CASO GISELE BÜNDCHEN
O governo, a mídia e a calcinha
Por Ligia Martins de Almeida em 04/10/2011 na edição 662
A imprensa e os comentários na internet fizeram mais pela lingerie da Hope do que o anúncio com a super model Gisele Bündchen conseguiria com divulgação no horário nobre de todos os canais abertos do país. O que era para ser – na defesa da empresa – uma peça de humor, virou assunto de governo e do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), que vai decidir se mantém o anúncio no ar.
Dizer que o anúncio “promove o reforço do estereótipo equivocado da mulher como objeto sexual de seu marido e ignora os grandes avanços que temos alcançado para desconstruir práticas e pensamentos sexistas” – segundo a nota da Secretaria de Políticas para as Mulheres – talvez seja exagero. Em primeiro lugar, porque as espectadoras, e potenciais compradoras da lingerie em questão, sabem que nem usando a peça mais sensual do mundo (o que não é o caso das peças do anúncio) vão ficar com o corpo da Gisele Bündchen – o que, de cara, invalida a mensagem. Em segundo lugar, porque as mulheres que têm dinheiro para gastar com lingeries da marca Hope (o sutiã mais barato à venda na web custa 50 reais) certamente têm cartão de crédito próprio e dinheiro para pagar a própria conta.
Como disse Inês de Castro em seu comentário da Band News (29/9/2011), foi-se o tempo em que as mulheres dependiam dos maridos para ter e comprar carro e manter um cartão de crédito. Em seu comentário, Inês fez uma ressalva importantíssima: a de que o fato do anúncio ser sexista não pode servir de desculpa para proibições governamentais.
Só prestam atenção quando há celebridades envolvidas?
Esse anúncio, assim como o da cerveja Devassa – que também criou polêmica –, não pode servir de desculpa para o governo sugerir proibições. Se mau gosto fosse desculpa, haveria muito mais coisa a ser tirada do ar.
Pior do que ofender mulheres com peças de humor duvidoso é vender ilusões de eterna juventude, corpo perfeito sem sofrimento etc., etc. E anúncios desse tipo passam todo dia na televisão sem que ninguém discuta seus efeitos e suas promessas enganosas.
Assim como o espectador tem liberdade de escolher o que quer ver na televisão, a consumidora tem pleno direito de comprar os produtos de que gosta ou rejeitar se achar que o anúncio é ofensivo. Não é proibindo anúncios que a Secretaria da Mulher vai conseguir mudar a mentalidade dos brasileiros – homens e mulheres.
A imprensa, em vez de se limitar a relatar a polêmica, deveria ir além do simples noticiário e perguntar às leitoras se elas se sentiram ofendidas com o anúncio e, principalmente, se levam a sério conselhos de uma celebridade que – não por acaso – também é dona de uma marca de lingerie.
Uma pergunta que a imprensa também deveria fazer é a seguinte: se o anúncio tivesse sido feito por outra modelo – que não a super famosa e super endeusada Gisele – estaria dando tamanha repercussão? Ou as autoridades do governo só prestam atenção em anúncios e notícias quando há celebridades envolvidas?
***
[Ligia Martins de Almeida é jornalista]
Dizer que o anúncio “promove o reforço do estereótipo equivocado da mulher como objeto sexual de seu marido e ignora os grandes avanços que temos alcançado para desconstruir práticas e pensamentos sexistas” – segundo a nota da Secretaria de Políticas para as Mulheres – talvez seja exagero. Em primeiro lugar, porque as espectadoras, e potenciais compradoras da lingerie em questão, sabem que nem usando a peça mais sensual do mundo (o que não é o caso das peças do anúncio) vão ficar com o corpo da Gisele Bündchen – o que, de cara, invalida a mensagem. Em segundo lugar, porque as mulheres que têm dinheiro para gastar com lingeries da marca Hope (o sutiã mais barato à venda na web custa 50 reais) certamente têm cartão de crédito próprio e dinheiro para pagar a própria conta.
Como disse Inês de Castro em seu comentário da Band News (29/9/2011), foi-se o tempo em que as mulheres dependiam dos maridos para ter e comprar carro e manter um cartão de crédito. Em seu comentário, Inês fez uma ressalva importantíssima: a de que o fato do anúncio ser sexista não pode servir de desculpa para proibições governamentais.
Só prestam atenção quando há celebridades envolvidas?
Esse anúncio, assim como o da cerveja Devassa – que também criou polêmica –, não pode servir de desculpa para o governo sugerir proibições. Se mau gosto fosse desculpa, haveria muito mais coisa a ser tirada do ar.
Pior do que ofender mulheres com peças de humor duvidoso é vender ilusões de eterna juventude, corpo perfeito sem sofrimento etc., etc. E anúncios desse tipo passam todo dia na televisão sem que ninguém discuta seus efeitos e suas promessas enganosas.
Assim como o espectador tem liberdade de escolher o que quer ver na televisão, a consumidora tem pleno direito de comprar os produtos de que gosta ou rejeitar se achar que o anúncio é ofensivo. Não é proibindo anúncios que a Secretaria da Mulher vai conseguir mudar a mentalidade dos brasileiros – homens e mulheres.
A imprensa, em vez de se limitar a relatar a polêmica, deveria ir além do simples noticiário e perguntar às leitoras se elas se sentiram ofendidas com o anúncio e, principalmente, se levam a sério conselhos de uma celebridade que – não por acaso – também é dona de uma marca de lingerie.
Uma pergunta que a imprensa também deveria fazer é a seguinte: se o anúncio tivesse sido feito por outra modelo – que não a super famosa e super endeusada Gisele – estaria dando tamanha repercussão? Ou as autoridades do governo só prestam atenção em anúncios e notícias quando há celebridades envolvidas?
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[Ligia Martins de Almeida é jornalista]
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