0/02/2015 às 15:04
        
Um esquecido nos estudos de mídia no Brasil
Texto preparado para apresentação no ciclo de 
debates "A Multiplicidade de Stuart Hall" realizado pelo Centro de 
Pesquisa e Formação, SESC São Paulo, em 6 de fevereiro de 2015, título 
original "O Stuart Hall 'esquecido': estudos de mídia no Brasil". O A. 
agradece às professoras Sylvia Moretzsohn (UFF) e Ana Paola Amorim 
(FUMEC/BH) e ao professor Juarez Guimarães (UFMG) pelos comentários e 
sugestões, e a Zildete Melo pela leitura vigilante em relação à correção
 gramatical do texto.
 
“Viver a política é diferente de ser abstratamente a favor dela.” Stuart Hall (1996)
Introducing the Forgotten Stuart Hall: His Early Work (Introduzindo o 
Stuart Hall Esquecido: seus primeiros trabalhos): este é o título que o 
professor britânico James Curran deu à sua apresentação no seminário 
internacional realizado em memória de Stuart Hall (1932-2014) no 
Goldsmiths College da Universidade de Londres, em novembro de 2014. [O 
programa completo da “Stuart Hall International Conference: 
Conversations, Projects and Legacies” e os vídeos de todas as 
apresentações 
estão disponíveis aqui, acesso em 20/12/2014.]
 
Curran argumentou convincentemente que a grande repercussão alcançada 
pela produção teórica sobre etnicidade e multiculturalismo do Stuart 
Hall maduro fez com que se subestimasse o valor de seus primeiros 
textos. A exceção seria o conhecido Encoding and Decoding in TV 
Discourse, cuja publicação original é de 1973.
Em sua apresentação, ele escolheu falar sobre dois desses trabalhos 
iniciais, ambos livros em coautoria: The Popular Arts, de 1964 e 
Policing the Crisis, de 1978. Dedicados às questões sobre cultura de 
massa (popular culture) e sobre o poder ideológico da mídia, são 
anteriores à década de 1990 quando Hall “desloca” sua atenção, 
sobretudo, para os estudos ligados à raça e à etnia.
Liv Sovik (2010, p. 2), reconhecida especialista no pensamento de 
Stuart Hall, afirma que “a partir dos anos 90, a questão do racismo e da
 diáspora, sobretudo a africana no Novo Mundo e, em um segundo 
movimento, na Europa (é central para a produção de Hall)”. Ele próprio 
comentou que esse “deslocamento”, no qual “as questões críticas de raça,
 a política racial, a resistência ao racismo, questões críticas da 
política cultural (foram colocadas na agenda dos Estudos Culturais), 
representou uma virada decisiva no [seu]trabalho intelectual e teórico” 
[Stuart Hall, “Estudos Culturais e seu legado teórico” in Da Diáspora, 
p.210].
Consideradas as circunstâncias de seu tempo, afirma Curran, os 
trabalhos iniciais anteriores à “virada intelectual” de que fala Hall, 
mudaram o rumo das reflexões sobre a mídia na Inglaterra, tanto na 
academia quanto no debate público.
Entre nós, no mais recente dicionário acadêmico de comunicação 
(Dicionário de Comunicação – Escolas, Teorias e Autores, 2014), apesar 
de citado nos verbetes dedicados a dois autores (Raymond Williams e 
Guilhermo Orozco), a cinco teorias (Estudos de mídia/Televisão, Estudos 
de recepção e audiência, Marxismo e comunicação, Práticas de 
pertencimento em comunicação e Tendências de estudo em comunicação) e a 
uma escola (Estudos culturais ingleses), Stuart Hall não mereceu um 
verbete para si próprio.
Poderia o argumento de James Curran sobre “o Stuart Hall esquecido” 
servir de ponto de partida também para uma avaliação de sua influência 
nos estudos de mídia no Brasil?
1. As traduções de Stuart Hall no Brasil
Um pressuposto para que a influência de um autor estrangeiro se 
dissemine é que seu trabalho esteja disponível no idioma de seus 
eventuais leitores. Vamos começar, portanto, pelas traduções de Stuart 
Hall.
Registro inicialmente que, embora a Editora Zahar tenha publicado há 35
 anos (1980), sem maiores repercussões, a coletânea Da Ideologia – que 
inclui um ensaio escrito por Stuart Hall [“O interior da ciência: 
ideologia e a ‘sociologia do conhecimento’”] e outro que ele assina 
coletivamente [“Política e Ideologia: Gramsci”] –, só depois dos 90 
começam a circular traduções de seus textos mais importantes no Brasil.
A primeira tradução de peso nos chegou via Portugal, em obra de 
referência sobre jornalismo, organizada por Nelson Traquina – 
Jornalismo: Questões, Teorias e “Estórias” – publicada em Lisboa, em 
1993 e com ampla circulação nos nossos cursos de Comunicação. Nela 
estava incluído o terceiro capítulo do Policing the Crisis: “A produção 
social das notícias: o ‘mugging’ nos mídia”. Quatro anos depois, em 
1997, aparece o livro Identidades Culturais na Pós-Modernidade da 
DP&A Editora, um ensaio sobre a crise de identidades no contexto da 
globalização do final do século 20. E, somente em 2003, após a visita de
 Stuart Hall ao Brasil para participar de um congresso da Associação 
Brasileira de Literatura Comparada, realizado na Bahia, em julho de 
2000, surge a coletânea organizada por Liv Sovik, Da Diáspora – 
Identidades e Mediações Culturais. [Pelo menos dois outros textos 
“menores” de Stuart Hall foram traduzidos no Brasil: “O papel dos 
programas culturais na televisão britânica” (1972) e “A centralidade da 
cultura: notas sobre as revoluções de nosso tempo” (1997). Registre-se 
também que a tradução de “Estudos Culturais e seu legado teórico”, que 
aparece em Da Diáspora (2003), havia sido anteriormente publicada na 
Revista de Comunicação e Linguagens, nº 28, outubro de 2000, Lisboa. 
Desconheço outras traduções de Hall eventualmente existentes para a 
língua portuguesa, publicadas e com circulação em Portugal.]
