Quando o controle remoto não resolve
Lalo Leal
Em que pese a importância das redes sociais e da internet
para o debate sobre as virtudes e defeitos dos meios de comunicação, nas
universidades a crítica definha
Publicado em 13/12/2012
Jornais,
revistas, o rádio e a televisão tratam de quase tudo sem restrição.
Apenas um assunto é tabu: eles mesmos. Se hoje a internet tem papel
relevante nesse debate sobre a mídia, na academia houve retrocesso.
O programa Globo Universidade, das Organizações Globo, tem
parcela importante de responsabilidade nessa mudança. Surgiu com o
objetivo de neutralizar aquela que era uma das poucas áreas em que
se realizava uma análise crítica sistemática dos meios de
comunicação. Passou a financiar laboratórios de pesquisa e eventos
científicos e, com isso, um objeto de investigação, no caso a
própria Globo, tornou-se patrocinador do investigador, retirando da
pesquisa a necessária isenção. Fez na comunicação o que a
indústria farmacêutica faz com a medicina, bancando viagens e
congressos médicos para propagandear remédios.
O
resultado prático pode ser visto no número crescente de trabalhos
acadêmicos sobre o uso de novas tecnologias associadas à TV e as
formas de aplicação de seus resultados pelo mercado. Enfatizam cada
vez mais o papel do receptor como elemento capaz de selecionar, a seu
critério, os conteúdos que lhe interessam. Fazem, dessa forma, o
jogo dos controladores dos meios, retirando deles a responsabilidade
por aquilo que é veiculado. Fica tudo nas costas do pobre receptor.
Esquecem o fenômeno da concentração dos meios que reduz o mundo a
uma pauta única, com pouca diferenciação entre os veículos.
Dizem
em linguagem empolada o que empresários de TV costumam expressar de
modo simples: “O melhor controle é o controle remoto”. Como se
ao mudar de canal fosse possível ver algo muito diferente.
Cresce
também o número de empresas de comunicação que oferecem cursos
até em universidades públicas, retirando dessas instituições o
espaço do debate e da crítica. Saem dos cursos de comunicação
jovens adestrados para o mercado, capazes de se tornar bons
profissionais. No entanto, a débil formação geral recebida os
impedirá de pôr os conhecimentos obtidos a serviço da cidadania e
da transformação social.
O
papel político desempenhado pelos meios de comunicação e a análise
criteriosa dos conteúdos emitidos ficam em segundo plano, tanto na
pesquisa como no ensino. Foi-se o tempo em que, logo dos primeiros
anos do curso, praticava-se a comunicação comparada, com exercícios
capazes de identificar as linhas político-editoriais adotadas pelos
diferentes veículos. Caso fosse aplicada hoje, mostraria, com
certeza, a uniformidade das pautas, com jornais e telejornais
reduzindo os acontecimentos a meia dúzia de fatos capazes de “render
matéria”. Mas poderia, em alguns momentos excepcionais, realçar
diferenças significativas, imperceptíveis aos olhos do receptor
comum.
Como
no caso ocorrido logo após a condenação de José Dirceu pelo STF.
Ao sair de uma reunião, o líder do PT na Câmara dos Deputados,
Jilmar Tatto, foi abordado por vários repórteres. Queriam saber sua
opinião sobre o veredicto do Supremo. Claro que ele deu apenas uma
resposta, mas para quem viu os telejornais da Rede TV e da Globo
foram respostas diferentes. Na primeira Tatto dizia: “A Corte tem
autonomia soberana e pagamos alto preço por isso. E só espero que
essa jurisprudência usada pelo STF continue e que tenha o mesmo
tratamento com os acusados do PSDB”. Na Globo a frase sobre o
“mensalão tucano” desapareceu.
Em
casa o telespectador, mesmo vendo os dois jornais, dificilmente
perceberia a diferença entre ambos, dada a sequência rápida das
imagens. Mas para a universidade seria um excelente mote de pesquisa
cujos resultados teriam uma importância sociopolítica muito maior
do que longos discursos sobre transmídias e receptores.
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