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domingo, 11 de outubro de 2015

"A tesoura do desejo / do desejo mesmo de mudar"

08/10/2015 - Copyleft
Boletim Carta Maior 

O desejo como antídoto para o querer na sociedade de consumo

Há quem pense que querer e desejar sejam a mesma coisa. Não são, e utilizar a tesoura do desejo seria a verdadeira revolução.


*Rita Almeida reprodução

Há quem pense que querer e desejar sejam a mesma coisa. Não são! Ao menos, não para a psicanálise.

O querer é uma enorme prateleira, o desejo uma tesoura. A operação matemática do querer é a soma e do desejo a divisão, nunca exata, sempre com resto. O querer é cumulativo, já o desejo, envolve escolha e perda.

A operação que rege e sustenta o sistema capitalista e, portanto, domina a forma de estarmos no mundo hoje em dia é o querer. Ao capitalismo interessa o acumulo de coisas; prateleiras cheias para vender, prateleiras cheias para comprar. Queremos mais um livro, mais um perfume e mais um sapato, não importa quantos já temos. Queremos mais uma especialização, mais uma viagem e mais 20 canais de TV, não importa que sentido tenham feito em nossa vida. Queremos mais um carro, mais um imóvel e mais bens, não importa o que isso represente para a coletividade humana e a sustentabilidade do nosso planeta.

Jacques Lacan ao construir sua teoria dos discursos faz menção ao que ele chama de Discurso Capitalista, que seria uma mutação pervertida do Discurso do Mestre. Enquanto o Discurso do Mestre se baseia na relação do senhor e do escravo – resgatado da dialética hegeliana – o Discurso Capitalista se dá pelo eclipse da relação entre os sujeitos. Em tal discurso, o sujeito não se relaciona com um outro, se relaciona apenas com os objetos–mercadoria. Tudo vira objeto a ser consumido, até mesmo os próprios sujeitos.

O agente do Discurso Capitalista é o consumidor, seu interesse é pelo consumo. Como diria Viviane Forrester, na sociedade atual consumir é nosso último recurso, nossa última utilidade. Somos clientes necessários à sustentação do modelo capitalista.

Mas consumidor é aquele sujeito que está sempre aquém, sempre em déficit, pois sempre haverá uma bugiganga, uma tecnologia, um bem, um saber e um modelo mais novo que ele ainda não conseguiu adquirir, portanto, o verbo que ele conjuga é o querer. Entretanto, o engano do consumidor não é se considerar incompleto, já que a incompletude é uma realidade irremediável para todos nós, mas sim acreditar que irá alcançar a completude por meio da aquisição de coisas; das coisas que ainda não tem.

Nesse sentido, o querer é uma armadilha, pois por mais que o sujeito adquira coisas estará sempre se sentindo em falta, e ao invés de aceitá-la, seu movimento é continuar a buscar no consumo, coisas que criem uma falsa sensação de completude. O querer é sempre mais, sempre sem limites. O querer funciona como negação da castração. No excesso de querer o sujeito se perde, pois perde a capacidade de fazer escolhas, e com isso, seu potencial singular.

Mas, e o desejo?

A psicanálise se sustenta sobre a ética do desejo. Ao contrário do querer, em que o sujeito quer tudo até que sua prateleira fique completa, o desejo implica em escolhas, portanto, em perdas. O desejo é uma tesoura, sendo assim desejar implica em fazer opções. Ou isso Ou aquilo, diria Cecília Meireles.

Ou isto ou aquilo

Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo…
e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.

Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.

O desejo seria, portanto, um antídoto para intervir numa sociedade baseada no querer consumista. Desejar implica no sujeito admitir sua própria divisão, aceitar sua incapacidade de ter tudo. Desejar não é produzir um acúmulo de coisas, mas sim, definir o que é mais fundamental e importante. Desejar é cortar o excesso, é aceitar a perda de gozo, é escapar da mera sobreposição de bugigangas a fim de produzir singularidade e estilo.

Num mundo onde o imperativo categórico é que abarrotemos nossas prateleiras e que queiramos tudo, todo o tempo, utilizar a tesoura do desejo seria a verdadeira revolução.

* psicóloga, psicanalista, trabalhadora da Rede de Saúde Mental do SUS, blogueira, doutoranda em Educação pela UFJF

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Portais, excessos, ajustes

07/08/2015 às 14:35

O modelo dos portais se esgotou?