Das três traduções mencionadas, a primeira – “A produção social das 
notícias” – pertence à fase do Stuart Hall “esquecido”. O livro sobre 
Identidades Culturais na Pós-Modernidade já se inclui no “deslocamento” 
para as questões sobre raça e etnia. Quanto à coletânea organizada por 
Liv Sovik – a mais relevante publicação no Brasil – apesar de contemplar
 um amplo espectro da produção intelectual de Hall, tanto cronológica 
quanto tematicamente, no seu próprio título – Da Diáspora, Identidades e
 Mediações Culturais – já indica alinhamento prioritário com as questões
 associadas à etnicidade e ao multiculturalismo.
Da Diáspora reúne doze ensaios e duas entrevistas, 
publicados/realizadas ao longo de um período de 20 anos [1980 a 2000] e é
 organizada em quatro partes: Controvérsias; Marcos para os Estudos 
Culturais; Teoria da Recepção e Stuart Hall por Stuart Hall. Embora os 
textos estejam divididos igualmente entre anteriores e posteriores a 
1990 (sete de cada período), certamente não se trata de uma coletânea 
orientada para os estudos de mídia.
Como explica Liv Sovik na Apresentação da coletânea, datada de outubro de 2002:
Estes doze ensaios e as duas entrevistas são publicados em uma 
conjuntura específica no Brasil. A identidade racial brasileira e as 
formas brasileiras de racismo estão no centro do debate 
político-cultural. Estão nos discursos dos meios de comunicação e nos 
produtos culturais de massa, em pronunciamentos oficiais e nas 
universidades, onde a propensão a estudar as tendências sociais como se 
fossem externas foi interrompida pela proposta de cotas para alunos 
negros nas universidades, feita por diversas instâncias de governo. As 
políticas federais para a educação superior vêm provocando um debate 
sobre o lugar social e institucional do trabalho intelectual, sobre o 
qual Stuart Hall tem tanto a dizer. A seleção dos textos foi 
influenciada por essa conjuntura política, cultural e acadêmica e também
 pela preocupação em apresentar boas traduções de textos já consagrados 
ou mais recentes, relacionados a esse e outros temas atuais – políticas 
culturais democráticas, por exemplo.
Vale lembrar que, em outubro de 2002, a “conjuntura política” 
brasileira era dominada pela realização de eleição para a presidência da
 República [decidida em dois turnos, nos dias 6 e 27] e havia grande 
expectativa em torno da possibilidade de ser eleito, pela primeira vez 
na nossa história política, um operário de origem racial mestiça, 
migrante nordestino. Ademais, a eventual eleição de Luiz Inácio Lula da 
Silva trazia a esperança, para movimentos sociais historicamente 
comprometidos com a democratização da mídia, de que a regulamentação das
 normas e princípios relativos aos meios de comunicação, consagrados 
pela Constituição Federal de 1988, e a implementação de políticas 
públicas democráticas para o setor poderiam ser, finalmente, alcançadas.
Todavia, apesar de datada de outubro de 2002 e apesar de reconhecer-se 
“influenciada [pela] conjuntura política, cultural e acadêmica”, a 
Apresentação de Da Diáspora não mencionaestes fatos e, portanto, 
omite-se em relação à eventual contribuição que a leitura de Stuart Hall
 poderia oferecer especificamente para o debate público deles e para os 
estudos de mídia.
Salvo, portanto, o terceiro capítulo do Policing the Crisis, que nos 
chega via Portugal, as principais traduções disponíveis até hoje no 
Brasil, nos remetem, prioritariamente, para o Stuart Hall posterior à 
“virada decisiva no [seu] trabalho intelectual e teórico”, no rumo das 
questões de etnicidadade e do multiculturalismo.
2. Estudos Culturais, Hall e Gramsci
Pelo menos desde o final dos 70 e/ou início da década de 1980, todavia,
 independentemente da existência ou não de traduções e da natureza 
delas, pesquisadores e programas de pós-graduação brasileiros – em 
Comunicação e de outras áreas – estavam sendo influenciados pelos 
Estudos Culturais Ingleses, inclusive pelos primeiros trabalhos de 
Stuart Hall. Menciono dois exemplos.
Na perspectiva da construção de uma matriz teórica para eventuais 
“estudos culturais latino-americanos”, tentei fazer um contraponto entre
 o pensamento de Paulo Freire e os estudos culturais nos Estados Unidos e
 na Inglaterra em minha tese de doutorado em Comunicação defendida no 
Institute of Communications Research da Universidade de Illinois, em 
1979, e publicada pela Editora Paz e Terra com o título Comunicação e 
Cultura: as ideias de Paulo Freire, em 1981. Anos mais tarde indiquei 
que, além da reconhecida contribuição para a tradição teórica da 
comunicação como diálogo e para a positivação do conceito de comunicação
 como direito humano fundamental, existe um enorme potencial analítico 
ainda inexplorado embutido em conceitos introduzidos por Freire como, 
por exemplo, “cultura do silêncio” [Cf. Lima (2011a), “Introdução à nova
 edição” e Lima (2011b), “Da cultura do silêncio ao direito à 
comunicação”].
Também Ondina Fachel Leal, em sua tese de mestrado em antropologia 
social, “A Leitura Social da Novela das Oito”, defendida na Universidade
 Federal do Rio Grande do Sul, em 1983, e posteriormente transformada em
 livro pela Editora Vozes, em 1986, tentara mostrar que “há 
reelaborações diferenciadas entre diferentes agentes sociais de um mesmo
 conteúdo culturalmente hegemônico” e que “as significações e o 
significado das vidas das pessoas são indissolúveis” (p. 11).
Ainda na década de 80, como já ocorria em relação a Raymond Williams 
[1921-1988] [o seminal Marxismo e Literatura de Raymond Williams foi 
publicado pela Editora Zahar em 1979] – um dos “pais fundadores” dos 
Estudos Culturais ingleses – o trabalho de Stuart Hall foi também 
fundamental para a compreensão do pensamento do filósofo marxista 
italiano Antonio Gramsci [1891-1937], sobretudo do seu conceito de 
hegemonia dentro do qual o estudo da cultura e da mídia se coloca em 
termos das relações de poder tecidas na sociedade.
