sábado, 14 de junho de 2014

"Complexo de vira-latas": o que é isso, afinal? II

Na rede, gringos combatem o complexo de vira-latas brasileiro

publicado em 13 de junho de 2014 às 15:51


O sistema automatizado de entrega de bagagens do aeroporto internacional de Denver foi um dos maiores fracassos da História recente da construção civil. Estourou o orçamento, destruía as bagagens e teve de ser abandonado. Ah, se fosse no Brasil…


Gringos “provam” que problemas não são “só no Brasil” e também reclamam
por Fabiana Uchinaka, sugerido por SM

Do UOL, em São Paulo 13/06/201406h00
Só no Brasil… o transporte atrasa, não há táxis, a fila não anda, o aeroporto é uma bagunça, o ônibus é lotado. Só no Brasil existe burocracia, injustiça e corrupção. Só no Brasil tem protesto e confusão.
Só que… não.

Desde que o país do futebol virou o palco desta Copa do Mundo, a expressão virou o bordão dos brasileiros para reclamar dos problemas mais sérios –ou esdrúxulos– que temos por aqui e para manifestar grandes doses de “vergonha” pelo mundo estar vendo nossas mazelas. Mas os comentários dos internautas de outros países nas redes sociais têm mostrado que não é bem assim.
A revista britânica The Economist publicou na terça-feira (10) o texto “Traffic and tempers” (algo como “trânsito e humores”) no Facebook, que traz um relato do imbróglio que é circular por São Paulo na véspera do Mundial e diz que “no momento em que você aterrissa no Brasil você começa a perder tempo”. Dezenas de gringos rebateram o artigo com frases que podem deixar alguns internautas canarinhos chocados:

“Parece quando você visita o departamento da Receita da Filadélfia [nos EUA] para pagar uma conta”, diz o americano Sam Sherman.

“Há filas diárias por táxis no aeroporto Schiphol, em Amsterdã… E não é Copa do Mundo”, conta Tatyana Cade.

“Cena diária do trajeto em Tóquio, exatamente como esta imagem”, alerta Ryo Yagishita.

“Parece a Argentina, nada mais refrescante que viajar como gado depois de um longo dia de trabalho”, descreve Pao Radeljak. “Me lembra Buenos Aires”, completa Paola Scarlett.

“A mesma coisa aconteceu com os brasileiros quando eles viajaram de Heathrow para Gatwick. O engarrafamento caótico de Londres [que sediou a última Olimpíada] também é mundialmente famoso. Depois, pense no eletricista inocente que foi morto por policiais justiceiros no metrô de Londres, que disseram que ele era terrorista [caso Jean Charles de Menezes]. Não é uma vergonha para um país desenvolvido reclamar do Brasil quando também tem problemas em seu país? Pense nos manifestantes em Londres, e na destruição por quatro dias alguns anos atrás. Então vira vergonha duplar”, afirmou Naithirithi Chellappa.

“Para todos os brasileiros que reclamam de seu país: vocês deveriam tentar viver na Europa por um minuto. Sim, nós temos tudo regulado, mas as coisas estão cada vez mais nazistas. E falar sobre corrupção? Você acha que não acontece aqui? Aqui é tão desenvolvido que você nem vê, está muito escondido e tudo é feito por políticos e outros criminosos [daqui] fora da Europa”, analisa o holandês Roas Metten. “A polícia é uma piada, eles não pegam criminosos, eles dão multas o dia todo.”
Metten completa: “Os abraços e beijos que recebo em um mês no Brasil, não ganharia em dez anos na Europa. Então talvez as coisas aqui sejam melhores reguladas pelas leis e sistemas, mas é um inferno culturalmente e nas relações.”

O espanhol Álvaro Munhoz tenta fazer uma análise mais ampla: “Para falar a verdade, se o número de pessoas que chega ao mesmo tempo excede a capacidade, a situação poderia acontecer em qualquer lugar do mundo.”

Enquanto o internauta Leandro Cintra aproveitou para contar que recentemente levou 40 minutos para conseguir um táxi… em Nova York (EUA). E mais meia hora para entrar em um ônibus… em Fort Lauderdale (EUA). Já Wenderson Neves lembrou que a fila na imigração de Londres é de pelo menos duas horas com policiais muito pouco cordiais.

A também britânica BBC perguntou em texto publicado na terça: “What is it like to live in a Favela?” (Como é viver numa favela?). E a internauta Adreane Bertumen prontamente respondeu: “Todo país, toda cidade tem a sua ‘favela’. Gueto é gueto em todos os lugares. O Brasil não é o único”.

“Essas favelas não são nada comparadas às que temos em Nairóbi, no Quênia”, diz Eric Murimi.

“Venham ver Sodoma e Gomorra em Gana”, convida Leroy Amankwa.

“Nos Estados Unidos, nós precisamos acordar e olhar ao redor. É difícil achar uma cidade que não tenha acampamentos de sem-teto por todo seu perímetro. Bem escondidos, mas estão cada vez maiores a cada ano. Não estamos em posição de jogar pedra em outros governo”, ressalta Marie Lawson. “Nos EUA, temos guetos e estacionamentos de trailers”, concorda Eric D Molino.

PS do Viomundo: Foi justamente por isso que escrevi, dias atrás, no Facebook, sobre minhas quase duas décadas de moradia em Nova York e Washington:
Esse Dan Stulbach [em comentário na ESPN] é um bobão, que fica falando coisas manjadas para agradar a turma do complexo de vira-latas. Acaba de sentir as dores da FIFA pelo fato de que assentos foram instalados no Itaquerão na semana da estreia. Grande coisa. Será que ele já viu outros eventos internacionais, onde muitas coisas são feitas de última hora, no mundo todo? Os bobocas da classe média precisam desta ideia de que são privilegiados por viajar a Nova York, Londres e Paris, onde nada atrasa e tudo dá absolutamente certo, ao contrário do Brasil. É o último bastião dos vira-latas para que eles se sintam privilegiados em relação aos brasileiros “comuns”. Se esse bobão quiser ouvir eu conto 20 anos de histórias de coisas que não deram certo em Nova York…

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