01/04/2015 - Copyleft
Boletim Carta Maior
Altamiro Borges
16 editoriais sobre o golpe militar de 1964
Estadão, Globo, Folha e outros jornais clamaram pelo golpe, aplaudiram a instalação da ditadura militar e elogiaram a sua violência contra os democratas.
Altamiro Borges
Na época, o imperialismo estadunidense, os latifundiários e parte da
burguesia nativa derrubaram o governo democraticamente eleito de João
Goulart. Naquela época, a imprensa teve papel destacado nos preparativos
do golpe. Na sequência, muitos jornalões continuaram apoiando a
ditadura, as suas torturas e assassinatos. Outros engoliram o seu
próprio veneno, sofrendo censura e perseguições.
Nesta
triste data da história brasileira, vale a pena recordar os editoriais
dos jornais – que clamaram pelo golpe, aplaudiram a instalação
da ditadura militar e elogiaram a sua violência contra os democratas.
No passado, os militares foram acionados para defender os saqueadores da
nação. Hoje, esse papel é desempenhado pela mídia privada, que continua
orquestrando golpes contra a democracia. Daí a importância de relembrar
sempre os seus editorais da época:
O golpismo do jornal O Globo
1.
“Salvos da comunicação que celeremente se preparava, os brasileiros
devem agradecer aos bravos militares que os protegeram de seus inimigos.
Este não foi um movimento partidário. Dele participaram todos os
setores conscientes da vida política brasileira, pois a ninguém escapava
o significado das manobras presidenciais”. O Globo, 2 de abril de 1964.
2.
“Fugiu Goulart e a democracia está sendo restaurada..., atendendo aos
anseios nacionais de paz, tranqüilidade e progresso... As Forças Armadas
chamaram a si a tarefa de restaurar a nação na integridade de seus
direitos, livrando-a do amargo fim que lhe estava reservado pelos
vermelhos que haviam envolvido o Executivo Federal. O Globo, 2 de abril
de 1964.
3.
“Ressurge a democracia! Vive a nação dias gloriosos... Graças à decisão
e ao heroísmo das Forças Armadas que, obedientes a seus chefes,
demonstraram a falta de visão dos que tentavam destruir a hierarquia e a
disciplina, o Brasil livrou-se do governo irresponsável, que insistia
em arrastá-lo para rumos contrários à sua vocação e tradições. Como
dizíamos, no editorial de anteontem, a legalidade não poderia ter a
garantia da subversão, a ancora dos agitadores, o anteparo da desordem.
Em nome da legalidade não seria legítimo admitir o assassínio das
instituições, como se vinha fazendo, diante da Nação horrorizada”. O
Globo, 4 de abril de 1964.
4. “A revolução democrática antecedeu em um mês a revolução comunista”. O Globo, 5 de abril de 1964.
Conluio dos jornais golpistas
5.
“Minas desta vez está conosco... Dentro de poucas horas, essas forças
não serão mais do que uma parcela mínima da incontável legião de
brasileiros que anseiam por demonstrar definitivamente ao caudilho que a
nação jamais se vergará às suas imposições”. O Estado de S.Paulo, 1º de
abril de 1964.
6.
“Escorraçado, amordaçado e acovardado, deixou o poder como imperativo
de legítima vontade popular o Sr João Belchior Marques Goulart, infame
líder dos comuno-carreiristas-negocistas-sindicalistas. Um dos maiores
gatunos que a história brasileira já registrou, o Sr João Goulart passa
outra vez à história, agora também como um dos grandes covardes que ela
já conheceu”. Tribuna da Imprensa, 2 de abril de 1964.
7.
“Desde ontem se instalou no país a verdadeira legalidade... Legalidade
que o caudilho não quis preservar, violando-a no que de mais fundamental
ela tem: a disciplina e a hierarquia militares. A legalidade está
conosco e não com o caudilho aliado dos comunistas”. Jornal do Brasil,
1º de abril de 1964.
8.
“Golpe? É crime só punível pela deposição pura e simples do Presidente.
Atentar contra a Federação é crime de lesa-pátria. Aqui acusamos o Sr.
João Goulart de crime de lesa-pátria. Jogou-nos na luta fratricida,
desordem social e corrupção generalizada”. Jornal do Brasil, 1º de abril
de 1964.
9. “Pontes de Miranda diz que Forças Armadas violaram a Constituição para poder salvá-la”. Jornal do Brasil, 6 de abril de 1964.
10.
“Multidões em júbilo na Praça da Liberdade. Ovacionados o governador do
estado e chefes militares. O ponto culminante das comemorações que
ontem fizeram em Belo Horizonte, pela vitória do movimento pela paz e
pela democracia foi, sem dúvida, a concentração popular defronte ao
Palácio da Liberdade”. O Estado de Minas, 2 de abril de 1964.
11.
“A população de Copacabana saiu às ruas, em verdadeiro carnaval,
saudando as tropas do Exército. Chuvas de papéis picados caíam das
janelas dos edifícios enquanto o povo dava vazão, nas ruas, ao seu
contentamento”. O Dia, 2 de abril de 1964.
12.
“A paz alcançada. A vitória da causa democrática abre o País a
perspectiva de trabalhar em paz e de vencer as graves dificuldades
atuais. Não se pode, evidentemente, aceitar que essa perspectiva seja
toldada, que os ânimos sejam postos a fogo. Assim o querem as Forças
Armadas, assim o quer o povo brasileiro e assim deverá ser, pelo bem do
Brasil”. O Povo, 3 de abril de 1964.
13.
“Milhares de pessoas compareceram, ontem, às solenidades que marcaram a
posse do marechal Humberto Castelo Branco na Presidência da
República... O ato de posse do presidente Castelo Branco revestiu-se do
mais alto sentido democrático, tal o apoio que obteve”. Correio
Braziliense, 16 de abril de 1964.
Apoio à ditadura sanguinária
14.
“Um governo sério, responsável, respeitável e com indiscutível apoio
popular, está levando o Brasil pelos seguros caminhos do desenvolvimento
com justiça social – realidade que nenhum brasileiro lúcido pode negar,
e que o mundo todo reconhece e proclama”. Folha de S.Paulo, 22 de
setembro de 1971.
15.
“Vive o País, há nove anos, um desses períodos férteis em programas e
inspirações, graças à transposição do desejo para a vontade de crescer e
afirmar-se. Negue-se tudo a essa revolução brasileira, menos que ela
não moveu o país, com o apoio de todas as classes representativas, numa
direção que já a destaca entre as nações com parcela maior de
responsabilidades”. Jornal do Brasil, 31 de março de 1973.
16.
“Participamos da Revolução de 1964 identificados com os anseios
nacionais de preservação das instituições democráticas, ameaçadas pela
radicalização ideológica, greves, desordem social e corrupção
generalizada”. Editorial de Roberto Marinho, O Globo, 7 de outubro de
1984.
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