Escrito por: Luiz Gustavo Pacete
Fonte: Meio e Mensagem 
Aqui, do clipping FNDC

A decisão do Terra de focar em curadoria e conteúdo levanta algumas questões sobre o enfraquecimento de sites com formatos tradicionais

Em sua definição a palavra portal remete à entrada principal, aquilo que dá acesso a um outro ambiente. Com a chegada da internet, os portais eram relevantes e necessários. Ainda em 2009, na era pré-Facebook, dados da comScore mostravam quem liderava a internet no Brasil. Em primeiro lugar vinha o Google, seguido por Microsoft, UOL, Yahoo, Terra e Globo. Naquele período, a principal audiência vinha de casa e do trabalho.
 
A rápida alteração no perfil do usuário e na oferta de plataformas transformou o cenário. Em 2012, o Facebook liderava o ranking dos maiores acessos com 54,99% de preferência, de acordo com dados da Experian Hitwise, ferramenta de inteligência digital da Serasa Experian. Em segundo lugar estava o YouTube. Atualmente, a predominância de acesso está nas redes.
 
A notícia de que o Terra demitiu 80% de sua redação para focar em curadoria e conteúdo, nesta quinta-feira 6, traz alguns questionamentos sobre o êxito dos modelos de portais no Brasil. Ana Brambilla, doutoranda em comunicação digital pela Universidade Austral, de Buenos Aires, destaca alguns motivos que contribuíram para que os portais perdessem força. O primeiro é o distanciamento dos critérios de noticiabilidade com os interesses do público que afastaram a audiência. “Além disso, o modelo generalista voltado a um público que não sabia explorar o que a web oferecia não funciona mais. Internet não é meio de massa, ela é nicho, segmentação e personificação de conteúdo”, ainda de acordo com a especialista, os portais genéricos possuem dificuldade de traçar o perfil de sua audiência.
 
Ainda que, enquanto formato, existam questionamentos sobre a eficiência de um portal, um dado recente divulgado pelo Digital News Report, da Reuters, indica que a relação da audiência é muito mais com a marca e o conteúdo do que com a plataforma. O estudo mostra que o Brasil é o País onde mais se consome notícia via redes sociais. Do montante de usuários da rede, 70% se informam via redes sociais, aproximadamente 47% das notícias são compartilhadas via redes sociais e 44% delas são comentadas nesses ambientes. Na conclusão do relatório, o brasileiro é o que mais consome notícia online, cerca de 72% dos usuários da internet. A principal fonte de notícia no Brasil já é a internet, usada por 44% dos usuários.O estudo também identificou o hábito desses consumidores e constatou que 23% estão dispostos a pagar por noticia online, 23% usam o smartphone como principal forma de se informar, 6% utilizam o tablet e 59% compartilham notícias via redes sociais. A plataforma com maior número de usuários é o Facebook, utilizado por 70% dos usuários, seguida pelo YouTube, com 34%, WhatsApp, 34% e há um empate entre Google+ e Twitter usados por 15% dos usuários. Os sites mais acessados são G1, UOL e R7.
 
Veja como mudou o interesse dos usuários de notícias entre 2005 e 2015:
 
 
Quem liderava a internet no Brasil em 2009*:
 
1- Google 
2 - Microsoft 
3 - UOL 
4 - Yahoo 
5 - Terra  
6 - Globo 
7 - Grupo Brasil Telecom 
8 - Wikimedia  
9 - Mercado Livre 
10 -WordPressFonte: comScore*em número de acessos
 
Quem lidera a internet no Brasil em 2015*:
 
1 – Google
2 - Facebook
3 - YouTube
4 - UOL
5 - Globo.com
6 - Yahoo!
7 - Live.com
8 - MercadoLivre
9 - Wikipedia
10 - TwitterFonte: Digital News Report
 
* em número de acessos
 
Os portais de notícias mais acessados: 
 
 

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Imaginário: objetos técnicos, objetos artísticos


Estética ou nostalgia? Formatos 'obsoletos' são suporte para obras de artistas e designers contemporâneos




Filmes Super-8, consoles de 8 bits, fitas cassete e VHS, câmeras Polaroid, celulares sem conexão com a internet e até televisores de tubo: formatos analógicos são material e linguagem, não um suporte acidental por coincidência no tempo
Jonathan Rubio / Flickr CC

Todos amam fitas cassete: até as caixinhas de plástico são suporte para a criatividade de músicos e designers saudosistas


Entre os fanzines, os livros e as ilustrações, o festival Gutterfest de edição independente, realizado em Barcelona no último mês de maio, guardava uma surpresa para os visitantes: em várias mesas, jovens que beiravam os vinte anos de idade vendiam fitas cassete de música. Havia capas desenhadas à mão, e a caixa de plástico estava camuflada sob uma sobrecapa de cartolina com um nó de fios de ráfia. Tecnologia obsoleta decorada com pré-tecnologia, artesanato da era pós-industrial. Sessões musicais confeccionadas escutando as canções com o dedo no botão de pausa: um acervo da era dos formatos abandonados.