Além do “Política e Ideologia: Gramsci” traduzido na coletânea Da 
Ideologia (Zahar, 1980), já mencionada, merece especial registro o 
artigo “Gramsci’s Relevance for the Study of Race and Ethnicity”, 
originalmente publicado em edição especial dedicada a Stuart Hall pelo 
Journal of Communication Inquiry da Universidade de Iowa, no verão de 
1986 [a tradução deste texto faz parte de Da Diáspora com o título “A 
relevância de Gramsci para o estudo de ração e etnicidade”].
Os textos específicos sobre Gramsci e outros de Hall para os quais as 
ideias do filósofo da Sardenha constituem referência básica (por 
exemplo, “New Ethnicities”, 1988) conduziram à construção do conceito de
 “Cenário de Representação da Política” [CR-P] que introduzi em artigo 
publicado na revista Comunicação&política, em 1990 e foi, 
posteriormente, desenvolvido em diferentes textos [cf. Lima 1991, 1994, 
1995, 1996 e 2004]. O conceito ainda hoje é utilizado como instrumento 
para a análise das relações entre a mídia e a política, especificamente 
nos processos eleitorais. [Em 1996, uma coletânea com o título 
Construindo o Cenário: A Mídia na Política foi organizada reunindo doze 
textos de aplicação do conceito de CR-P em processos eleitorais no 
Brasil (1989, 1992, 1994), México (1994) e Estados Unidos (1980). Depois
 de mais de três anos em poder de avaliador acadêmico ela foi devolvida 
sem que um parecer fosse dado e a publicação se inviabilizou. Uma lista 
incompleta de trabalhos acadêmicos que se utilizam do CR-P pode ser 
encontrada em Lima 2004.]
Da mesma forma e no mesmo período, programas de pós-graduação em 
Comunicação incluíam os Estudos Culturais Ingleses entre o elenco de 
disciplinas lecionadas.
Na primeira metade dos 80, o mestrado em Comunicação da Universidade de
 Brasília, por exemplo, oferecia “Comunicação e Estudos Culturais”, tema
 que veio a se tornar, inclusive, uma de suas linhas de pesquisa em 
1986, embora por curto período. Ainda naquela época, com o apoio do 
British Council em Brasília, convidamos, sem sucesso, Stuart Hall para 
vir ao Brasil. Ademais, tentou-se a criação de um doutorado 
multidisciplinar em Estudos Culturais Contemporâneos na UnB, tendo como 
modelo o Centre for Contemporary Cultural Studies (CCCS) de Birmingham. 
Reuniões com representantes das pós-graduações em psicologia, história, 
filosofia, antropologia, linguística, sociologia, ciência política e 
comunicação foram realizadas (1989/1990), mas o projeto não logrou 
progredir.
3. A influência de Hall nos estudos de mídia brasileiros
Muito mudou em relação à mídia e aos estudos de mídia, nos últimos 25 
anos. A revolução digital deu origem à convergência tecnológica que 
diluiu as fronteiras entre a comunicação de massa, as telecomunicações, o
 mundo novo dos computadores e a telefonia móvel. Consolidaram-se 
megaempresas globais multimídia e agências globais de publicidade e 
relações públicas. As redes sociais, os blogs, os e-mails passaram a 
oferecer um potencial de comunicação interativa de mão dupla, até então,
 inexistente. Os estudos de mídia foram obrigados a repensar-se e a 
formação profissional para o setor ainda busca novas referências e 
padrões.
No Brasil, mesmo diante de tantas transformações, a estrutura econômica
 e legal do sistema dominante de mídia não mudou. Permanece 
predominantemente privada, oligopolizada, privilegiada e assimétrica em 
relação a outros serviços públicos. E mais importante, permanece 
excludente e não representativa da diversidade e da pluralidade de vozes
 e opiniões que constituem o conjunto da população brasileira.
Apesar da enorme diferença entre os processos históricos de 
consolidação dos sistemas de mídia, tanto impressos quanto eletrônicos, 
na Inglaterra e no Brasil, algumas questões teóricas, lá e cá, eram e 
continuam sendo semelhantes.
O que pretendo a seguir é comentar três textos de Stuart Hall que 
tiveram – e ainda têm – importante influência nos estudos de mídia. Eles
 foram originalmente publicados em 1973, 1978 e 1986 e tratam, 
respectivamente: 1) da diversidade de “leituras” das mensagens da mídia;
 2) da “produção social das notícias” e 3) da comunicação como campo 
(não) autônomo de conhecimento. Dois deles estão traduzidos e 
disponíveis no Brasil.
Breve excursus metodológico
Os escritos de Stuart Hall possuem duas características centrais: 
primeiro, eles são sempre conjunturais, isto é, surgem em resposta a 
determinada situação concreta; e segundo, pretendem ser uma intervenção 
na realidade, contribuir para o debate, interferir politicamente.
Em entrevista concedida a Heloisa Buarque de Holanda e a Liv Sovik, Hall afirmou:
Escrevo ensaios. (...) Meus escritos são criados em função de 
situações concretas, são sempre intervenções. Estão sempre procurando 
redirecionar uma dada situação. São escritos estratégicos. (...) Meu 
objetivo é usar a teoria para analisar conjunturas. Não sou um teórico 
no sentido abstrato [s/d].
Ancorado nessas características, pretendo oferecer uma análise 
comparativa e crítica dos três textos selecionados, tomando como 
referência a realidade histórica do sistema de mídia dominante entre nós
 e referências acadêmicas preferencialmente brasileiras. Ao mesmo tempo,
 coerentemente, espero que essa análise responda à conjuntura dos 
estudos de mídia no Brasil e que seja, também ela, uma forma de 
intervenção na realidade.
