sexta-feira, 26 de outubro de 2012

A circulação, a liberdade de expressão... um caso a ser estudado

Saiu na FOLHA DE S. PAULO:


24 de outubro de 2012

‘JN’ dedica quase 20 minutos a balanço do julgamento

DE SÃO PAULO

O “Jornal Nacional” da TV Globo, programa jornalístico mais assistido da televisão brasileira, dedicou ontem 18 dos 32 minutos de sua edição a um balanço do julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal.

O telejornal exibiu oito reportagens sobre o tema, contemplando desde o que chamou de “frases memoráveis” proferidas no plenário do STF às rusgas entre os ministros Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandovsky, respectivamente relator e revisor do processo na corte.

O segmento mais “quente” do telejornal, dedicado às notícias do dia (debate do tamanho das penas e a decisão de absolver réus de acusações em que houve empate no colegiado) consumiu 3min12s.

O restante foi ocupado pelo resumo das 40 sessões de julgamento.

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Há, ainda, um agravante. O assunto foi ao ar no JN imediatamente após o fim do horário eleitoral, que, em São Paulo, foi encerrado com o programa de Fernando Haddad. E tem sido assim desde que começou o segundo turno – o noticiário do mensalão é apresentado pelo telejornal sempre “colado” ao fim do horário eleitoral.

O objetivo de interferir no pleito do próximo domingo em prejuízo do Partido dos Trabalhadores e dos outros partidos aliados que figuram na Ação Penal 470, vem sendo escancarado. Ontem, porém, essa prática ilegal chegou ao ápice.

A ilegalidade é absolutamente clara. Para comprovar, basta a simples leitura da Lei 9.504/97, a chamada Lei Geral das Eleições, que, em seu artigo 45, caput, reza que:

Caput – A partir de 1o de julho, ano da eleição, é vedado às emissoras de rádio e televisão, em sua programação normal e noticiário, conforme incisos:

III – Veicular propaganda política, ou difundir opinião favorável ou contrária a candidato, partido, coligação, a seus orgãos ou representantes;

IV – Dar tratamento privilegiado a candidato, partido ou coligação;

V – É vedado às emissoras de rádio e televisão, em sua programação normal e noticiário, veicular ou divulgar filmes, novelas, minisséries ou qualquer outro programa com alusão ou crítica a candidato ou partido político, mesmo que dissimuladamente (…)

Apesar de a Globo poder alegar que estava apenas reproduzindo um fato do Poder Judiciário, a intenção de usar as reiteradas menções dos ministros do Supremo Tribunal Federal ao Partido dos Trabalhadores é escancarada ao ponto de ter virado notícia de um jornal absolutamente insuspeito de ser partidário desse partido.

Conforme reza a lei, é vedada prática da qual o JN abusou, ou seja, fazer “Alusão ou crítica a candidato ou partido político, mesmo que dissimuladamente”. Ora, de dissimulado não houve nada. O PT foi citado reiteradamente pela edição do JN de forma insistente e por espaço de tempo jamais visto em uma só reportagem.

A Lei Eleitoral recebe interpretação pela Justiça Eleitoral, ou seja, ela julga exatamente as nuances das propagandas, dos programas em veículos eletrônicos e até mesmo na imprensa escrita e na internet.

O uso de uma concessão pública de televisão com fins político-eleitorais também viola a Lei das Concessões, cujo guardião é o Ministério das Comunicações.

Diante desses fatos, comunico que a ONG Movimento dos Sem Mídia, da qual este blogueiro é presidente, apresentará, nos próximos dias, representações à Procuradoria Geral Eleitoral e ao Ministério das Comunicações contra a TV Globo por violação da Lei Eleitoral, com tentativa de influir em eleições de todo país.

Detalhe: será pedido ao Minicom a cassação da concessão da Rede Globo por cometer crime eleitoral

Por certo não haverá tempo suficiente de fazer a representação ser apreciada por essas instâncias antes do pleito, mas isso não elidirá a denunciação desse claro abuso de poder econômico com vistas influir no processo eleitoral. Peço, portanto, o apoio de tantos quantos entenderem que tal crime não pode ficar impune.

4 comentários:

  1. Engraçado! Acho que esta última eleição serviu para comprovar que a população esta ficando cada vez mais autônoma (e esperta) em relação à suposta opinião inequívoca da mass mídia. O que mais me espanta nesse texto é toda a estratégia de circulação que produz o maior dos sentidos, a circulação é o próprio sentido. Se os fins visados pela estratégia são podres, devemos pelo menos admitir que a estratégia em si é de muita esperteza...

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  2. É a lógica do espetáculo, que a Globo sabe tão bem fazer. Sua qualidade técnica é irretocável.

    Mas a blogosfera, mais uma vez, vem minar a força absoluta que outrora a TV teve. E acho que não só porque as pessoas frequentam (o que também significa produzem) a blogosfera, mas porque, só o fato de ela existir, junto com os celulares e todas as outras mídias e dispositivos correlatos, já faz o mundo ser outro, alargado, cheio de circulações que, no mínimo, dão a sensação geral de que há muito mais do o que o que passa na TV.

    Sobre isso, já viram a cítica divetida do Comedia MTV?

    http://www.youtube.com/watch?v=PuJg1dVIR4A

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  3. É a lógica do espetáculo, que a Globo sabe tão bem fazer. Sua qualidade técnica é irretocável.

    Mas a blogosfera, mais uma vez, vem minar a força absoluta que outrora a TV teve. E acho que não só porque as pessoas frequentam (o que também significa produzem) a blogosfera, mas porque, só o fato de ela existir, junto com os celulares e todas as outras mídias e dispositivos correlatos, já faz o mundo ser outro, alargado, cheio de circulações que, no mínimo, dão a sensação geral de que há muito mais do o que o que passa na TV.

    Sobre isso, já viram a cítica divetida do Comedia MTV?

    http://www.youtube.com/watch?v=PuJg1dVIR4A

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