“As limitações de uma geração convertem-se na estética da geração seguinte”, comenta Ed Halter, crítico e curador de arte eletrônica, no documentário “8-bit”. Na era do VHS, nossos programas gravados brilhavam em textura saturada e ondulada porque não havia outro jeito. Hoje a estética VHS se falseia voluntariamente com filtros de pós-produção que acrescentam ruído analógico e deformam a quadratura do pixel. Hoje a textura é uma opção e, portanto, uma declaração de intenções, uma afirmação sobre uma normalidade muito mais fiel e de melhor resolução. As limitações do passado formuladas no presente são uma estética disposta a enunciar, apropriar e ostentar. Um patrimônio, uma antologia, uma coleção dos restos do progresso tecnológico e da obsolescência programada – ruínas de civilizações desconhecidas que rebobinavam.

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“O emprego de tecnologias obsoletas ajuda a compreender melhor a distância entre a imagem e seu significado”, afirmou o artista Javier Arbizu, durante um debate sobre suas obras realizadas em filme fotográfico de 16 mm. A frase pode ser aplicada à lista de formatos que estão sendo recuperados: filmes de Super-8, fitas de 8 canais, consoles de 8 bits, fitas de VHS, câmeras Polaroid, celulares sem conexão com a internet, televisores de tubo. A criação de novas obras com formatos analógicos obsoletos estabelece o formato como material e como linguagem. Como um fator que se escolhe, não um suporte acidental por coincidência no tempo.
Julien Knez

O artista francês Julien Knez criou capas para fitas VHS de séries e filmes contemporâneos


Outro aspecto diferente tem a reformulação de elementos modernos sobre formatos do passado, que faz um salto temporal em que se misturam opções estéticas e o sentimento nostálgico. O fotógrafo Julien Knez criou uma página no Tumblr com versões de capas de VHS de filmes e séries contemporâneas, dando à novidade uma pátina de caminho trilhado. O projeto “8 bit map maker”, de Jay Bulgin, pega qualquer região no Google Maps e o converte em um cenário de videogame de 8 bits, pronto para colocar o personagem Super Mario nas calçadas do bairro.

Os jovens não têm nostalgia pelas inovações que já conheceram superadas e por isso suas desventuras com os aparelhos velhos revelam os fatores que continuam vigentes. A série do YouTube “Kids react!” [“A reação das crianças!”, em tradução livre] coloca adolescentes e pré-adolescentes diante de aparelhos cujo funcionamento deve  ser feito de forma intuitiva. Na frente de um telefone fixo, eles se assombram diante das dificuldades do disco giratório. Ao se depararem com um walkman, levam uma eternidade para imaginar que ele tem de ser aberto e descobrem horrorizados que as músicas vêm em fita cassete que têm de ser inseridas e que não é possível pular imediatamente para a próxima música. A canção é uma fita cassete física, o filme está numa fita tangível, fica um rastro físico das horas investidas. Cada experiência está associada a um objeto – o extremo oposto da volatilidade da era dos aparelhos sem fio.

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A virtualidade dos arquivos armazenados na nuvem, que permite o consumo sem rastros físicos, não eliminou a paixão pelo objeto. Na minha casa, por exemplo, de todos os aparelhos antigos que possuo, o único que chama a atenção das visitas é a máquina de fliperama. Todos os jogos que aparecem na tela gigante podem ser emulados nos aparelhos de bolso. Jogar com saltos e golpes, porém, constitui um ritual ancestral, uma recriação de tempos mais brutos com aventuras mais simples, uma dança que conecta gerações de videojogadores.

