Criada a escassez, teles vão cobrar pela abundância na internet
Luís Osvaldo Grossmann ... 20/04/2016 ... Convergência Digital
“Já iniciamos o diálogo com uma das operadoras e na
semana que vem vamos trazer todas para tratarmos da continuidade dos
planos ‘ilimitados’, quando esperamos que todas as operadoras firmem um
compromisso público, um documento que já estamos preparando”, afirmou
nesta quarta, 20/4, o ministro André Figueiredo.
Os termos desse “compromisso público” serão,
portanto, no sentido de “exigir” que as empresas ofereçam planos sem
limite de franquia, ainda que mantenham paralelamente as ofertas com
esse limite. Além disso, também será colocada a promessa de que não
haverá alteração nos contratos vigentes. Parece uma vitória dos
consumidores contra o que veem como abusos das teles.
Só parece. Os termos que o ministério está
preparando foram sugeridos pela Vivo, justamente a operadora com quem
foi iniciado o diálogo. Do ponto de vista da precificação das ofertas, a
criação de um serviço ‘premium’ atende o que as empresas sempre
defenderam na internet, a criação de segmentações. Se esse ‘premium’ é
quase compulsório, o prêmio pode ser ainda maior.
O próprio André Figueiredo, ao divulgar a costura
com as teles, adianta que a espera que as empresas não aumentem muito os
preços. Na véspera, o presidente da Anatel, João Rezende, já dissera
que obrigar as operadoras a venderem planos ‘ilimitados’ teria como
resultado esperado aumento de preços e reduções de velocidade.
Escassez
As empresas defendem o uso de franquias pois elas
atacam o consumo ‘excessivo’ de dados por parte dos internautas, que
acabariam provocando congestionamentos na internet. Ao impor limites de
download, elas estariam protegendo a maioria. “Algum tipo de equilíbrio
há de se ter porque senão teremos o consumidor que consome menos pagando
por aqueles que estão consumindo mais”, concorda o presidente João
Rezende.
Talvez a maior evidência nesse sentido seja que as
franquias são adotadas independentemente do horário dos acessos. Ou
seja, se fosse efetivamente um problema de congestionamento, com ‘heavy
users’ prejudicando o tráfego dos demais, o incentivo deveria promover o
uso fora do horário de pico, mas isso não acontece.
O uso de franquias, portanto, além de poder criar
aquele mercado ‘premium’, também abre outras frentes de “monetização” –
os acordos para que certos conteúdos não consumam o limite de dados
imposto. Acordos com bancos e redes sociais, como Facebook ou WhatsApp,
já existem na internet móvel, onde o sistema de franquia é ainda mais
arraigado.
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