Globo na véspera da última eleição presidencial. Uma televisão, a Globo, que é uma concessão pública, claramente tomou partido de uma candidatura e veiculou versão completamente arbitrária de um suposto depoimento de um réu da operação Lava Jato, nitidamente para prejudicar  a candidatura da presidenta Dilma Rousseff que, nas últimas 48 horas que precederam as eleições, não podia mais legalmente responder à acusação feita.  A grosseira intervenção foi feita com total desprezo pelos procedimentos elementares de cautelas legais, como apresentação de provas, exigidas num Estado de direito democrático.

Cabe refazer a pergunta que Hannah Arendt diz ser a que toca no coração do problema: antes de analisar os efeitos de um fato, deve-se indagar como ele pode ocorrer. Na tentativa de compreender isso, talvez se chegue mais perto dos processos políticos e sociais que o gestaram. O poder sem controle democrático, próprio das situações despóticas, torna-se absoluto na medida em que modela sentimentos, mentes, opiniões e vontades dos cidadãos. Plasmar subjetividades que incidem na formação da capacidade de julgamento moral e político dos cidadãos  constitui uma potência política maior que qualquer outra agência. Talvez se iguale ao poder de uma religião.

A questão central da atual conjuntura recupera uma questão clássica da política:  quem tem o poder de chamar os cidadãos para a urgente tarefa de lutar e escrever a reforma democrática de nosso processo eleitoral e simultaneamente lutar pela democratização da comunicação pública? Penso que tal tarefa se impõe imperativamente aos partidos políticos comprometidos com a soberania popular. Se isto não for feito, a reforma política, sem debate público cuidadoso e amplo, virá como pacote político proveniente de um grupo parlamentar carente de compromisso democrático.

A reforma deve começar pela democratização do processo eleitoral, atualmente em grande parte capturado pelo poder econômico, uma realidade expressa na forma de custos cada vez maiores das campanhas eleitorais. Os efeitos disto sobre a representação política são deletérios. Por fim, a questão posta por Thomas Piketty: a dinâmica do capitalismo contemporâneo forjou novos tipos de instrumentos de pressão e poder políticos. Pode-se perguntar, como o autor faz, até quando a democracia poderá controlar o capitalismo nas suas dimensões mais destrutivas, mais antissociais, como inscrita na lógica do capitalismo financeiro.




sábado, 16 de novembro de 2013

Dar nome aos bois e pô-los à frente do carro

12/11/2013 às 23:01

Câmara lança publicação sobre convergência e integração na comunicação pública

Escrito por: Redação do FNDC
Fonte: Câmara dos Deputados 


A Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Câmara dos Deputados lançou, nesta terça-feira (12), a publicação "Convergência e Integração na Comunicação Pública".

O livro traz uma reflexão sobre as novas tendências da comunicação pública no País, tendo em vista as inovações tecnológicas que impõem aos profissionais da área o desafio de produzir conteúdos a partir da convergência de mídias.

Para o diretor da Secretaria de Comunicação Social, Sérgio Chacon, o livro retrata um trabalho pioneiro na área de comunicação institucional. "A Câmara fez uma reforma ousada. A nossa comunicação é um exemplo para outros países".

Sérgio Chacon acrescentou que a reforma é inovadora e que "por isso mesmo está sujeita a pequenos ajustes, naturais em todos os processos de mudança. Agora, na sua essência, no que é mais importante, ela já está implantada. Estamos agora avaliando essa reforma e fazendo os devidos ajustes, para que ela vá em frente".

Integração das equipes

 
A publicação relata o processo de reestruturação da Secom, concluído em 2012. As mudanças trouxeram a integração das equipes do jornal, da agência de notícias, da rádio e da TV Câmara, que agora trabalham em um único ambiente.

Também foram revistas as rotinas da área de Relações Públicas e das atividades culturais da Câmara. No processo, grupos de trabalho compostos por servidores dos diferentes setores levaram em conta a experiência dos veículos da Casa nos últimos 15 anos e observaram os modelos adotados pelas empresas de comunicação, assim como as formulações teóricas sobre comunicação pública.

As equipes que já atuavam na Secom foram reorganizadas em novos departamentos e coordenações, que refletem as mudanças nas rotinas de produção e veiculação de conteúdos. Entre as novidades, está a criação da Coordenação de Participação Popular e da Rede Legislativa de TV e Rádio, além da reformulação do antigo Espaço Cultural, que agora chama-se Centro Cultural Câmara dos Deputados. 
 