Obsolescência futurística
A fascinação digital por formatos analógicos também aponta em direção aos possíveis componentes obsoletos que formariam a estética do futuro. O artista britânico James Bridle está há cinco anos compilando os indícios em sua página no Tumblr New Aesthetics [Novas Estéticas, em tradução livre], onde surgem diálogos no Whatsapp, filtros do Instagram, os Captchas que nos identificam como humanos, as nuvens pixeladas de erros quando falha o sinal da rede – limitações de hoje que amanhã serão identidade.

“Tudo o que você jogou fora está na moda”, resumia um jornal mexicano sobre a recuperação de formatos analógicos na era digital. Alguns transcenderam até se converterem em puro signo: crianças de hoje que digitam com o celular perguntam aos pais que desenho é esse que aparece no botão de gravar. O ícone tecnológico do disquete de 3,5 polegadas ultrapassou o objeto e hoje se fantasia de forma imaterial, como um remanescente de outro tempo, assim como alguns médicos de hoje, muitos sem saber disso, incluem o olho de Horus nas receitas médicas como uma tradição milenar.
A recuperação analógica na era digital tem nostalgia dos contextos perdidos, mas também é uma afirmação da diferença. As boas ideias são para todos, porém as abandonadas são apenas nossas.

Tradução: Mari-Jô Zilveti
Matéria original publicada no site do jornal espanhol El Diario.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Semiologia dos objetos: os brinquedos, as crianças

Após reclamações de feministas, Lego lança kit com cientistas mulheres

Publicado: Atualizado:

LEGO PARA MULHER


Finalmente, as meninas poderão levar suas bonequinhas de Legopara fazer coisas mais interessantes do que ir à praia ou fazer compras.
Em fevereiro deste ano, a Lego recebeu uma cartinha de uma criança criticando os estereótipos de gênero nos brinquedos da marca. Na mensagem, que viralizou na internet, Charlotte Benjamin, 7, perguntou: por que as só meninas fazem coisas chatas se os meninos trabalham e podem até nadar com tubarões?

Hoje eu fui a uma loja e vi Legos em duas seções. A das meninas, rosa, e a dos meninos, azul. Tudo que as meninas faziam era ficar em casa, ir à praia e fazer compras, e elas não tinham emprego; mas os meninos iam a aventuras, trabalhavam, salvavam pessoas, tinham empregos e até mesmo nadavam com tubarões. Eu quero que vocês façam mais meninas Lego e que elas possam ir a aventuras e se divertir ok?!

A Lego (oportunamente) respondeu que estava trabalhando para incluir mais personagens femininos nos jogos, "para incentivar ainda mais garotas a construir". Poucos meses depois, uma proposta da geoquímica holandesa Ellen Kooijman no Lego Ideas - plataforma em que as fãs podem inscrever sugestões de novos produtos - rapidamente ganhou as 10 mil assinaturas necessárias para começar a ser fabricada.
A ideia de Kooijman era fazer um laboratório de ciências com mulheres no comando."Uma paleontóloga, uma astrônoma e uma química, todas incrivelmente equipadas", disse a porta-voz da Lego no anúncio de lançamento.

Kit Instituto de Pesquisa Lego
A própria Dra. Kooijman já fez um review do brinquedo que, mal começou a ser vendido sendo vendido na loja online da Lego por U$ 20,00, já está esgotado.

***

Manual da Lego pregava que meninos e meninas brincassem sem barreiras de gênero

Publicado: Atualizado:
LEGO

Rosa é de menina, azul é de menino. Boneca é de menina, carrinho é de menino.
Certo? Errado.
Se você acredita que crianças devem brincar do que quiserem e que brinquedos não devem obedecer a estereótipos de gênero, vai se emocionar com esta imagem, postada por um usuário do reddit. Elas mostram que, nos anos 70, a Lego abraçava essa ideia até em seu manual de instruções:

lego
"A necessidade de criar é igual em todas as crianças. Garotos e garotas. O que conta é a imaginação, e não a habilidade. Você pode construir o que te der na telha, da forma que quiser. Uma cama ou um caminhão. Uma casa de bonecas ou uma nave espacial. Várias garotas preferem naves. Elas são mais interessantes que casas de boneca. Vários garotos preferem casas de boneca. Elas são mais humanas que naves. O mais importante é colocar o material certo em suas mãos e deixar eles criarem o que quiserem."
Infelizmente, a empresa parece ter abandonado um pouco essa crença, já que sofreu acusações de ser sexista por fazer brinquedos exclusivos para cada gênero. Para se redimir, a empresa lançou uma linha de cientistas mulheres.