A mídia alternativa está incomodando? Mas que ótimo sinal!
Escrito por: Daniel Quoist
Fonte: Brasil 247
Fonte: Brasil 247
A luta não é por meros R$ 0,03 por visitante único. É por uma mídia decente e plural
É no mínimo curiosa a abordagem do jornalista Fernando Rodrigues, do
UOL, sobre a destinação da publicidade do Governo aos meios noticiosos
em 2014.
Curiosa porque destaca a mídia por ele chamada alternativa como
sorvedouro do dinheiro público direcionado à propaganda, deixando nas
entrelinhas ser um mau negócio para o governo aplicar R$ 1.474.438 neste
Brasil 247 e R$ 209.629,00 no Diário do Centro do Mundo (DCM) enquanto
aplica somente R$ 14.683.519,00 no seu portal, o Uol, e R$ 13.514.359,00
no Portal G1 (Globo.com).
O ex-colunista da Folha de S.Paulo apresenta projeções também para os
"alternativos" Brasil de Fato, Luís Nassif, Carta Maior, PHA, Fórum,
Kennedy Alencar e Brasil Econômico. Para este artigo trato apenas do
Brasil 247 e do DCM versus Uol e G1.
No raciocínio de Rodrigues, direcionar propaganda para os alternativos
"não seria um bom negócio" para o Governo. É que ele busca respaldo de
seu raciocínio – a meu ver, torto – usando a velha matemática para
aferir o custo por "visitante único" a cada noticioso digital.
Segundo a empresa de medição de acessos Nielsen, considerando o
montante aplicado pelo governo federal (e suas empresas estatais)
saltaria aos olhos o seguinte: No Brasil 24/7 custaria R$ 0,15 por
visitante único enquanto no UOL esse custo baixaria para R$ 0,03; no DCM
o custo seria de R$ 0,02 e no G1 o custo seria igual ao do Uol, R$
0,03.
O que faltou combinar para dar razoabilidade à alentada matéria
"antimídia alternativa" é o tipo de jornalismo praticado pela mídia
tradicional bem representado pelo Uol/G1 e aquele realizado pela mídia
plural/progressista/alternativa como são considerados o 247/DCM.
Ora, um leitor com olhos calejados de ver quão podre pode ser a mídia
tradicional, oligopolizada, propriedade de meia dúzia de abastadas
famílias e que não tem outra missão salvo a de desejar pautar, a ferro e
a fogo, o debate público em temas tanto da política quanto da economia,
logo observa que tem algo de muito podre em tal mídia.
E ao constatar isso não abdicará de seu direito de acessar uma imprensa
plural, diversificada, com vários matizes do pensamento próprios de uma
sociedade moderna, complexa e cada vez mais conectada digitalmente. É
aqui que surge a importância imprescindível da mídia alternativa que
tanto parece incomodar Fernando Rodrigues.
Não são poucos os estudiosos da comunicação no Brasil que consideram
estar com os dias contados a mídia tradicional tal como temos hoje:
partidária de oposição a governos com viés de alta inclusão social,
ciosa de manter o status quo de seu perverso monopólio midiático,
patrimonialista e simpática a teses que se mostram conservadores embora
sejam em sua essência nada mais que obscurantismo e retrocesso
civilizacional.
Boa parte de estudiosos do tema são pragmáticos: jornais e revistas
impressas irão acabar simplesmente porque não têm como concorrer com o
avanço vertiginoso dos meios virtuais, aqueles em que as notícias são
atualizadas segundo a segundo, incluem vídeos, infográficos e imagens,
trazem entrevistas com personagens centrais envolvidos em algo que é
realmente notícia, que desperte o interesse público seja por sua
relevância, seja por seu ineditismo/raridade ou mesmo por sua
importância factual.
Mas voltemos ao raciocínio de Rodrigues.
De que adianta o governo federal pagar apenas R$ 0,03 ao Uol ou a G1 em
anúncios por visitante único que a este tenha acesso se a esmagadora
maioria do noticiário desses portais traz consigo aquele fétido defeito
de origem que é a parcialidade e o escancarado partidarismo político e
ideológico?
Avancemos mais.
Busquemos entender porque a Folha de S.Paulo, outrora um grande jornal,
tem se transformado em principal bastião diário a bater no governo
Dilma Rousseff tanto quanto bateu no governo Lula da Silva, a esconder
as malfeitorias de próceres da oposição, a se fingir de morta no
escândalo dos metrôs de São Paulo, a fazer uma pálida e quase
inexistente cobertura da CPI do HSBC e menos ainda da Operação Zelotes.
