INDIGNADOS
30/04/2012 - 09h30 | Pedro Henrique França | Nova York
Fonte: Opera Mundi
Occupy Wall Street resgata Primeiro de Maio nos EUA e convoca "apagão de consumo"
O movimento, que ocupou o centro financeiro de Nova York, também sugeriu uma greve nacional
Pedro Henrique França/Opera Mundi
Por décadas, trabalhadores em todo o mundo tem no 1º de Maio um feriado nacional e um dia de protestos. Os Estados Unidos, país onde a data se originou, não. Esse ano, o movimento Occupy Wall Street irá tentar mudar essa realidade, convocando para esta terça-feira (01/05) uma greve geral e um "apagão de consumo", denominado "Um dia sem o 99%". O movimento, iniciado em agosto de 2011 no Parque Zucotti, uma praça no coração financeiro de Nova York, e que se espalhou por várias cidades do mundo, inclusive no Brasil, pretende ocupar mais uma vez as ruas de Manhattan.
“Estamos trazendo de volta a atenção para Wall Street”, conta ao Opera Mundi o médico brasileiro Alexandre Carvalho, um dos idealizadores do Occupy.
A luta recomeça amanhã, conclamando os apoiadores a não irem à escola, ao trabalho e, principalmente, às compras. Algo semelhante foi feito no fim do ano passado, quando estima-se que seis milhões de norte-americanos transferiram suas poupanças de grandes bancos para pequenas instituições financeiras. Bancos como o Bank of America estão entre os principais vilões da crise econômica, pois foram ajudados pelo governo do presidente Barack Obama logo após o colapso no mercado imobiliário. No segundo semestre de 2009 o índice de desemprego já batia a casa dos 10%.
A articulação para o "Dia D" se fortaleceu nos últimos dias, quando os ativistas montaram um acampamento em frente à Bolsa de Valores para divulgar o ato. A programação do "Strike May 1st" começa com a ocupação do Bryant Park, logo pela manhã, onde acontecerão eventos culturais. Depois, às 16h, seguem em marcha para a Union Square. Às 19h, outra marcha, desta vez para seu lugar de origem, o Zucotti. A estimativa é que mais de 10 mil pessoas participem.
Pedro Henrique França/Opera Mundi
A ideia, diz Carvalho, é reacender a chama da indignação, um pouco apagada com as baixas temperaturas do rígido inverno norte-americano e, sobretudo, ao grande revés sofrido em novembro, quando a polícia de Nova York e de outras cidades dos EUA evacuaram os ocupantes de suas praças, proibindo-os de continuar instalados em suas sedes. “Perdemos muitos ativistas com isso”, conta Carvalho. “A nossa liberdade foi enjaulada. De repente as leis mudavam toda hora. Temos até um jingle que diz ‘I Get Confused When The Law Changes Everyday' [Eu fico confuso quando a lei muda todo dia]”.
O "May Day", dizem os ativistas, é só o começo. Ações semelhantes devem se espalhar ainda pela Europa entre 12 e 15 de maio. “Acho que na Europa vai ser ainda maior que nos EUA”, analisa Carvalho, alegando o impacto da crise econômica como principal fator de mobilização.
As autoridades nova-iorquinas e a polícia, desde o início do movimento, têm acompanhado e armado barricadas no entorno da nova sede, a Bolsa de Valores. E, como em outras iniciativas do Occupy - a exemplo da caminhada na Ponte do Brooklyn e do ‘Occupy Times Square’ -, as chances de confusão e prisões são grandes. “Nós sabemos [que teremos problemas] e fazemos piada até. Fulano sempre diz para o outro ‘Te vejo na prisão’”, diz o brasileiro.
Revolução virtual
Mesmo com a baixa de ativistas pela falta de espaço geográfico - e também por conta do inverno nova-iorquino -, o Occupy nunca deixou de existir, graças sobretudo à internet. O movimento manteve-se forte nas redes sociais - Twitter e Facebook -, além de diárias trocas de e-mails e por meio de informativos enviados via mensagem aos celulares de uma grande rede de cadastrados.
“Vivemos a era do que nós chamamos de revolução ‘Virgeo’: virtual e geográfica”, pontua Carvalho. Segundo ele, diferentes núcleos controlam esses meios de informação, uma tendência, diz, de um movimento descentralizado, da “revolução no século XXI”. “Não temos um líder, um grupo. Temos vários coletivos e vários líderes. A palavra centralização não existe na nossa luta.”
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