3.1 A diversidade das “leituras” das mensagens da mídia
A versão original de “Encoding and Decoding in Television Discourse” 
foi escrita no início da década de 70 e publicada na Media Series do 
CCCS, como “Stencilled Occasional Paper nº 7” (1973). Uma versão 
editada, com o título reduzido para “Encoding/Decoding”, aparece na 
coletânea de trabalhos do CCCS publicada pela editora Hutchinson de 
Londres, em 1980. Esta versão traduzida está na Parte 4-Teoria da 
Recepção em Da Diáspora (2003) junto à esclarecedora entrevista 
“Reflexões sobre o modelo de Codificação/Decodificação” concedida por 
Hall a um grupo de professores da Universidade de Massachusetts, em 
1989.
Hall explicou nesta entrevista que “Encoding/Decoding” tinha sido 
escrito para questionar o “contexto teórico-metodológico” dos modelos 
empíricos positivistas tradicionais de análise de conteúdo e as 
pesquisas sobre “efeitos” da comunicação que predominavam na Inglaterra.
 Afirmou ele:
Codificação/decodificação é “contra uma noção particular de conteúdo 
entendido como um sentido ou uma mensagem pré-formada e fixa, que pode 
ser analisada em termos de transmissão do emissor para o receptor. (...)
 A mensagem é uma estrutura complexa de significados que não é tão 
simples como se pensa. A recepção não é algo aberto e perfeitamente 
transparente, que acontece na outra ponta da cadeia de comunicação. E a 
cadeia comunicativa não opera de forma unilinear” [Da Diáspora, p. 354].
Hall argumentava que existiam pelo menos três posições hipotéticas a 
partir das quais a decodificação de uma mensagem (discurso) televisiva 
poderia ser construída pela audiência: a posição hegemônica dominante; 
uma versão (código) “negociada” e uma versão (código) de “oposição”. 
[Não ignoramos a complexidade do conceito de decodificação que tem sido 
“decomposto” analiticamente em diferentes etapas de atenção, 
compreensão, aceitação e retenção.].
A leitura preferencial, explicou Hall, “é simplesmente um modo de dizer
 que, se você detém o controle dos aparatos de significação do mundo e o
 controle dos meios de comunicação, então você escreve os textos – até 
certo ponto, a leitura preferencial tem uma forma determinante. As 
decodificações que você faz se dão dentro do universo da codificação. Um
 tenta englobar o outro. (...) Isso é o que quero dizer com leitura 
preferencial. Trata-se de uma tentativa de hegemonizar a audiência que 
nunca é inteiramente eficaz e, usualmente, não o é” [Da Diáspora, 
p.366].
Vale dizer que, embora a maioria da audiência decodifique a mensagem no
 código referencial operado pela mídia, outra parte “negocia” o 
significado (aceitando-o no todo ou em parte) e outra rejeita o 
significado dominante.
“Codificação/decodificação” desencadeou uma série de pesquisas sobre as
 audiências de televisão na Inglaterra [Morley 1980, 1986 e 1995] e foi 
decisivo para a ruptura com o paradigma que não problematizava o papel 
das audiências na recepção das mensagens e, portanto, ignorava a 
possibilidade de múltiplas leituras de um mesmo conteúdo “emitido” pela 
mídia.
3.1.1 Brasil não é Inglaterra
O texto de Hall certamente circulou e influenciou pesquisadores 
brasileiros ainda no início dos anos 80. É necessário, no entanto, que 
se registre qual era, então, não só o nosso “contexto 
teórico-metodológico”, como o contexto político brasileiro, muito 
distinto daquele em resposta ao qual “Codificação/decodificação” foi 
escrito na Inglaterra do início dos anos 70.
Havia no Brasil, nesse período, uma grande influência, direta e/ou 
indireta, dos estudos da linguagem e da semiologia, originária da Europa
 continental, sobretudo da França (autores como Saussure, Barthes, Eco, 
Greimas, Kristeva, Eliseo Verón, dentre outros). Apesar de diferentes 
matizes, uma das tendências que teve consequências importantes entre 
nós, foi a “análise do discurso” aplicada aos “textos/discursos” 
literários e aos “textos/discursos” (mensagens/conteúdo) da mídia 
impressa e televisiva. Emergiu, então, no Brasil uma “teoria da 
recepção”, dentro dos estudos de mídia e próxima dos estudos literários,
 que se apoiava na chamada “polissemia das mensagens”.
O modelo apresentado por Hall em “Codificação/decodificação”, ao 
contemplar a hipótese de uma “leitura preferencial”, alinhada 
ideologicamente com o “discurso” dominante na mídia, por parte da 
audiência, se contrapunha a um tipo de “teoria da recepção” nascente que
 diluía inteiramente o poder da mídia, com o argumento falacioso de que 
cada membro da audiência construía individualmente sua própria 
leitura/significação para os conteúdos/textos/discursos/mensagens.
O Brasil vivia desde 1964 uma ditadura militar, com a voz pública de 
oposição censurada e assistia ao processo de consolidação de um 
conglomerado oligopolístico de mídia (jornal, revistas, rádio e 
televisão) que fazia a sustentação ideológica do regime, as Organizações
 Globo.
“Codificação/decodificação” possibilitou, portanto, não só a crítica ao
 “contexto teórico-metodológico” que assumia uma falsa passividade 
generalizada “dos receptores”, mas também e, mais importante àquela 
época no Brasil, permitiu o argumento de que havia uma leitura dominante
 (preferred reading) construída na e pela mídia. Ao contrário de uma 
“democracia semiótica de vozes pluralistas” (Curran, 1990), tínhamos uma
 “polissemia estruturada” (Morley, 1980) que conferia, sim, aos 
oligopólios brasileiros de mídia um imenso poder ideológico em tempos de
 ditadura.
Esse embate teórico entre posições antagônicas se fazia, sobretudo, nos
 espaços restritos dos poucos cursos de pós-graduação em Comunicação em 
funcionamento naquele período e certamente influiu no rumo do ensino e 
da pesquisa que se consolidou a partir da década de 80. O texto pioneiro
 de Stuart Hall iluminou uma trilha que tem sido perseguida por muitos 
pesquisadores desde então.