Mesmo um estudante de jornalismo mediano não teria qualquer dificuldade
de, ao cotejar edições da FSP de janeiro a junho de 2015, deparar com
verdadeiros libelos pela queda da presidente Dilma Rousseff, a torcida
cada vez mais escancarada por seu impeachment, claramente encampada por
seus novos e obtusos colunistas e também aqueles famosos boxes
informando dia, local e hora de participar de atos públicos contra a
presidente.
O mesmo se pode dizer da revista Época (Grupo Globo) que, muito
rapidamente, tornou-se irmã siamesa da revista Veja (Grupo Abril) ao
publicar reiterados factoides para atacar a honra do ex-presidente Lula
da Silva, do partido que ele fundou, o PT, e da sucessora que ele ajudou
a eleger e a reeleger, Dilma Rousseff.
Pergunta-se: por que cargas d´água deveria o governo injetar
publicidade em órgãos como a Folha de S.Paulo (que é dona do portal
Uol), em Época (que é dos mesmos donos do portal G1) ou em Veja (do
decadente Grupo Abril)?
Em todos os casos acima o governo só tem um retorno: o mal-estar, a
irritação e a crítica ácida de boa parte dos 54 milhões de eleitores que
em 2014 concederam um novo mandato à presidente Dilma Rousseff.
Todos estes clamam, dia a dia, em milhares de posts em redes sociais, e
já estão roucos de suplicar, que o governo simplesmente reduza ao
mínimo possível todo o aporte de recursos a título de publicidade
institucional direcionada à mídia tradicional.
É que boa parte do eleitorado da base dos partidos que apoiaram a
reeleição da presidente já descobriram que a mídia tradicional nada mais
é que o braço mais forte da claudicante oposição que temos, essa que
reúne maus perdedores como Aécio Neves, Aloysio Nunes, José Serra, José
Agripino, Ronaldo Caiado. E são esses maus perdedores que encontram
amplo respaldo midiático em suas investidas para inviabilizar o governo
federal.
Enquanto isso vemos, com redobrada satisfação, o crescimento do número
de visitantes únicos da chamada mídia alternativa em uma dúzia de seus
portais na internet. E se a mídia alternativa está incomodando só
podemos saudar isso como um ótimo, mais, um excelente sinal.
E mais, com o advento de veículos como o DCM, o 247, a Fórim e a Carta
Maior, voltamos a sentir o sabor dos velhos tempos, aqueles em que dava
gosto ler um texto bem escrito, bem embasado em fatos, com boas pitadas
de bom humor e sempre com pautas plurais.
Ou seja, tudo bem ao contrário do que a mídia publica dia sim e dia não
também: "só resta vir o impeachment", "a solução passa pela redução do
mandato da presidente", "Temer deve renunciar ao cargo de articulador
político", "a taxa de desemprego subiu bastante desde a última lua cheia
de ano impar da segunda metade do século 20", "vale a pena ler o que o
músico Lobão falou na última Flip", "o governo está mais frágil que
Jânio Quadros dois dias antes de anunciar a renúncia", "foi um erro o
financiamento ao porto cubano de Mariel", "Lula sabia, Dilma sabia: o PT
não presta mesmo".
Qualquer pessoa sã, lúcida e que se debruça sobre a cena política
nacional e seus desafios sabe muito bem que o governo tem apenas algumas
poucas opções:
1. Partir para cima do monopólio midiático fazendo uma rápida
reengenharia de como deverá ser destinada a sua publicidade,
privilegiando sempre os veículos que privilegiam a pluralidade de
pensamento, a imparcialidade ideológica e o não vínculo partidário;
2. Colocar em debate a regulamentação da mídia no Brasil, convocando
novas conferências nacionais para envolver o maior número possível de
pessoas e de associações populares em torno do assunto
3. Reforçar o seu apoio, com significativo aumento de publicidade
federal (incluindo das estatais) a todos os meios que hoje compõem a
mídia alternativa. E assim que surja muitos Brasil 247, muitos DCM,
muitos Viomundo, muitas Fórum, muitos GCN, muitas Carta Maior e por aí
vai.
Sim, a verdadeira luta, o verdadeiro debate que precisamos travar não é
por visitantes únicos a R$ 0,03 em grandes portais e, sim, por uma mídia
inclusiva e não partidarizada. E não será a diferença de centavos que
engendrará tal conquista para a sociedade brasileira
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