 

CONVERGÊNCIA E INTEGRAÇÃO NA COMUNICAÇÃO PÚBLICA


Organização Evelin Maciel

Este livro relata a experiência da Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Câmara dos Deputados no projeto de convergência das mídias da instituição. Diante de um cenário em que a forma de comunicar mudou com as novas tecnologias, a Secom sentiu a necessidade de acompanhar essas transformações. A publicação busca narrar a experiência, mudanças e resultados.
2013
158 páginas
ISBN 978-85-402-0070-8 (brochura)
ISBN 978-85-402-0071-5 (e-book)
Acesse esta publicação na Biblioteca Digital da Câmara dos Deputados
 

domingo, 16 de dezembro de 2012

Liberdade de escolha quando a pauta é única?



Quando o controle remoto não resolve 

Lalo Leal  

Em que pese a importância das redes sociais e da internet para o debate sobre as virtudes e defeitos dos meios de comunicação, nas universidades a crítica definha




Publicado em 13/12/2012


Jornais, revistas, o rádio e a televisão tratam de quase tudo sem restrição. Apenas um assunto é tabu: eles mesmos. Se hoje a internet tem papel relevante nesse debate sobre a mídia, na academia houve retrocesso. O programa Globo Univer­sidade, das Organizações Globo, tem parcela importante de responsabilidade nessa mudança. Surgiu com o objetivo de neutralizar aquela que era uma das poucas áreas em que se realizava uma análise crítica sistemática dos meios de comunicação. Passou a financiar laboratórios de pesquisa e eventos científicos e, com isso, um objeto de investigação, no caso a própria Globo, tornou-se patrocinador do investigador, retirando da pesquisa a necessária isenção. Fez na comunicação o que a indústria farma­cêutica faz com a medicina, bancando viagens e congressos médicos para propa­gandear remédios.

O resultado prático pode ser visto no número crescente de trabalhos acadêmicos sobre o uso de novas tecnologias associadas à TV e as formas de aplicação de seus resultados pelo mercado. Enfatizam cada vez mais o papel do receptor como elemento capaz de selecionar, a seu critério, os conteúdos que lhe interessam. Fazem, dessa forma, o jogo dos controladores dos meios, retirando deles a responsabilidade por aquilo que é veiculado. Fica tudo nas costas do pobre receptor. Esquecem o fenômeno da concentração dos meios que reduz o mundo a uma pauta única, com pouca diferenciação entre os veículos.

Dizem em linguagem empolada o que empresários de TV costumam expressar de modo simples: “O melhor controle é o controle remoto”. Como se ao mudar de canal fosse possível ver algo muito diferente.

Cresce também o número de empresas de comunicação que oferecem cursos até em universidades públicas, retirando dessas instituições o espaço do debate e da crítica. Saem dos cursos de comunicação jovens adestrados para o mercado, capazes de se tornar bons profissionais. No entanto, a débil formação geral recebida os impedirá de pôr os conhecimentos obtidos a serviço da cidadania e da transformação social.

O papel político desempenhado pelos meios de comunicação e a análise criteriosa dos conteúdos emitidos ficam em segundo plano, tanto na pesquisa como no ensino. Foi-se o tempo em que, logo dos primeiros anos do curso, praticava-se a comunicação comparada, com exercícios capazes de identificar as linhas político-editoriais adotadas pelos diferentes veículos. Caso fosse aplicada hoje, mostraria, com certeza, a uniformidade das pautas, com jornais e telejornais reduzindo os acontecimentos a meia dúzia de fatos capazes de “render matéria”. Mas poderia, em alguns momentos excepcionais, realçar diferenças significativas, imperceptíveis aos olhos do receptor comum.

Como no caso ocorrido logo após a condenação de José Dirceu pelo STF. Ao sair de uma reunião, o líder do PT na Câmara dos Deputados, Jilmar Tatto, foi abordado por vários repórteres. Queriam saber sua opinião sobre o veredicto do Supremo. Claro que ele deu apenas uma resposta, mas para quem viu os telejornais da Rede TV e da Globo foram respostas diferentes. Na primeira Tatto dizia: “A Corte tem autonomia soberana e pagamos alto preço por isso. E só espero que essa jurisprudência usada pelo STF continue e que tenha o mesmo tratamento com os acusados do PSDB”. Na Globo a frase sobre o “mensalão tucano” desapareceu.

Em casa o telespectador, mesmo vendo os dois jornais, dificilmente perceberia a diferença entre ambos, dada a sequência rápida das imagens. Mas para a universidade seria um excelente mote de pesquisa cujos resultados teriam uma importância sociopolítica muito maior do que longos discursos sobre transmídias e receptores. 