Nas últimas décadas a “teoria da recepção” avançou muito em 
complexidade. Vale mencionar, por exemplo, o modelo semiótico-textual 
proposto por Umberto Eco e Paolo Fabri, ainda no final da década de 
1970, que introduz o conceito de cultura textualizada articulada na e 
pela mídia e que exige uma competência interpretativa que se organiza em
 torno de textos já consumidos e do confronto intertextual. Nela são as 
práticas textuais que se impõem, se difundem e se constituem como 
modelos. O leitor, além de estar numa posição totalmente assimétrica em 
relação ao poder da mídia, está também preso a uma gramática sem a qual 
sequer consegue decifrar seus conteúdos [Cf. Eco e Fabbri (1978)].
Na América Latina, a “teoria da recepção” se entrelaçou com teorias das
 mediações e pesquisas de audiência que passaram a ocupar um importante 
espaço nos estudos de mídia. Apesar do imenso poder que a mídia 
tradicional ainda desfruta, resta inconteste hoje que não existe 
audiência passiva e que o conteúdo da mídia pode, potencialmente, ser 
“lido” de múltiplas maneiras.
3.2 A produção social das notícias
Policing the Crisis – Mugging, the state, and law and order 
[Transformando a crise em questão de polícia – assalto de rua, o Estado e
 lei e ordem], é o resultado de um trabalho coletivo de mais de cinco 
anos do CCCS, desencadeado pela aplicação de penas consideradas elevadas
 a três jovens de diferentes origens raciais, acusados por crime de 
mugging, em Handsworth, Birmingham. O livro – longo, denso e complexo – 
responde a questões colocadas pela conjuntura política específica da 
Inglaterra nos anos 70, vale dizer, o período de construção e afirmação 
das políticas públicas neoliberais – simbolizado pela liderança de 
Margaret Thatcher – e tem como objetivo explícito ser “uma intervenção 
no campo da batalha das ideias” (Hall et alii, 1978a; p. x).
Policing the Crisis mescla análise conjuntural com discussão teórica e 
tenta mostrar como a cumplicidade dos meios de comunicação com o Estado,
 sobretudo em relação às questões de combate ao crime, transforma a 
crise de hegemonia numa questão de polícia, de lei e ordem. Tudo isso 
permeado por componentes racistas arraigados na cultura inglesa.
É dentro dessa problemática que um dos capítulos do livro, o terceiro, 
trata especificamente da “produção social das notícias”. O argumento 
apresentado é longo e complexo. Detenho-me apenas ao necessário à sua 
mínima compreensão.
Hall e seus colegas partem da afirmação de que “os mídia não relatam 
simplesmente e de uma forma transparente acontecimentos que são só por 
si ‘naturalmente’ noticiáveis. ‘As notícias’ são o produto final de um 
processo complexo que se inicia numa escolha e seleção sistemática de 
acontecimentos e tópicos de acordo com um conjunto de categorias 
socialmente construídas” [Hall et alii in Traquina, p. 224; em benefício
 da clareza foram feitas eventuais pequenas alterações na tradução 
portuguesa original do texto publicado em Traquina (1993)].
Entre o “conjunto de categorias socialmente construídas” destacam-se 
(a) a organização burocrática da mídia que produz as notícias em tipos 
específicos de categorias; (b) a estrutura de valores-notícia que ordena
 a seleção e a posição de determinadas ‘estórias’ dentro destas 
categorias; e (c) a construção da própria notícia que envolve a 
apresentação do item ao seu presumível público, em termos que, tanto 
quanto os apresentadores do item possam avaliar, o tornem compreensível a
 esse público. Isto significa reportar acontecimentos invulgares e 
inesperados para os ‘mapas de significado’ que já constituem a base do 
nosso conhecimento cultural, no qual o mundo social já está ‘traçado’ 
[idem, pp. 225-226, passim].
Em seguida são introduzidos os conceitos de definidores primários e 
secundários, consideradas “a ‘adequação’ entre as ideias dominantes e as
 ideologias e práticas da mídia” e também “a ‘relativa autonomia’ do dia
 a dia do jornalista e dos produtores de notícias em relação ao controle
 econômico direto” (ibidem, p. 228).
Hall e seus colegas afirmam que “a mídia não cria autonomamente as 
notícias; melhor, estão dependentes de assuntos noticiosos específicos 
fornecidos por fontes institucionais regulares e críveis”. Isso por dois
 aspectos da produção jornalística: as pressões práticas de trabalho 
constantes contra o relógio e as exigências profissionais de 
imparcialidade e objetividade. Em razão desses dois aspectos há um 
acesso exagerado à mídia, sistematicamente estruturado, por parte 
daqueles que detêm posições institucionalizadas privilegiadas. Dessa 
forma, a mídia tende a reproduzir simbolicamente a estrutura de poder 
existente na ordem institucional da sociedade. O resultado da 
preferência estruturada dada pela mídia à opinião dos poderosos é que 
eles se transformam nos “definidores primários” da matéria jornalística e
 os jornalistas profissionais em “definidores secundários” (ibidem, 
passim, pp. 228-229). Esta seria a estrutura básica dentro da qual as 
notícias são socialmente produzidas.
O capítulo explora ainda outros aspectos e se detém especificamente na 
cobertura de crimes – limite extremo de violação da lei e do consenso 
social – exemplificado na cobertura dos mugging que levaram à condenação
 dos jovens de Handsworth e onde se estabeleceu uma “relação recíproca” 
circular e mutuamente reforçada entre os definidores primários, a mídia e
 o judiciário até “fechar” ideologicamente a linguagem pública sobre o 
mundo do crime.
O capítulo é concluído com a reafirmação, em chave estruturalista e 
althusseriana, que “a articulação mútua entre as duas agências 
‘relativamente independentes’ [a cultura do poder/Tribunais/definidores 
primários e a ‘cultura de significação’/mídia] é, a essa altura, tão 
‘sobredeterminada’ que não pode funcionar de outra forma que não seja a 
de criar um ‘fechamento’ (closure) ideológico e controlador eficaz em 
torno do assunto. A essa altura, a mídia – embora involuntariamente e 
através de suas próprias vias ‘autônomas’ – transforma-se efetivamente 
num aparelho do próprio processo de controle – um aparelho ideológico do
 estado” (ibidem, pp. 247). [Apesar dessa chave estruturalista e 
althusseriana, Policing the Crisis apresenta uma defesa da posição 
gramsciana, sobretudo em seu último capítulo, “The Politics of 
‘Mugging’” onde se argumenta incisivamente contra o althusserianismo de 
Paul Hirst]
3.2.1 Uma publicação descontextualizada
O terceiro capítulo do Policing the Crisis aparece na coletânea de 
Nelson Traquina (1993) desvinculado do contexto em que foi produzido. 
