segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Wikiprocessos: informação, deformação, desinformação...

A Wikfarsa e a verdadeira ameaça à democracia

O que ameaça a democracia é a capacidade de um veículo de comunicação transformar algo irrelevante em um suposto escândalo nacional. 

Boletim Carta Maior


Vinicius Wu Divulgação

O episódio da alteração dos perfis de Miriam Leitão e Carlos Alberto Sardemberg na plataforma colaborativa Wikipédia tem tudo para entrar para a história do jornalismo brasileiro como uma das mais grosseiras e levianas tentativas de manipulação da informação e de criação de factóides, com evidente motivação político-eleitoral. Porém, o mais importante no caso é compreendermos que, ao contrário do que sustentam as supostas "vítimas", não é a edição de seus perfis o que ameaça a democracia, mas sim a capacidade de um veículo de comunicação transformar algo irrelevante em "escândalo" nacional.

A repercussão desproporcional do caso em alguns veículos de imprensa só pode ser explicada pelo contexto eleitoral, onde percebe-se, claramente, a dificuldade dos candidatos oposicionistas em viabilizarem-se, apesar de todo esforço empreendido pelos monopólios de comunicação e pelo setor financeiro. Trata-se de uma das mais inusitadas - e surpreendentes - tentativas de desgaste do atual governo já realizadas pelos grandes veículos de mídia. Seria risível, se não fosse preocupante.

Até o mundo mineral sabe que não há qualquer controle sobre as edições realizadas na Wikipédia e que é muito difícil rastrear toda a rede que serve ao Palácio do Planalto, portanto, é muito provável que o "responsável" pela edição dos perfis jamais seja encontrado. Logo, nunca saberemos o que, de fato, ocorreu.

Talvez isso explique a desfaçatez de Miriam Leitão ao afirmar, em artigo publicado em O Globo, que "alguém deu ordem para que isso fosse executado" e que isso faz parte de"uma política". Fazer afirmações dessa natureza é tão leviano quanto afirmar que a própria jornalista teria feito as alterações, apenas para ganhar notoriedade. Simplesmente não há como provar uma coisa nem outra.

Há muitas questões a serem levantadas no episódio. Por ora, pode-se afirmar qualquer coisa e levantar suspeitas sobre qualquer um! E, a propósito, cabe suscitar algumas questões: Por que tendo sido feita há meses, a edição só foi "denunciada" agora? E por que não supor que um jornalista qualquer, em visita ao Palácio, possa ter feito o "serviço"? Além disso, qual "crime" mesmo teria sido cometido? Alteração de uma plataforma aberta virou crime no Brasil? Afirmar que um jornalista "faz previsões desastrosas" é caluniar alguém? E por que O Globo dedica mais espaço a esse tema do que ao Aeroporto construído na Fazenda do Tio de Aecio? São apenas algumas dúvidas bem pertinentes sobre o caso. Poderíamos estender a lista.

Mas o que, realmente preocupa no caso, é a tentativa de transformar um episódio banal em um escândalo com proporções nacionais. Isso sim é uma ameaça à democracia. Pois, se um veículo de comunicação pode pôr em risco a credibilidade de nossas Instituições democráticas apenas por que um de seus funcionários teve seu perfil alterado numa plataforma que busca, exatamente, a interferência e a colaboração de seus usuários, então temos um risco evidente ao processo democrático. Se essa farsa for bem sucedida - e tiver algum tipo de influência sobre as eleições - não haverá mais limites à manipulação da informação no Brasil. É o retorno ao debate editado de 1989. E isso em plena Era da internet!

Não é razoável que pautas verdadeiramente relevantes para o país sejam ofuscadas por uma sórdida tentativa de manipulação e interferência no processo eleitoral de um grupo de mídia privado. Menos, ainda, é razoável que um veículo de comunicação pretenda impor a uma nação de mais de 190 milhões de cidadãos um debate inócuo sobre um "escândalo" que não passa de uma piada de mau gosto.

Por fim, fica a expectativa de que o episódio acabe como apenas mais uma anedota das disputas eleitorais no Brasil, a exemplo da bolinha de papel de José Serra em 2010. Caso contrário, é melhor estar preparado para a emergência de um Poder absoluto no país, sob a tutela dos monopólios da informação. E como qualquer poder absoluto, este também representará uma séria ameaça à democracia.

(*) Vinicius Wu é secretário-geral do governo do Rio Grande do Sul e coordenador do Gabinete Digital.

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