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Mídia: liberdade e regulação - é possível, desejável? O caso britânico

 
Internacional| 29/11/2012 | Copyleft

Comissão anuncia hoje medidas sobre regulação da mídia na Inglaterra

A imprensa britânica tem nesta quinta-feira seu dia D. A Comissão Leveson, nomeada pelo governo para investigar a imprensa à luz do escândalo das escutas telefônicas, divulgará seu informe e suas recomendações. Ninguém sabe se a comissão se inclinará por uma forma mais estrita de autoregulação ou pela criação de um ente regulador independente, mas a proximidade do anúncio já gerou uma forte ofensiva midiática.




Londres - A imprensa britânica tem nesta quinta-feira seu dia D. A Comissão Leveson, nomeada pelo governo para investigar a imprensa escrita à luz do escândalo das escutas telefônicas, divulgará seu informe e suas recomendações. Ninguém sabe se a comissão se inclinará por uma forma mais estrita de autoregulação da imprensa ou pela criação de um ente regulador independente, mas a proximidade do anúncio já gerou uma forte ofensiva midiática “em favor da liberdade de expressão e de imprensa” e contra jornalistas favoráveis a um forte esquema regulatório. A própria coalizão governamental conservadora-liberal democrata aparece dividida e pode apresentar sua reação ao informe por separado.

O escândalo das escutas tem sete condenados, 14 processados, mais de 40 pessoas livres sob fiança, umas 600 vítimas identificadas, um jornal fechado e dezenas de acertos extrajudiciais como as 200 mil libras (mais de 300 mil dólares) que a News International pagou ao ator Jude Law ou as 63 mil (ao redor de 100 mil dólares) que pagou ao ex-vice-primeiro ministro trabalhista John Prescott. Mas tanto os meios de comunicação como o governo estarão interessados em outra coisa. O escândalo, que começou em 2005, com denúncias de escuta ilegal ao príncipe Guilherme, se tornou irresistível em julho do ano passado quando se soube que o “News of the World” havia invadido o celular de uma adolescente desaparecida para obter informações.

O primeiro ministro David Cameron duvidou, mas a indignação coletiva e uma catarata de novas denúncias que afetavam já não mais famosos, mas sim gente comum que havia virado tema do noticiário (vítimas de violações, familiares das vítimas de atentados terroristas ou de soldados mortos no Afeganistão e no Iraque) fizeram com que ele fosse forçado a criar uma comissão para investigar a “prática e a cultura da imprensa” e a propor medidas que evitassem uma repetição desses fatos.

O primeiro ministro anunciará sua reação nesta quinta-feira à tarde, algumas horas após a apresentação do informe. Os analistas políticos britânicos estimam que após receber testemunhos durante 9 meses de dezenas de políticos, celebridades e vítimas das escutas a Comissão Leveson se verá obrigada a propor algum tipo de regulação dos meios de comunicação. “A menos que a comissão sucumba à retórica crua empregada por alguns jornais, o mais provável é que proponha uma modesta regulação da imprensa”, assinalou no “The Independent” o comentarista Steve Richards. Qualquer que seja a recomendação, Cameron tem duas opções: aceitá-la plenamente ou agradecer os serviços prestados dizendo que incorporará a sugestão em uma proposta do governo.

No primeiro caso, se a proposta contiver um sistema regulatório independente, Cameron provocará a fúria dos mesmos meios de comunicação que procurou conquistar desde que se converteu em líder do Partido Conservador em 2005. A relação com o poderoso grupo Murdoch, deteriorada ao máximo por sua decisão de criar a Comissão Leveson, se tornará irreparável. Outros setores da imprensa conservadora majoritária, impacientes com as idas e vindas de seu governo, aprofundarão suas críticas. Em caso de agradecer pelos serviços prestados, aparecerá ante a opinião pública como escravo dos grandes grupos midiáticos, ficando exposto ao Partido Trabalhista, que está a favor de um marco regulatório independente, e à hostilidade de celebridades do calibre do ator Hugh Grant.

A pressão de alguns meios de comunicação foi feroz. “Os jornais estão em guerra. Criticaram, ridicularizaram e tentaram minar a Comissão Leveson. Trataram de enlamear o nome de supostos inimigos da liberdade de imprensa que simplesmente estavam a favor de um sistema regulatório”, assinalou segunda-feira um editorial do The Guardian. Entre os meios de direita – e também para Cameron a campanha se inscreve no marco de um rechaço a toda regulação e intervenção do Estado na vida social. Mas o tema é complexo. Os conservadores estão divididos entre os que preferem um sistema autoregulatório muito mais duro do que o atualmente existente e os que querem um ente regulatório independente. O próprio The Guardian não descarta a ideia de uma autoregulação que contenha em seu interior suficientes garantias de independência para que não se repitam os abusos do passado. O juiz Brian Leveson, que preside a Comissão, e o primeiro ministro David Cameron têm a palavra nesta quinta-feira.

Tradução: Katarina Peixoto