Transforma-se em uma das teorias do jornalismo, mais especificamente em 
uma teoria estruturalista, ao lado de outras teorias como a 
organizacional e a construtivista. Na sua “Introdução” a esta parte da 
coletânea (Segunda Parte), Traquina destaca o papel central dos 
definidores primários, o grau de autonomia dos jornalistas e a rotina e 
ideologia profissionais do jornalista (Traquina, p. 140-141, passim).
Na verdade, as “categorias socialmente construídas” – a organização 
burocrática da mídia, os valores-notícia, os “mapas de significação”, as
 pressões práticas de trabalho, os critérios de imparcialidade e 
objetividade –, podem ser considerados dentro de uma vertente dos 
estudos de jornalismo, que veio a se consolidar, tanto na Inglaterra 
quanto nos Estados Unidos, como newsmaking ou produção/construção da 
notícia [Wolf, 1987; Parte 3, pp. 157-225]. Há semelhança entre as 
categorias de “definidores primários” e das “fontes oficiais” 
discutidas, por exemplo, no trabalho pioneiro de Leon Sigal, desde 1973.
 [Na perspectiva do newsmaking e apoiado em pesquisas pioneiras de Sigal
 (1973) e Gans (1979) sobre o papel determinante das “fontes oficiais” 
na rotina da produção de notícias, conferir a análise do jornalismo no 
Distrito Federal “Jornalismo Oficial: a Imprensa em Brasília” (Lima, 
1993).]
O capítulo de Policing the Crisis, no entanto, como já observamos, se 
situa dentro de um paradigma teórico radicalmente distinto, faz parte de
 um argumento muito mais amplo e, em relação à “construção das 
notícias”, sua conclusão reafirmava o papel da mídia como “aparelho 
ideológico do estado”.
3.2.2 Transposição acrítica
A publicação de Policing the Crisis e seu capitulo “A produção social 
das notícias”, provocou importante debate na Inglaterra, por suas várias
 implicações teóricas.
A suposta “autonomia relativa” e estrutural dos jornalistas, por 
exemplo, recebeu duras críticas de James Curran. Ele argumentou que se 
existe autonomia para o jornalista esta seria apenas uma “autonomia 
consentida”, vale dizer, permitida se exercida em conformidade com as 
regras definidas pela empresa jornalística (Curran, 1989).
Por outro lado, a perspectiva geral do newsmaking, apesar dos inúmeros 
avanços que representa e ressalvadas as não pequenas diferenças entre a 
formação histórica do jornalismo na Inglaterra (Curran e Seaton, 2010) e
 nos Estados Unidos (Schudson 1978/2010), tem também recebido críticas 
fundadas, da mesma forma que os mitos da objetividade e da 
imparcialidade profissional (Carey, 1974/1997; Albuquerque, 1998; 
Schudson, 1997; Moretzsohn, 2002).
Com relação à aplicação acrítica das categorias e pressupostos do 
newsmaking no Brasil [Albuquerque (1998) analisa criticamente a 
aplicação do paradigma da produção da notícia (newsmaking) no Brasil e 
aponta corretamente a necessidade de se avançar nos estudos sobre as 
organizações jornalísticas brasileiras. Embora se refira especificamente
 a Stuart Hall como uma das referencias teóricas do paradigma, 
Albuquerque não cita o capítulo de Policing the Crisis, cuja publicação 
original é de 1978 (20 anos antes) e nem a tradução publicada em 
Traquina, 1993], há pelo menos duas ressalvas importantes a se fazer.
Primeiro, a profissionalização do jornalismo brasileiro é bastante 
diferente daquela que ocorreu nos Estados Unidos e na Inglaterra. Além 
de muito recente, não compartilha o mesmo ethos profissional de 
“compromisso” com a objetividade e a imparcialidade identificado 
historicamente nesses países (Moretzsohn, 2002; Lavina, 2004).
Em segundo lugar, o pressuposto de que “a propriedade econômica da 
mídia está cada vez mais separada do controle diretivo pela dispersão 
crescente dos acionistas proprietários e de que os jornalistas tem um 
grau considerável de independência diante do controle supervisor” 
(Curran, 1990), simplesmente não se aplica ao Brasil.
As principais empresas jornalísticas brasileiras não são sociedades 
anônimas com ações ao portador negociadas em Bolsa de Valores e quadro 
diretivo eleito por acionistas majoritários. Ao contrário. Até a Emenda 
Constitucional nº 36 de 2002 [Até a EC nº 36 o texto do Artigo 222 da 
CF88 rezava: “A propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão 
sonora e de sons e imagens é privativa de brasileiros natos ou 
naturalizados há mais de dez anos, aos quais caberá a responsabilidade 
por sua administração e orientação intelectual. § 1º É vedada a 
participação de pessoa jurídica no capital social de empresa 
jornalística ou de radiodifusão, exceto a de partido político e de 
sociedades cujo capital pertença exclusiva e nominalmente a brasileiros.
