terça-feira, 7 de julho de 2015

As mídias: não há "a mídia"

A mídia alternativa está incomodando? Mas que ótimo sinal!

Escrito por: Daniel Quoist
Fonte: Brasil 247

A luta não é por meros R$ 0,03 por visitante único. É por uma mídia decente e plural

É no mínimo curiosa a abordagem do jornalista Fernando Rodrigues, do UOL, sobre a destinação da publicidade do Governo aos meios noticiosos em 2014.
 
Curiosa porque destaca a mídia por ele chamada alternativa como sorvedouro do dinheiro público direcionado à propaganda, deixando nas entrelinhas ser um mau negócio para o governo aplicar R$ 1.474.438 neste Brasil 247 e R$ 209.629,00 no Diário do Centro do Mundo (DCM) enquanto aplica somente R$ 14.683.519,00 no seu portal, o Uol, e R$ 13.514.359,00 no Portal G1 (Globo.com).
 
O ex-colunista da Folha de S.Paulo apresenta projeções também para os "alternativos" Brasil de Fato, Luís Nassif, Carta Maior, PHA, Fórum, Kennedy Alencar e Brasil Econômico. Para este artigo trato apenas do Brasil 247 e do DCM versus Uol e G1.
 
No raciocínio de Rodrigues, direcionar propaganda para os alternativos "não seria um bom negócio" para o Governo. É que ele busca respaldo de seu raciocínio – a meu ver, torto – usando a velha matemática para aferir o custo por "visitante único" a cada noticioso digital.
 
Segundo a empresa de medição de acessos Nielsen, considerando o montante aplicado pelo governo federal (e suas empresas estatais) saltaria aos olhos o seguinte: No Brasil 24/7 custaria R$ 0,15 por visitante único enquanto no UOL esse custo baixaria para R$ 0,03; no DCM o custo seria de R$ 0,02 e no G1 o custo seria igual ao do Uol, R$ 0,03.
 
O que faltou combinar para dar razoabilidade à alentada matéria "antimídia alternativa" é o tipo de jornalismo praticado pela mídia tradicional bem representado pelo Uol/G1 e aquele realizado pela mídia plural/progressista/alternativa como são considerados o 247/DCM.
 
Ora, um leitor com olhos calejados de ver quão podre pode ser a mídia tradicional, oligopolizada, propriedade de meia dúzia de abastadas famílias e que não tem outra missão salvo a de desejar pautar, a ferro e a fogo, o debate público em temas tanto da política quanto da economia, logo observa que tem algo de muito podre em tal mídia.
 
E ao constatar isso não abdicará de seu direito de acessar uma imprensa plural, diversificada, com vários matizes do pensamento próprios de uma sociedade moderna, complexa e cada vez mais conectada digitalmente. É aqui que surge a importância imprescindível da mídia alternativa que tanto parece incomodar Fernando Rodrigues.
 
Não são poucos os estudiosos da comunicação no Brasil que consideram estar com os dias contados a mídia tradicional tal como temos hoje: partidária de oposição a governos com viés de alta inclusão social, ciosa de manter o status quo de seu perverso monopólio midiático, patrimonialista e simpática a teses que se mostram conservadores embora sejam em sua essência nada mais que obscurantismo e retrocesso civilizacional.
 
Boa parte de estudiosos do tema são pragmáticos: jornais e revistas impressas irão acabar simplesmente porque não têm como concorrer com o avanço vertiginoso dos meios virtuais, aqueles em que as notícias são atualizadas segundo a segundo, incluem vídeos, infográficos e imagens, trazem entrevistas com personagens centrais envolvidos em algo que é realmente notícia, que desperte o interesse público seja por sua relevância, seja por seu ineditismo/raridade ou mesmo por sua importância factual.
 
Mas voltemos ao raciocínio de Rodrigues.
 
De que adianta o governo federal pagar apenas R$ 0,03 ao Uol ou a G1 em anúncios por visitante único que a este tenha acesso se a esmagadora maioria do noticiário desses portais traz consigo aquele fétido defeito de origem que é a parcialidade e o escancarado partidarismo político e ideológico?
 
Avancemos mais.
 
Busquemos entender porque a Folha de S.Paulo, outrora um grande jornal, tem se transformado em principal bastião diário a bater no governo Dilma Rousseff tanto quanto bateu no governo Lula da Silva, a esconder as malfeitorias de próceres da oposição, a se fingir de morta no escândalo dos metrôs de São Paulo, a fazer uma pálida e quase inexistente cobertura da CPI do HSBC e menos ainda da Operação Zelotes.
 