 § 2º A participação referida no parágrafo anterior só se efetuará 
através de capital sem direito a voto e não poderá exceder a trinta por 
cento do capital social” (grifo nosso). O texto atual é o seguinte: 
“Artigo 222. A propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão 
sonora e de sons e imagens é privativa de brasileiros natos ou 
naturalizados há mais de dez anos, ou de pessoas jurídicas constituídas 
sob as leis brasileiras e que tenham sede no País. § 1º Em qualquer 
caso, pelo menos setenta por cento do capital total e do capital votante
 das empresas jornalísticas e de radiodifusão sonora e de sons e imagens
 deverá pertencer, direta ou indiretamente, a brasileiros natos ou 
naturalizados há mais de dez anos, que exercerão obrigatoriamente a 
gestão das atividades e estabelecerão o conteúdo da programação. § 2º A 
responsabilidade editorial e as atividades de seleção e direção da 
programação veiculada são privativas de brasileiros natos ou 
naturalizados há mais de dez anos, em qualquer meio de comunicação 
social. § 3º Os meios de comunicação social eletrônica, 
independentemente da tecnologia utilizada para a prestação do serviço, 
deverão observar os princípios enunciados no art. 221, na forma de lei 
específica, que também garantirá a prioridade de profissionais 
brasileiros na execução de produções nacionais. § 4º Lei disciplinará a 
participação de capital estrangeiro nas empresas de que trata o § 1º. § 
5º As alterações de controle societário das empresas de que trata o § 1º
 serão comunicadas ao Congresso Nacional” (grifo nosso).], consolidou-se
 aqui uma tradição legal de empresas jornalísticas familiares, com 
proibição de que pessoas jurídicas se tornassem até mesmo sócias dessas 
empresas.
Essa tradição vinha desde o Decreto nº 24.776 de 1934, passando pelo 
Código Brasileiro de Telecomunicações de 1962 e pela antiga Lei de 
Imprensa de 1967, até a Constituição de 1988. A intenção do legislador 
sempre foi responsabilizar legalmente os donos das empresas 
jornalísticas por eventuais calúnias, injúrias e difamações.
A consequência prática da norma, no entanto, é que os principais 
oligopólios privados de mídia no Brasil são, até os nossos dias, 
empresas familiares comandadas por proprietários zelosos, muitas vezes 
membros de oligarquias políticas e que nunca abriram mão do controle, 
tanto editorial quanto jornalístico, de suas empresas. [A suposta 
“autonomia relativa” de jornalistas também não é padrão nos grandes 
conglomerados globais multimídia que praticam uma linha editorial e 
jornalística unificada. A News Corporation de Rupert Murdoch constitui o
 exemplo clássico. Cf. Watson e Hickman (2012) e Davies (2014).] Basta 
conferir na nossa história política o grau de comprometimento desses 
oligopólios com tentativas e golpes de estado (Carvalho, 2010). Ademais,
 a parcialidade partidária e a ausência de objetividade da imprensa 
brasileira têm sido comprovadas pelo acompanhamento empírico da 
cobertura jornalística, sobretudo em períodos eleitorais [Conferir o 
trabalho coordenado pelo professor João Feres Júnior (LEMEP-UERJ) sobre a
 cobertura jornalística das eleições de 2014 no site “Manchetômetro” 
http://www.manchetometro.com.br/],
 além de terem sido assumidas publicamente em declaração da então 
presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ), em 2010 (Brito, 
2010).
 
Nos nossos dias, quando este texto estava sendo redigido, a ausência de
 autonomia do jornalista no Brasil ganhou mais um exemplo poderoso: o 
editor de cultura do jornal Estado de Minas dos Diários Associados 
viu-se obrigado a demitir-se, após 18 anos nessa empresa jornalística, 
por haver sido proibido de escrever sobre questões políticas (Amorim, 
2014), vítima de uma prática que se tornou rotineira na imprensa mineira
 (Carrato, 2014).
A aplicação, sem mais, de uma “teoria do jornalismo” retirada de seu 
contexto histórico e teórico, pode levar a omissões e distorções 
importantes na análise da prática do jornalismo, vale dizer, pode levar a
 conclusões distantes daquelas a que chegaram Hall e seus colegas do 
CCCS em Policing the Crisis.
3.3 A comunicação como campo (não) autônomo de conhecimento
Em 1986, a International Communication Association (I.C.A.), realizou 
seu encontro anual em Chicago sob o tema “Diálogo entre paradigmas: 
conexões” e convidou cinco personalidades acadêmicas para fazer as falas
 iniciais em torno das quais o debate se desenvolveria. Stuart Hall 
apresentou o trabalho “Ideology and Communication Theory”, mais tarde 
publicado em Rethinking Communications (1989). Desconheço que exista 
tradução desse instigante texto para o português.
Hall parte da constatação de que há uma crise do paradigma dominante 
behaviorista-empirista da pesquisa e da teoria em comunicação e 
identifica alguns de seus indicadores. O indicador desta crise sobre o 
qual ele mais se detém é aquele que chama de “esforço teórico para 
identificar processos, instituições e efeitos que podem de alguma 
maneira ser atribuídos à ‘comunicação’ como tal, separados das 
estruturas social, econômica, política e cultural nas quais os sistemas 
modernos de comunicação estão inextrincavelmente ligados (embedded)” [O 
A. fez a tradução livre das citações deste texto de Hall originalmente 
em inglês] [p. 42], vale dizer, a busca da pureza epistemológica para 
uma inalcançável teoria da comunicação.
Hall não nega a especificidade do campo da comunicação e reconhece que 
ele exige conceituação, teorização e trabalho empírico, mas afirma que 
há uma enorme diferença entre “a autonomia de uma disciplina de estudo 
pretensamente independente” e “o desenvolvimento de uma teoria dentro de
 um campo que chamaria de ‘regional’, isto é, o estudo dos efeitos reais
 e da estruturação interna de um domínio concreto de práticas onde – não
 obstante, a natureza de suas articulações com outras práticas no 
conjunto das relações sociais ou da formação social como um todo – não 
pode ser considerado como algo dado (be taken for granted)”. E 
prossegue: “Na minha visão a comunicação não é uma disciplina 
autossustentável. É uma teoria regional” [pp. 42-43].
Um pouco mais à frente Hall afirma que “a comunicação moderna não pode 
ser conceituada como externa ao campo das estruturas e práticas sociais 
porque ela é, de forma crescente, constitutiva internamente delas. Hoje 
as instituições e relações de comunicação definem e constroem o social; 
elas ajudam a constituir o político; elas mediatizam as relações 
econômicas produtivas; elas se transformaram em ‘uma força material’ nos
 modernos sistemas industriais; elas definem o tecnológico; elas dominam
 o cultural”. E conclui “o campo [da comunicação], no seu paradigma 
dominante, tem permanecido em grande parte teimosamente inocente 
sociologicamente” [pp. 43-44, passim].