Mesmo um estudante de jornalismo mediano não teria qualquer dificuldade de, ao cotejar edições da FSP de janeiro a junho de 2015, deparar com verdadeiros libelos pela queda da presidente Dilma Rousseff, a torcida cada vez mais escancarada por seu impeachment, claramente encampada por seus novos e obtusos colunistas e também aqueles famosos boxes informando dia, local e hora de participar de atos públicos contra a presidente.
 
O mesmo se pode dizer da revista Época (Grupo Globo) que, muito rapidamente, tornou-se irmã siamesa da revista Veja (Grupo Abril) ao publicar reiterados factoides para atacar a honra do ex-presidente Lula da Silva, do partido que ele fundou, o PT, e da sucessora que ele ajudou a eleger e a reeleger, Dilma Rousseff.
 
Pergunta-se: por que cargas d´água deveria o governo injetar publicidade em órgãos como a Folha de S.Paulo (que é dona do portal Uol), em Época (que é dos mesmos donos do portal G1) ou em Veja (do decadente Grupo Abril)?
 
Em todos os casos acima o governo só tem um retorno: o mal-estar, a irritação e a crítica ácida de boa parte dos 54 milhões de eleitores que em 2014 concederam um novo mandato à presidente Dilma Rousseff.
 
Todos estes clamam, dia a dia, em milhares de posts em redes sociais, e já estão roucos de suplicar, que o governo simplesmente reduza ao mínimo possível todo o aporte de recursos a título de publicidade institucional direcionada à mídia tradicional.
 
É que boa parte do eleitorado da base dos partidos que apoiaram a reeleição da presidente já descobriram que a mídia tradicional nada mais é que o braço mais forte da claudicante oposição que temos, essa que reúne maus perdedores como Aécio Neves, Aloysio Nunes, José Serra, José Agripino, Ronaldo Caiado. E são esses maus perdedores que encontram amplo respaldo midiático em suas investidas para inviabilizar o governo federal.
 
Enquanto isso vemos, com redobrada satisfação, o crescimento do número de visitantes únicos da chamada mídia alternativa em uma dúzia de seus portais na internet. E se a mídia alternativa está incomodando só podemos saudar isso como um ótimo, mais, um excelente sinal.
 
E mais, com o advento de veículos como o DCM, o 247, a Fórim e a Carta Maior, voltamos a sentir o sabor dos velhos tempos, aqueles em que dava gosto ler um texto bem escrito, bem embasado em fatos, com boas pitadas de bom humor e sempre com pautas plurais.
 
Ou seja, tudo bem ao contrário do que a mídia publica dia sim e dia não também: "só resta vir o impeachment", "a solução passa pela redução do mandato da presidente", "Temer deve renunciar ao cargo de articulador político", "a taxa de desemprego subiu bastante desde a última lua cheia de ano impar da segunda metade do século 20", "vale a pena ler o que o músico Lobão falou na última Flip", "o governo está mais frágil que Jânio Quadros dois dias antes de anunciar a renúncia", "foi um erro o financiamento ao porto cubano de Mariel", "Lula sabia, Dilma sabia: o PT não presta mesmo".
 
Qualquer pessoa sã, lúcida e que se debruça sobre a cena política nacional e seus desafios sabe muito bem que o governo tem apenas algumas poucas opções:
 
1. Partir para cima do monopólio midiático fazendo uma rápida reengenharia de como deverá ser destinada a sua publicidade, privilegiando sempre os veículos que privilegiam a pluralidade de pensamento, a imparcialidade ideológica e o não vínculo partidário;
 
2. Colocar em debate a regulamentação da mídia no Brasil, convocando novas conferências nacionais para envolver o maior número possível de pessoas e de associações populares em torno do assunto
 
3. Reforçar o seu apoio, com significativo aumento de publicidade federal (incluindo das estatais) a todos os meios que hoje compõem a mídia alternativa. E assim que surja muitos Brasil 247, muitos DCM, muitos Viomundo, muitas Fórum, muitos GCN, muitas Carta Maior e por aí vai.
 
Sim, a verdadeira luta, o verdadeiro debate que precisamos travar não é por visitantes únicos a R$ 0,03 em grandes portais e, sim, por uma mídia inclusiva e não partidarizada. E não será a diferença de centavos que engendrará tal conquista para a sociedade brasileira

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