3.3.1 A “inocência sociológica” brasileira
As implicações da posição defendida por Hall são enormes para os 
estudos de mídia, sobretudo no Brasil [Tenho insistido na necessidade de
 que a teoria da comunicação siga as recomendações de Hall e busque seu 
espaço dentro de “um campo teórico regional”. Cf. Lima 2001a, 2001b].
No que se refere às relações da comunicação na “construção do político”
 defendemos, no sentido apontado por Hall, que “a relação entre política
 e comunicação na Modernidade se organiza na ordem dos fundamentos. É 
insuficiente pensá-las através de uma relação interdisciplinar entre 
duas áreas de estudo que contém zonas de confluência. Não se trata, 
pois, de pensar as relações entre política e comunicação, mas do desafio
 de constituir um campo de pensamento no qual a própria política e a 
comunicação mútua e geneticamente se constituem em seus conceitos 
fundamentais. Política e comunicação são dimensões que não podem ser 
analiticamente isoladas sem se perder a compreensão do próprio objeto 
que se investiga” (cf. “Introdução” in Lima e Guimarães [orgs.], 2013, 
p. 10).
Ao contrário, boa parte do esforço intelectual que ainda se faz nos 
cursos de comunicação, dentro das estruturas rigorosamente 
departamentalizadas das universidades brasileiras, é a busca teórica de 
um objeto de estudo específico da própria comunicação. Texto publicado 
em coletânea sobre teorias da comunicação, afirma:
Seria um engano primário achar que a natureza interdisciplinar de um 
certo (sic) estudo poderia dispensar este trabalho de definição de seu 
objeto. Pelo contrário, ela exige um esforço redobrado, na medida em que
 este objeto tende, como no caso da Comunicação, a se confundir com o 
objeto de outras ciências. Na realidade, a afirmação peremptória da 
natureza interdisciplinar da Comunicação é, em grande parte, o 
testemunho paradoxal tanto da sobrevivência quanto da suposta superação 
de um problema que estranhamente resta pouco abordado, senão intacto: o 
problema da definição do objeto de estudo dessa disciplina [Martino in 
Hohlfeldt et alii, p. 28]. [Registro que, ao contrário de Stuart Hall, 
Paulo Freire mereceu um verbete no Dicionário de Comunicação – Escolas, 
Teorias e Autores. Cf. Lima (2014).]
O mesmo autor, em texto anterior, descartava a eventual contribuição do
 “pedagogo” Paulo Freire para a formação de uma “escola latino-americana
 de comunicação” argumentando que:
A teoria foi, e em grande medida continua sendo, o grande ponto fraco 
da produção latino-americana – de onde o paradoxo de classificá-la como 
uma escola. Uma prova disso é que autores de outras disciplinas 
frequentemente são apontados como pais fundadores ou como os grandes 
teóricos de nossa área. Paulo Freire, por exemplo, bastante reconhecido 
como pedagogo, acaba se tornando um dos quatro principais teóricos 
latino-americanos da comunicação, ainda que a real contribuição deste 
autor seja bastante discutível: sua visão humanista e filosófica da 
comunicação se deixa melhor expressar em uma teologia que toma o amor 
divino como fundamento e critério último da comunicação. Claro que isto 
só pode se dar com a entrada em cena de um conceito de comunicação com 
abrangência estratosférica e pouco propício à discussão científica 
[Martino, 2007; pp. 107-108].
Não é sem razão que, infelizmente, a produção intelectual no campo da 
comunicação fica muito aquém do desejado quando se trata da reflexão 
concreta sobre as complexas questões que o setor enfrenta, 
historicamente, no Brasil.
Hall, ao contrário da “pureza epistemológica”, argumentava em seu 
Ideology and Communication Theory, há quase trinta anos, sobre a 
inevitabilidade da articulação teórica da comunicação acontecer no campo
 regional “das estruturas e práticas sociais”. Vale notar, bem antes da 
revolução digital e da convergência de mídias.
4. Observações Finais
Nos anos 1970 e 80, Stuart Hall contribuiu decisivamente para deslocar 
os estudos de mídia dos paradigmas dominantes nos países anglo-saxões 
intelectualmente hegemônicos – tanto o behaviorismo positivista e 
empirista, quanto o economicismo do marxismo vulgar – para a complexa 
dinâmica da cultura contemporânea, palco privilegiado de construção das 
representações sociais e da disputa pelo poder.
Seu enorme legado intelectual deve ser celebrado embora, 
especificamente nos estudos de mídia brasileiros, não tenha exercido a 
influência que deve e merece, como tentei argumentar ao longo deste 
texto.
Na seção “Estudos Culturais e Comunicação” do verbete sobre Estudos 
Culturais Ingleses – cuja figura maior é Stuart Hall – do Dicionário de 
Comunicação (2014), Escosteguy escreveu:
Hoje, no contexto acadêmico brasileiro, as contribuições dos Estudos 
Culturais extrapolam o nicho da pesquisa de recepção, abrangendo, por 
exemplo, os estudos de culturas juvenis, de gêneros e formatos 
midiáticos, de relações entre música e mídia, de questões estéticas, 
entre outros [Escosteguy, 2014, p. 255].
Da mesma forma, Liv Sovik afirma que “dois textos de Stuart Hall marcam
 profundamente os estudos de Comunicação no Brasil. Um é o livro ‘A 
identidade cultural na pós-modernidade’, o outro o artigo 
‘Codificar/decodificar’ (sic). (...) O que não aparece em 
‘Codificar/decodificar’, é incidental em ‘A identidade cultural’ e passa
 sem muita discussão na área de Comunicação no Brasil, mas é central 
para a produção de Hall a partir dos anos 90, é a questão do racismo e 
da diáspora” (Sovik, 2010, pp. 1-2).
Seria possível afirmar, com James Curran, que o Stuart Hall dos 
primeiros trabalhos sobre a mídia, embora por diferentes razões, também 
foi “esquecido” no Brasil?
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